O magnata dos media de Hong Kong Jimmy Lai foi esta sexta-feira condenado a mais 14 meses de prisão, por participar em 2019 numa manifestação proibida, no 70.º aniversário da fundação da República Popular da China.

O fundador do jornal Apple Daily, muito crítico do governo, já tinha sido condenado em 16 de abril a 14 meses de prisão, pelo envolvimento em mais duas manifestações em 2019, ano em que o território foi abalado por protestos sem precedentes.

De acordo com a agência de notícias France-Presse (AFP), com as duas penas combinadas, o empresário, que se declarou culpado, deverá cumprir 20 meses de prisão, por determinação do tribunal. Além de Lai, sete figuras do movimento pró-democracia foram igualmente condenadas a novas penas, incluindo Figo Chan, um jovem militante de 25 anos, e os antigos deputados Lee Cheuk-yan e Leung Kwok-hung.

Em 1 de outubro de 2019, Dia Nacional da China, as forças da ordem entraram em confrontos violentos com manifestantes radicais, à margem do protesto pacífico em que os ativistas condenados participaram, com relatos, na altura, de disparos da polícia.

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A grande afluência à manifestação foi vista como uma bofetada ao governo chinês, durante as celebrações do 70.º aniversário da China comunista. “Foi ingénuo acreditar que um apelo a uma conduta pacífica e racional seria suficiente para garantir que não haveria violência”, disse a juíza Amanda Woodcock, ao proferir as condenações dos oito ativistas.

O recurso ao crime de participação em “assembleia ilegal” para impedir o direito de reunião tem sido denunciado por associações de direitos humanos.

Jimmy Lai enfrenta ainda mais duas acusações ao abrigo da lei da segurança nacional, incluindo por “conluio com forças estrangeiras“, alegadamente por defender sanções contra dirigentes de Pequim e de Hong Kong. O multimilionário é também acusado de “conspiração para obstrução à justiça“, por alegadamente ter auxiliado Andy Li, um dos 12 ativistas de Hong Kong capturados na China em 2020, quando tentavam fugir para Taiwan, num grupo que incluía um luso-chinês.

O receio dos habitantes de Hong Kong de serem julgados na China continental, ao abrigo de um projeto de lei da extradição apresentado em 2019, desencadeou os gigantescos protestos que se prolongaram durante vários meses no território semi-autónomo.

O projeto acabaria por ser retirado, mas Pequim aprovou em 30 de junho de 2020 uma lei da segurança nacional, com penas que podem chegar à prisão perpétua, levando vários ativistas a refugiar-se no Reino Unido e Taiwan, para onde fugiram muitos manifestantes em busca de asilo.

A lei foi criticada pela União Europeia, Estados Unidos e a Organização das Nações Unidas (ONU), por violar o princípio “Um país, dois sistemas”, acordado na transferência de Hong Kong, em 1997, garantindo à antiga colónia britânica liberdades desconhecidas no resto da China.