Fitando os apelos do Vaticano, os bispos católicos dos Estados Unidos da América deram luz verde à redação de uma declaração que, no limite, pode ser usada como justificação para recusar a Joe Biden a possibilidade de comungar. Tudo porque o presidente dos EUA é a favor do direito de a mulher interromper voluntariamente a gravidez.

Depois de um debate online que durou três dias, a Conferência Episcopal dos Estados Unidos (em inglês, United States Conference of Catholic Bishops) aprovou — com 168 votos a favor, 55 contra e seis abstenção — a redação de um documento sobre o “significado da Eucaristia na vida da Igreja”, que orientará os bispos sobre como lidar com políticos católicos que defendam publicamente ideias que colidam com a doutrina eclesiástica, como o direito ao aborto. Por detrás da iniciativa estão bispos mais conservadores, que querem deixar escrito que os políticos católicos que reconheçam o direito ao aborto não devem poder comungar.

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Mas a ideia de banir Biden da Eucaristia não é consensual — como, aliás, mostram os resultados da votação. E, de facto, o novo documento, que será redigido pelo comité de doutrina dos bispos dos EUA, não será vinculativo, dado que cada bispo tem a liberdade de decidir quem pode ou não receber a comunhão na sua diocese.

Essa possibilidade já impediu, aliás, Joe Biden de comungar (pelo menos) uma vez. Em 2019, um padre da Igreja Católica de Santo António em Florence, na Carolina do Sul, negou ao então candidato presidencial a comunhão, justificando com a posição de Biden em relação ao aborto.

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Segundo o The New York Times, alguns conservadores querem usar a declaração como uma justificação “teológica” para rejeitar a comunhão a Biden e a outros políticos católicos que defendam o direito ao aborto. A decisão, a avançar, não tem o aval do Vaticano, que já mostrou desagrado em relação à intenção. “Uma política desse género, devido à sua possível natureza contenciosa, poderia ter o efeito oposto e tornar-se numa fonte de discórdia em vez de unidade dentro do episcopado e da Igreja em geral nos EUA”, disse, em maio, o Vaticano numa carta enviada à conferência episcopal norte-americana, assinada pelo cardeal Luis Ladaria, o homem forte do Papa Francisco para a doutrina católica.

Católico, Joe Biden é também um defensor do direito da mulher em interromper voluntariamente a gravidez, o que lhe tem valido críticas dos setores mais conservadores dos EUA, nomeadamente da Igreja.

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Questionado na sexta-feira, Joe Biden respondeu que não acredita que a ideia vá avante. “É um assunto privado e não acho que vá acontecer”, afirmou. A declaração deverá ser votada em novembro e, para avançar, tem de ter pelo menos dois terços dos votos favoráveis.