O Instituto de Medicina Tradicional (IMT), uma empresa privada de formação em terapias alternativas, encerrou este mês ao fim de mais de duas décadas de atividade, deixando salários por pagar, propinas por restituir e certificados por emitir, de acordo com um conjunto de comunicações internas a que o Observador teve acesso.

“O IMT, que já se encontrava numa precária e difícil situação desde o ano 2017, viu os seus problemas financeiros agravados, de forma irrecuperável, com a pandemia que desde o ano passado vem devastando a nossa atividade“, lê-se num e-mail enviado por um dos responsáveis da instituição, Mário Rodrigues, a todos os estudantes no dia 6 de abril.

“Neste contexto, venho comunicar-vos o encerramento total e definitivo desta empresa, a que me vejo forçado por não ter outra alternativa, mostrando-se insustentável e impossível a manutenção da atividade da mesma”, acrescenta Mário Rodrigues, que dá conta do encerramento dos três centros de formação (em Lisboa, no Porto e em Braga) e da “inevitável cessação de toda e qualquer formação que se encontraria programada”.

Segundo um conjunto de comunicações internas trocadas entre alunos e funcionários do IMT a que o Observador teve acesso, o encerramento abrupto do IMT apanhou de surpresa todas as pessoas ligadas à instituição: há salários por pagar, certificados por emitir, estudantes que já avançaram propinas (que podem atingir os 3 mil euros) com cursos por concluir e estágios a meio. Ninguém sabe se vai reaver o dinheiro ou ter acesso às certificações.

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De acordo com as denúncias dos estudantes, na origem deste abrupto encerramento estarão divergências dentro da direção do IMT. A solução encontrada terá sido o fecho do instituto à revelia de alunos e formadores e a criação de uma nova empresa de formação com alguns dos membros da direção e formadores do IMT. Sem respostas por parte do instituto, os alunos estão a equacionar recorrer aos tribunais.

Nos dias que se seguiram àquele e-mail assinado por Mário Rodrigues, o IMT desapareceu do radar: o site está sem funcionar, a página do Facebook foi apagada, os telefones tocam sem que ninguém atenda e há quem tenha deixado de ter acesso às contas de e-mail oficiais da instituição. O Observador procurou contactar telefonicamente e por e-mail o IMT, mas ainda não obteve resposta.

Um grupo de alunos contactou a DGERT (Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho), organismo responsável por certificar as entidades privadas que oferecem formação profissional, que lhes confirmou já ter conhecimento do encerramento do IMT e lhes aconselhou a que recorressem às autoridades caso tivessem sido lesados nos seus interesses.

“Temos a informar que já tivemos conhecimento do encerramento do IMT – Instituto de Medicina Tradicional com o NIPC 503822868, não obstante é necessário aguardar pelo encerramento formal da empresa para que possam ser tidas em conta a(s) ação(ões) que decorrem das atribuições da DGERT em matéria de certificação de entidades formadoras”, lê-se na resposta.

“Esclarece-se ainda que todas as situações que lesem os devidos interesses quer de formandos quer de  formadores, resultantes do encerramento abrupto da empresa referida, poderão ser denunciadas às autoridades competentes para o efeito“, acrescentou a DGERT.

No e-mail, Mário Rodrigues não se comprometeu com a emissão dos certificados em falta — e a questão financeira nem sequer é abordada.

“O encerramento e extinção da empresa IMT são determinados com efeitos imediatos, sem prejuízo do respeito dos termos e garantias que se mostrarem legalmente devidas e da proteção dos vossos interesses para o que esta empresa se encontra, na medida do possível, a desenvolver esforços. Neste contexto, informo a todos os alunos que a empresa irá, no possível, tentar emitir a todos os respetivos certificados refletindo a vossa formação no IMT até ao momento“, lê-se na comunicação enviada no início de abril.

Nova escola anunciada no mesmo dia levanta suspeitas entre estudantes

No mesmo dia em que Mário Rodrigues enviou o e-mail confirmando o encerramento do IMT, os alunos do extinto instituto receberam uma outra mensagem de correio eletrónico convidando-os a inscreverem-se numa nova instituição, com o curioso nome IMITC (Instituto de Medicinas Integrativas e Terapias Complementares).

Vimos até vós para vos apresentar um novo projeto, que resultou da união de várias pessoas, algumas delas já vossas conhecidas. Este projeto nasceu porque não nos revemos na forma como foi efetuado o fecho do IMT, não houve consideração pelos seus colaboradores, formadores e sobretudo por vós, alunos. Esta situação apanhou-nos a todos de surpresa e, neste momento, estamos todos a encetar esforços para sermos uma alternativa para o término das vossas formações e para continuarem a investir na vossa formação continua”, lê-se nesse e-mail, que não é assinado nominalmente por ninguém.

“É um projeto novo, inovador, assente nos mais altos princípios de honestidade, empenho e dedicação que em muito caracteriza as pessoas aqui envolvidas. E assim nasce o Instituto de Medicina Integrativa e Terapias Complementares“, continua a mensagem, que promete um site e páginas nas redes sociais “nos próximos dias”.

O novo instituto promete continuar a formação que ficou a meio e até se oferece para “contactar o IMT para obter os certificados de equivalência” dos alunos que se quiserem juntar ao IMITC, de modo a poderem continuar os estudos.

Para os alunos que receberam este segundo e-mail poucas horas depois do primeiro, restaram poucas dúvidas de que poderia estar em causa um esquema suspeito.

O Instituto de Medicina Tradicional foi fundado no final da década de 1990. As primeiras formações tiveram início em maio de 1998 em parceria com uma associação espanhola, mas rapidamente o instituto ganhou dimensão em Portugal. Em outubro de 2000, abriu as primeiras instalações em Lisboa e começou a dar formação em acupuntura e massoterapia. Três anos depois, o IMT expandiu-se para o Porto e criou cursos de três e quatro anos.