O Presidente da República defendeu esta quarta-feira que se deve mudar a matriz de risco que tem servido de base para o processo de desconfinamento, face à crescente taxa de imunidade da população portuguesa contra a Covid-19.

Em declarações aos jornalistas, após visitar uma exposição no Museu das Artes de Sintra, no distrito de Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a assinalar que os novos casos de infeção já não se estão a projetar em números de internamentos, cuidados intensivos e mortes como anteriormente.

Questionado se considera que este é o momento para criar uma nova matriz de risco, que não tenha apenas em conta o índice de transmissão e a incidência de novos casos por 100 mil habitantes, o chefe de Estado respondeu: “Eu sempre achei isso, mas sempre respeitei a opinião dos especialistas e a decisão do Governo“.

Aparentemente, há especialistas que, de forma crescente, dizem que é preciso ir começando a repensar, e o Governo também já disse que é preciso estudar e repensar. Por uma razão muito simples: o mundo vai abrir, nós vamos regressando a uma atividade mais normal, mais cedo ou mais tarde”, referiu.

Segundo o Presidente da República, é expectável, “pela circulação das pessoas que vêm de vários espaços, um aumento do número de casos” de infeção “durante um tempo”.

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No entanto, “se houver uma taxa de imunidade cá dentro apreciável, há um momento a partir do qual não há razões em termos de vida e de saúde que justifiquem parar a economia e a sociedade indefinidamente”, argumentou.

“A vida tem de continuar, por muito que nós sejamos sensíveis a algumas vidas e alguns casos de saúde que existam, a vida tem de continuar e vai continuar nos próximos meses e nos próximos anos, como aconteceu com outras epidemias, embora não tão duradouras e não tão complexas como esta pandemia”, acrescentou o chefe de Estado.

Marcelo Rebelo de Sousa rejeitou qualquer ligação entre uma mudança da matriz de risco e o aumento de casos de infeção com o novo coronavírus em Lisboa: “Não, não se trata de encontrar uma maneira artificial de fugir à aplicação de critérios. Não, trata-se é de fazer uma ponderação à luz de dados novos”.

“E os dados novos são estes: temos esta quarta-feira acima dos 80 [anos] praticamente todos vacinados, acima dos 70 praticamente todos, acima dos 60 praticamente todos, acima dos 50 um número muito significativo. Vai passar a ser acima de 40 e acima de 30”, apontou, defendendo que se deve “olhar com outros olhos, porque a realidade é diferente”.

O chefe de Estado afirmou que continuará a “apelar aos jovens para serem sensatos no seu comportamento”, mas aconselhou a “não se entrar num alarmismo que não tem justificação, uma vez que a vacinação vai indo a um ritmo tão intenso que permite evitar aquilo que aconteceu em vagas que conhecemos”.

O Presidente da República insistiu que, na avaliação da situação da Covid-19, há que conjugar o índice de transmissão e a incidência de novos casos por 100 mil habitantes com a pressão sobre os serviços de saúde em termos de internamentos e cuidados intensivos e o número de mortes.

Marcelo Rebelo de Sousa frisou que “há uma grande diferença entre este ano e o ano passado” devido ao avanço do processo de vacinação, com “milhões de pessoas vacinadas” e os grupos de risco progressivamente imunizados.

Em Portugal, já morreram mais de 17 mil doentes com Covid-19 e foram contabilizados até agora mais de 846 mil casos de infeção, de acordo com a Direção-Geral da Saúde (DGS).

Na sexta-feira, o Presidente da República irá participar na 21.ª sessão com especialistas sobre a situação da Covid-19 em Portugal, juntamente com o primeiro-ministro, presidente da Assembleia da República e representantes dos partidos com assento parlamentar.