Pouco tempo depois de o Governo anunciar as novas medidas para travar a propagação da Covid-19 na região de Lisboa e Vale do Tejo — como a alegada aceleração da vacinação –, o presidente da Câmara do Porto reagiu, mas um dia depois voltou a falar sobre o assunto. Afirma que “houve provavelmente um recuo ou um aclaramento por parte do Governo”, uma vez que, contrariamente ao anunciado, o calendário de vacinação apresentado já tinha sido definido para todo o território nacional. Ainda assim, Rui Moreira não abranda as críticas ao Executivo de António Costa.

“Não é naturalmente aceitável que na matéria de vacinação, que é um assunto muito sério, se estejam a criar critérios territoriais. Se entenderem que devem ser criados, então já o deveriam ter feito. Houve problemas noutras cidades do país e não se percebeu que não tivesse havido igual preocupação. O país é uno, temos todos os mesmo direitos.”

Rui Moreira considera ser “inaceitável que subitamente se crie uma situação de verdadeira exceção” em Lisboa

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O autarca admitiu que o Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, lhe ligou esta terça-feira à noite a justificar-se, dizendo que tinha existido “uma interpretação errónea da comunicação social” sobre o que tinha anunciado. “Infelizmente fui ver aquilo que estava no site do Governo e neste caso estou do lado da comunicação social”, sublinha Rui Moreira.

Outra questão que parece incomodar o independente é a falta de diálogo do Governo e das autoridades de saúde com a câmara do Porto, ao contrário do que, segundo Moreira, acontece na capital, principalmente depois de o município ter disponibilizado em fevereiro passado um drive-thru no Queimódromo, com capacidade para vacinar até duas mil pessoas por dia, e que ainda não foi aprovado pelo ministério da Saúde para poder funcionar. “Continuamos a não ser ouvidos e continua a não haver connosco diálogo. Também aí sentimos que há dois pesos e duas medidas. Em Lisboa, e bem, fala-se com a câmara municipal, aqui e noutros sítios ignora-se a posição das câmaras.”

Para Rui Moreira não há dúvidas de que o Norte e o resto do país são tratados pelo Executivo de forma diferente relativamente a Lisboa. “O Norte e o resto do país são tratados de maneira diversa relativamente à capital, essa tem sido a minha luta há muitos anos e temos aqui um caso de absoluta evidência. Estas medidas que estão agora a ser flexibilizadas para Lisboa nunca foram flexibilizadas para outras zonas do país.”

Lisboa, afinal, não vai ser exceção. Vacinação para maiores de 30 e 40 arranca na mesma altura em todo o país

Depois de ter visitado o estado das obras do Matadouro Industrial de Campanhã, o autarca diz ainda não concordar com o mapa de cores que baliza as medidas de desconfinamento no território nacional. “Não me conformo com esta questão do mapa aà cores. (…) Braga anunciava-se ontem que estava em risco de ter de confinar, mas subitamente, como há um problema em Lisboa, mexe-se a linha vermelha e para mexer a linha vermelha desta maneira, então que nos deem competências.

Moreira reclama mais competências locais e adianta que se não vê razões para os restaurantes e as lojas fecharem tão cedo. “Se a mim me derem competências, não vejo nenhuma razão para os restaurantes da cidade do Porto, por exemplo, terem de fechar às 22h30. Fechar a esta hora aumenta a concentração de pessoas e, além disso, prejudica a atividade económica. Também entendo que as lojas nos centros comerciais devem estar abertas até mais tarde.”

Sobre a final da Liga dos Campeões, marcada para o próximo sábado no Estádio do Dragão, recorda que a câmara “não é organizadora do evento”, mas colocou elementos da Polícia Municipal, Proteção Civil e Bombeiros ao dispor da PSP, do Governo e das autoridades de saúde. Rui Moreira garante que a iniciativa “é uma boa notícia” para a económica local e acredita que os adeptos tenham um comportamento adequado face à situação pandémica. “Também não podemos querer ter turistas e não os ter, a nossa cidade deve ficar contente. Temos que confiar nas autoridades responsáveis que estão a tratar do assunto como este deve ser tratado.”