A Aviação Civil grega negou esta quarta-feira categoricamente que tenha havido qualquer ameaça ao avião que no domingo passado voou de Atenas para Vilnius (Lituânia) quando foi desviado para a Bielorrússia. A Europa e os EUA, por sua vez, também já exigiram à Organização Internacional de Aviação Civil que investigue “urgentemente” as circunstâncias do desvio. E a Polónia já respondeu a Minsk, fechando o seu espaço aéreo a aviões da Bielorrússia.

Após a aterragem forçada em Minsk do voo comercial FR 4978 da companhia aérea Ryanair, o Governo do Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, disse que o desvio do aparelho se deveu a uma ameaça de bomba, o que a Aviação Civil grega considerou, esta quarta-feira, ser “completamente falso, inexistente e totalmente erróneo”.

De acordo com a organização, todas as verificações de segurança foram realizadas no aeroporto internacional de Atenas, de onde o avião descolou, incluindo aos passageiros, bagagem de mão e no porão, não tendo nenhum problema sido detetado.

A Aviação Civil da Grécia garantiu ainda que, desde a descolagem da aeronave e enquanto estava no espaço aéreo grego, nem a tripulação nem qualquer outra entidade informou que houvesse qualquer ameaça.

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Desde o desvio do avião da Ryanair, no domingo, a comunidade internacional tem exigido a libertação imediata do jornalista e opositor do regime bielorrusso Roman Protasevich, que foi detido durante a permanência do aparelho em Minsk, juntamente com a namorada, Sofia Sapega.

Em resposta ao sequestro do avião por Minsk, a União Europeia (UE) concordou em alargar as sanções contra o regime de Lukashenko, encerrando o espaço aéreo com aquele país e recomendando às companhias aéreas europeias que evitem o sobrevoo naquela região.

Europa e EUA exigem uma “investigação urgente” da Organização Internacional de Aviação Civil ao desvio do avião na Bielorrússia

Os membros europeus do Conselho de Segurança da ONU e os Estados Unidos, numa declaração conjunta, exigiram esta quarta-feira à Organização Internacional de Aviação Civil (ICAO) para investigar “urgentemente” as circunstâncias do desvio, domingo, de um avião comercial na Bielorrússia.

A declaração foi aprovada numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, em que os signatários consideram tratar-se de um incidente “sem precedentes e inaceitável” e que os responsáveis devem ser “responsabilizados”.

A Estónia, França, Irlanda, Noruega, Reino Unido e Estados Unidos, apoiados também por dois antigos membros do Conselho de Segurança, Alemanha e Bélgica, condenaram “veementemente” o incidente e exigiram a “libertação imediata” do “jornalista independente” Roman Protasevich e da sua namorada russa Sofia Sapega, ambos detidos em Minsk após o avião da Ryanair ter aterrado.

A reunião do Conselho de Segurança da ONU, que decorreu em formato virtual e à porta fechada, foi convocada com caráter de urgência pela Estónia, França e Irlanda.

A obrigação de o avião aterrar, “em bases falsas”, em Minsk, “põe em perigo a segurança da aviação”, acrescenta-se no comunicado.

“Estes atos constituem um flagrante ataque à segurança da aviação civil internacional e à segurança europeia e testemunham um flagrante desrespeito pelo direito internacional”, afirma o texto.

A declaração acontece na véspera da reunião do corpo diretivo da ICAO, se se encontrará quinta-feira de emergência para analisar o incidente.

“O presidente do Conselho da ICAO convocou uma reunião de emergência dos 36 representantes diplomáticos do Conselho para 27 de maio, após o incidente envolvendo o voo FR4978 da Ryanair no espaço aéreo da Bielorrússia”, publicou na rede social Twitter a agência, com sede em Montreal, no Canadá, sem mais pormenores.

A Bielorrússia sustenta que o avião, que fazia a ligação aérea entre Atenas e Vílnius, foi desviado domingo para Minsk após uma ameaça de bomba a bordo.

Fontes diplomáticas citadas pela agência noticiosa France-Presse (AFP) indicaram que os promotores da reunião do Conselho de Segurança não tentaram obter uma declaração conjunta do órgão, tendo em conta a oposição da Rússia.

Desde domingo que Moscovo tem dado apoio explícito à Bielorrússia.

Durante a reunião do Conselho, o vice-embaixador russo, Dmitry Polyanskiy, usou a frase “notícias falsas” para descrever a forma como europeus e norte-americanos têm tratado o assunto, e reafirmou o apoio da Rússia às explicações de Minsk.

Recordando que vários países já tomaram medidas sancionatórias contra a Bielorrússia, os signatários da declaração indicaram, sem pormenorizar, que irão intensificar os esforços, nomeadamente coordenando as políticas de sanções, “para garantir que as autoridades bielorrussas assumam a responsabilidade pelas suas ações”.

