De um lado, uma equipa cada vez mais elogiada por ser um autêntico muro. Do outro, uma equipa que tem sido várias vezes salva por um autêntico muro. Courtois e Hazard – a antiga referência em Stamford Brige que desde que chegou a Espanha tem estado mais tempo a lutar contra problemas físicos do que a brilhar nos relvados, como analisava o The Telegraph –, pelo passado comum que tiveram entre os dois conjuntos, surgiam como nomes incontornáveis nesta meia-final da Champions entre o último resistente da Superliga Europeia e o primeiro a abandonar a Superliga Europeia (tema que de forma inevitável continua na agenda do dia mesmo não tendo mais do que duas noites de existência, como lembrava o La Vanguardia). Ainda assim, era sobre a dificuldade em sofrer golos que se falava. E era sobre as fórmulas de marcar golos que se refletia. Este seria um duelo coletivo talhado para acabar em branco que procurava o desbloqueio no talento individual.

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Em 20 jogos com Thomas Tuchel, os ingleses não sofreram golos em 15 – e não fosse aquele pontapé fantástico de Taremi em Sevilha e a equipa teria atravessado os oitavos e os quartos da Liga dos Campeões sem sofrer golos. Não sendo assim por definição, o conjunto de Zidane transformou-se numa fotocópia nesta fase decisiva da temporada, levando uma série de quatro encontros sem consentir golos – mas a marcar apenas num. Mas nem sempre foi assim. Aliás, no caso do germânico, a perspetiva é diametralmente oposta porque o técnico que há cinco anos defendia o 3x1x2x4 porque o futebol atual devia apresentar em posse seis avançados tornou-se um jogo assente na solidariedade entre setores, no ter bola para defender melhor e na reação à perda, como frisava esta terça-feira o El País recordando aquilo que Tuchel defendia ainda enquanto técnico do B. Dortmund.

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Também os merengues, à sua maneira, não eram assim. Os números da defesa não eram tão bons como os atuais mas os números do ataque eram muito superiores aos que se registam nesta fase. E não, já não é apenas a falta de Cristiano Ronaldo ou o posicionamento mais isolado de Karim Benzema na frente – tem a ver com as características dos jogadores ofensivos da equipa, tem a ver com o envolvimento dos laterais, tem a ver com um meio-campo que joga de olhos fechados, que mantém a cabeça de sempre mas que não tem as pernas de outros dias. Nos tempos da formação que foi tricampeã europeia, era inevitável chegar a uma média de dois golos por jogo porque um estava garantido por Ronaldo e outro surgia de forma natural; agora, a média está longe dos dois golos por jogo porque Benzema garante apenas o que pode e a equipa nem sempre consegue atingir o que quer.

Na segunda parte, o encontro deu razão à análise dos “muros”: poucas oportunidades, ritmos de jogo adaptados a cada momento, algum desgaste físico bem visível pela intensidade colocada em campo. No entanto, e contra as perspetivas iniciais, os 45 minutos iniciais tiveram um verdadeiro jogo de Liga dos Campeões, com golos, com oportunidades falhadas, com vários momentos de qualidade. E foi nesse período que o Chelsea justificou o empate ou até algo mais em Madrid, saindo em vantagem para a segunda mão em Londres para a semana. Aliás, a exibição dos blues acabou por ser quase um elogio a tudo o que o FC Porto foi capaz de fazer nos quartos contra uma equipa que, em termos coletivos, é bem mais forte do que chegou a ser descrita na ronda anterior. E o grande destaque foi mais uma vez N’Golo Kanté, o mais pequeno (1,68m) que foi um gigante em campo.

Com um regresso à linha de três defesas, com Nacho, Éder Militão e Varane a promoverem um meio encaixe tático que só divergia na luta do meio-campo onde havia um Real com 1+2 entre Casemiro, Kroos e Modric sem tanta chegada como o 2+1 do Chelsea onde Mason Mount, com Jorginho e Kanté nas costas, tinha mais metros de subida com e sem bola, os visitados entraram com uma pressão alta a ter efeitos mas deixaram-se depois levar para a zona de conforto dos ingleses, que conseguiram recuperar várias bolas com a transição dos merengues descompensada para sair com perigo. Foi assim que Timo Werner, numa grande jogada que passou por Mount e Pulisic, desperdiçou a primeira grande oportunidade numa intervenção fabulosa de Courtois (10′). Foi assim que Pulisic inaugurou o marcador, num passe em profundidade para Pulisic onde os centrais contrários ficaram a olhar à espera de quem ia ao norte-americano e o avançado fintou o guarda-redes para o remate final (14′).

Chilwell ainda teria um remate perigoso de pé direito que cruzou toda a área sem desvio, Werner ainda surgiu duas vezes em lances ofensivos prometedores que terminaram com tentativas ao lado, mas Karim Benzema, de bola corrida e de bola parada, deu o mote para começar a soltar um pouco mais o Real para o jogo: primeiro foi ao meio-campo ganhar uma bola a Rüdiger, desenvolveu uma combinação com Vinícius Júnior e rematou forte de pé esquerdo de fora da área a fazer a bola bater ainda no poste (23′), depois fez mesmo o empate, num canto que passou pelos pés de Kroos e Modric até ao cruzamento de Marcelo, teve depois dois desvios de cabeça de Casemiro e Éder Militão e acabou num remate fortíssimo do francês sem hipóteses para Mendy (29′).

Na segunda parte, o ritmo da partida começou mais lento e o jogo perdeu alguma intensidade, com o Real a ter as mesmas dificuldades para ter posse com qualidade no meio-campo contrário e o Chelsea a encontrar mais dificuldades em aproveitar as transições apesar das inúmeras bolas recuperadas por Kanté em zonas um pouco mais adiantadas do terreno. A 25 minutos do final, era do banco que poderiam sair as soluções para desfazer o empate: Zidane trocou Vinícius Júnior (uma sombra a comparar com o jogo da primeira mão com o Liverpool) por Hazard, Tuchel alterou Ziyech e Havertz por Pulisic e Werner (além de render o lesionado Azpilicueta por James), Zidane mexeu novamente com as apostas em Odriozola e Asenso em vez de Carvajal e Marcelo. No entanto, entre um livre direto de Ziyech para defesa fácil de Courtois e um canto com desvio de cabeça ao lado de Varane, o resultado não voltaria a mexer, deixando tudo em aberto para Stamford Bridge.