Pelo menos 45 pessoas morreram durante uma peregrinação judaica no norte de Israel, em resultado de uma debandada em massa, segundo o mais recente balanço de organizações de socorro locais e fontes hospitalares.

“Contamos 38 mortos no local, mas há outros no hospital”, disse um porta-voz dos serviços de emergência da Magen David Adom (MDA), o equivalente israelita da Cruz Vermelha. Inicialmente, os serviços de emergência israelitas tinham anunciado que o acidente tinha feito “dezenas de feridos”, incluindo “20 em estado crítico”, tendo mais tarde informado que haveria “dezenas de mortes”.

Num novo balanço na rede social Twitter, a MDA acrescentou que o acidente provocou pelo menos uma centena de feridos, 44 dos quais em estado crítico e 18 com ferimentos graves.

A imprensa local tinha atribuído o acidente à queda de bancadas, mas os socorristas indicaram mais tarde que se terá tratado de uma debandada. As circunstâncias exatas que levaram ao acidente não são para já conhecidas. Um socorrista no local, Yehuda Gottleib, da organização United Hatzalah, disse que viu homens “a serem esmagados” e “a perder a consciência”.

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O Presidente israelita, Reuven Rivlin, disse estar a acompanhar a situação com muita preocupação e a rezar pelos feridos.

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Israel começou hoje a enterrar os seus mortos após uma debandada que provocou 45 vítimas mortais

Numa mensagem em hebreu na rede social Twitter, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, lamentou o “enorme desastre no Monte Meron”, apelando às pessoas para “rezarem para salvar os feridos”. Netanyahu deslocou-se para o local, onde, segundo o Times of Israel foi recebido com protestos.

“A tragédia de Monte Meron está entre as mais pesadas que o Estado de Israel já viu”, afirmou Netanyahu, citado pelo Jerusalem Post. “Houve cenas de partir o coração. Pessoas esmagadas até à morte, incluindo crianças. Muitos dos mortes ainda não foram identificados, por isso peço que evitem espalhar e acreditar em boatos nas redes sociais, porque isso prejudica as famílias”, acrescentou, decretando um dia de luto em memória das vítimas para domingo.

O primeiro-ministro israelita prometeu ainda uma “investigação abrangente, séria e detalhada” para impedir que volte a acontecer uma tragédia semelhante no futuro.

Dezenas de milhares de pessoas participavam na noite de quinta-feira para esta sexta-feira nesta peregrinação anual, que ocorre por ocasião do feriado judaico de Lag Baomer, em redor do presumível mausoléu do rabino Shimon Bar Yochai, um talmudista do século II da era cristã, ao qual é atribuída a redação do Zohar, obra central do misticismo judaico. As autoridades permitiram a presença de dez mil pessoas no recinto do túmulo, mas, segundo os organizadores, mais de 650 autocarros foram fretados em todo o país. A imprensa deu conta de 100 mil pessoas no local.

A polícia israelita tinha apelado aos participantes para “respeitarem as instruções para que as celebrações decorressem sem incidentes”. Cerca de cinco mil polícias foram destacados para a segurança do acontecimento.

De acordo com o relato de alguns sobreviventes, a polícia israelita bloqueou a saída do recinto. “Estávamos a sair, tudo estava a fluir, e de repente parou. Estávamos pressionados uns contra os outros e não entendíamos porquê. Levantei a cabeça e vi a polícia a bloquear a entrada”, disse um sobrevivente que se identificou como Zohar ao Channel 12, citado pelo Times of Israel.

Os socorristas utilizaram helicópteros para retirar os feridos, que foram transportados para hospitais em Safed e Nahariya, localidades no norte do país.

Em 2019, antes da pandemia que levou ao cancelamento do evento em 2020, 250 mil pessoas participaram na peregrinação, de acordo com os organizadores.

No final de Março, Israel reabriu bares e restaurantes e autorizou ajuntamentos públicos, após ter vacinado 80% da população com mais de 20 anos contra a Covid-19.

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Centenas de pessoas ficaram feridas na debandada

Solidariedade da comunidade internacional

A tragédia no Monte Meron levou vários líderes políticos a manifestarem solidariedade com Israel, entre eles o Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, que enviou uma mensagem de condolências ao seu homólogo israelita, Reuven Rivlin. “Foi com profunda consternação que tomei conhecimento das trágicas consequências do incidente ocorrido durante a peregrinação anual por ocasião do feriado judaico de Lag Baomer, no Monte Meron, e que provocou várias dezenas de mortes e mais de uma centena de feridos”, lê-se na mensagem, publicada no site oficial da Presidência da República.

Já o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, escreveu no Twitter que os seus pensamentos “estão com o povo de Israel” e desejou “força e coragem para ultrapassar este momento difícil”.

Em comunicado, a União Europeia expressou as “mais profundas condolências aos familiares e amigos das vítimas e ao povo de Israel”, e desejou rápidas melhoras aos feridos.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, falou em “cenas devastadoras” que chegam de Israel e disse estar solidário com os familiares das vítimas.

No mesmo sentido, o conselheiro de Segurança Nacional norte-americano, Jake Sullivan, lamentou uma “terrível tragédia” e manifestou as suas condolências aos familiares das vítimas.

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Os funerais das vítimas já começaram

Israel começa a enterrar os mortos

Nos bairros ultraortodoxos de Jerusalém de Bnei Brak, milhares de homens, com chapéus e casacos pretos sobre camisas opalinas, marcharam pelas ruas pouco antes do intervalo semanal do Shabat para o primeiro funeral das vítimas da debandada. . O pai de Elazar Goldberg, um israelita de 38 anos morto na tragédia, falou em Jerusalém para homenagear o filho.

“Pede aí em cima a Deus para proteger as tuas crianças”, lançou, antes que os seus familiares, por sua vez, pronunciassem a frase ritual: “Bendito sejas, juiz da verdade”, em frente aos restos de Elazar, coberto com um talit (xaile de oração).