Polónia interdita espaço aéreo aos aviões bielorrussos

A Polónia decidiu já interditar o espaço aéreo aos aviões bielorrussos, no âmbito das sanções europeias, indicou esta quarta-feira o porta-voz do Governo polaco.

“O Conselho de Ministros pronunciou-se a favor de uma interdição de entrada no espaço aéreo polaco a aviões utilizados pelas companhias (aéreas) da Bielorrússia”, escreveu Piotr Muller na rede social Twitter.

A Polónia partilha uma longa fronteira com a Bielorrússia, pelo que a interdição afeta os voos das companhias aéreas bielorrussas, em que a principal, a de bandeira, Belavia, fica impossibilitada de voar para a Europa.

Também esta quarta-feira, os três países bálticos, dois deles com fronteira com o território bielorrusso, impuseram vários graus de limitação ao tráfego aéreo de e para a Bielorrússia, na sequência do desvio, domingo, de um avião da Ryanair para Minsk.

A Letónia e a Lituânia encerraram o espaço aéreo a todo o tráfego da Bielorrússia e exigiram às companhias aéreas que evitem sobrevoar território bielorrusso, suspendendo também os direitos de aterragem e uso do aeroporto à companhia aérea Belavia, a empresa nacional do país vizinho.

A Estónia, o único dos três estados bálticos sem fronteira com a Bielorrússia, adotou uma postura mais suave, desencorajando a utilização do espaço aéreo bielorrusso por transportadoras que operam no país mais setentrional da região.

No entanto, mantém o espaço aéreo estónio aberto para a Belavia e outros operadores de aviação bielorrussos, disse à agência noticiosa espanhola EFE o porta-voz da Administração de Transporte da Estónia, Tarmo Ots.

As medidas tomadas pelos países bálticos estão em linha com as restrições ao tráfego aéreo com a Bielorrússia aprovadas segunda-feira numa reunião de emergência da União Europeia (UE).

Os líderes europeus pediram às companhias europeias para evitarem o espaço aéreo bielorrusso, banindo também as transportadoras da Bielorrússia na Europa, depois de, em Minsk, após o desvio do avião, as autoridades locais terem detido um jornalista associado à oposição.

Roman Protasevich, de 26 anos, é o ex-chefe de redação do influente canal Nexta, que se tornou a principal fonte de informação nas primeiras semanas de protestos antigovernamentais após as eleições presidenciais de agosto de 2020.

A Bielorrússia atravessa uma crise política desde as eleições de 9 de agosto de 2020, que segundo os resultados oficiais reconduziram o Presidente, Alexander Lukashenko – no poder há mais de duas décadas – para um sexto mandato, com 80% dos votos.

A oposição denunciou a eleição como fraudulenta e reivindicou a vitória nas presidenciais.

Desde então, o país testemunhou uma vaga de protestos populares para exigir o afastamento de Lukashenko, manifestações conduzidas pela oposição que têm sido reprimidas com violência pelas forças de segurança da Bielorrússia.

Minsk acusa Paris de “pirataria” por negar espaço aéreo a avião da companhia estatal

A Bielorrússia acusou esta quarta-feira França de “pirataria aérea” por negar a passagem pelo espaço aéreo francês de um avião da Belavia Belarusian Airlines que partiu de Minsk, capital bielorrussa, em direção a Barcelona, em Espanha.

“É um facto absolutamente escandaloso e um ato imoral. Honestamente, é praticamente pirataria aérea”, disse, em comunicado, o porta-voz da diplomacia bielorrussa, Anatoly Glaz.

Nota divulgada pela Belavia dá conta de que as autoridades de aviação francesas “desativaram manualmente o plano de voo” poucos minutos depois da descolagem e não notificaram a companhia aérea.

Também esta quarta-feira, um voo da Air France, entre Paris, capital francesa, e Moscovo, capital da Rússia, foi “adiado” por causa das crescentes tensões entre Minsk e a comunidade internacional.

“O voo está, nesta fase, adiado para 27 de maio (quinta-feira) e uma nova avaliação vai ser feita na noite de hoje”, explicitou à France-Presse (AFP) um porta-voz da companhia aérea francesa.

De Portugal aos Estados Unidos, vários países condenaram e ameaçaram a Bielorrússia com sanções.

A União Europeia decidiu na terça-feira encerrar o espaço aéreo dos Estados-membros a aviões da Belavia na sequência das detenções de Protasevich e da namorada.

O opositor, que conseguiu utilizar várias plataformas para contornar Minsk e fazer frente ao regime, foi visto pela última vez na segunda-feira a dizer que estava a colaborar com as autoridades e a “fazer uma confissão”, através de um vídeo transmitido pela televisão pública bielorrussa.

Minsk diz que havia uma ameaça de bomba credível a bordo do avião desviado, mas tudo indica que não passou de um engodo para conseguir a detenção de Roman Protasevich.

O Kremlin está a apoiar o regime do Presidente, Aleksandr Lukashenko.

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