O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse esta terça-feira estar “muito preocupado” com os movimentos de tropas russas na fronteira com a Ucrânia, apelando a que o Kremlin “pare com as provocações” e desanuvie “imediatamente” as tensões.

“O aumento considerável do contingente militar da Rússia [na fronteira com a Ucrânia] é injustificado, inexplicável e profundamente preocupante. A Rússia deve parar com as provocações e desanuviar [as tensões] imediatamente”, sublinhou Stoltenberg.

O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês) falava numa conferência de imprensa conjunta com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, que se deslocou esta terça-feira à sede da Aliança, em Bruxelas, para participar numa reunião da comissão NATO-Ucrânia e reunir-se com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken. O principal motivo da deslocação prende-se com os movimentos de tropas russas, numa altura em que o Governo de Kiev alega que a Rússia concentrou 41.000 militares na sua fronteira com o leste da Ucrânia e outros 42.000 na Crimeia.

Sem adiantar números, Stoltenberg confirmou que, “nas últimas semanas”, Moscovo tem “movimentado milhares de tropas prontas para o combate para a fronteira com a Ucrânia“, destacando que se trata da “maior concentração de tropas russas desde a anexação ilegal da Crimeia em 2014″.

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“O apoio da NATO à soberania e à integridade territorial da Ucrânia é inabalável. Não reconhecemos, e não reconheceremos, a anexação ilegal e ilegítima da Crimeia pela Rússia. Continuamos a pedir à Rússia para que acabe com o seu apoio a militantes no leste da Ucrânia e para que retire as suas forças do território ucraniano“, sublinhou.

Questionado sobre como responde às acusações de que as manifestações de preocupação da NATO são só palavras e terão pouco impacto no terreno, Stoltenberg disse que, desde a anexação da Crimeia em 2014, a NATO forneceu um “apoio significativo à Ucrânia”, que se traduziu em ajuda no fortalecimento das suas “instituições de defesa e de segurança”, mas também “na modernização das suas Formas Armadas (…) através de treino, exercícios e participação em exercícios conjuntos”.

Argumentando assim que, desde então, a Ucrânia e a Aliança desenvolveram uma “parceria forte”, Stoltenberg referiu que a NATO também “aumentou a sua presença no Mar Negro” assim como na região dos Bálticos, tendo os Aliados “aumentado a preparação das suas forças” e o investimento em defesa.

“Tudo isto foi feito em resposta às ações agressivas da Rússia. E, em cima disso tudo, os aliados da NATO também impuseram, de maneiras diferentes, sanções económicas à Rússia. Portanto, este é um apoio que se demonstra não apenas em palavras, mas também em feitos”, sublinhou.

A seu lado, o chefe da diplomacia da Ucrânia, Dmytro Kuleba, defendeu que a Rússia “tem de perceber que a Ucrânia pertence ao mundo das democracias, ao mundo ocidental” e que o “Ocidente não irá permitir que a Rússia destrua a democracia e a soberania ucraniana”. “Esta é a mensagem, a mensagem muito clara e muito simples, que os nossos parceiros podem enviar à Rússia: a Ucrânia não pertence ao mundo russo e nunca será considerada como pertencendo”, apontou.

Uma semana após o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, ter assinalado que a “única maneira” de acabar com a guerra no leste da Ucrânia seria através da adesão à NATO, por enviar um “sinal real” à Rússia, Stoltenberg argumentou hoje que essa decisão “cabe aos 30 Aliados da NATO”, não tendo ninguém o “direito de intrometer-se ou interferir nesse processo”, numa alusão ao Kremlin que, após o pedido de Zelensky, afirmou que a adesão da Ucrânia iria “piorar a situação”.

“É um direito soberano de todas as Nações, como a Ucrânia, candidatarem-se à adesão, mas cabe aos 30 Aliados decidir quando é que essa adesão será oferecida. Este é um princípio importante, porque a Rússia está agora a tentar restabelecer uma espécie de esfera de influência, onde tentam decidir o que os vizinhos podem fazer”, frisou.

O secretário-geral da NATO disse que “esse é um mundo” que a NATO está “realmente a tentar deixar para trás” e, nesse sentido, “apoia veementemente o direito soberano da Ucrânia em candidatar-se” à Aliança e “decidir o seu próprio caminho”.

A deslocação à NATO ocorre numa altura em que as tensões entre Kiev e Moscovo no leste da Ucrânia estão a aumentar, numa região onde os separatistas russófonos e as forças ucranianas estão envolvidas num conflito desde a anexação por Moscovo da península da Crimeia, em março de 2014.

Ucrânia e Rússia têm-se acusado mutuamente por responsabilidade direta no aumento da intensidade do conflito e o Kremlin já admitiu que reforçou o contingente militar ao longo da fronteira entre os dois países, provocando reações de preocupação por parte da União Europeia e dos Estados Unidos.

O Kremlin argumenta que a Rússia tem todo o direito de deslocar tropas para qualquer zona do seu território, e tem acusado repetidamente os militares ucranianos de “ações provocatórias” ao longo da linha de controlo no leste e planos para retomar pela força as regiões controladas pelos rebeldes pró-russos.

O confronto armado entre as forças ucranianas e rebeldes apoiados pela Rússia no leste da Ucrânia já custou a vida de cerca de 14.000 pessoas, em sete anos, de acordo com a ONU.