Sossego, silêncio e uma cidade mais limpa. Mais de um ano depois de o turismo ter travado bruscamente por causa da pandemia, os habitantes de Amesterdão só querem receber turistas com moderação. Por isso mesmo, a cidade está a dirigir um apelo direto a quem a quiser visitar: “Visitantes que tratem mal os nossos habitantes e o nosso património não são bem vindos. A mensagem que temos para eles é: não venham para Amesterdão”.

A frase é retirada diretamente de um comunicado da autarquia da capital dos Países Baixos, citado pela CNN. E o objetivo é claro: Amesterdão quer reduzir e redefinir o tipo de turismo que recebe, colocando mais o foco nos aspetos culturais da cidade e menos na tolerância ao consumo de canábis ou as visitas ao Red Light District, o famoso bairro de prostituição holandês.

O texto do município é específico: “Não queremos voltar ao que víamos antes da pandemia, quando grandes multidões iam para o Red Light District e para as áreas de entretenimento causar incómodo aos habitantes”. Se os visitantes que respeitam a cidade e a população “sempre foram bem vindos e continuarão a sê-lo”, os outros “não são bem vindos”, esclarece a cidade.

A ideia é mesmo “estimular o comportamento desejado”, diz à CNN Geertrude Udo, diretora executiva da empresa responsável pela campanha de marketing online que a autarquia está a dirigir aos turistas e que custou cem mil euros. “São bem vindos, mas bebam no interior, usem um urinol e não façam barulho”.

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A campanha tem por alvo especificamente homens britânicos entre os 18 e os 34 anos — um dos grupos que mais visitam a cidade –, mas será alargada a outras faixas e nacionalidades. Até porque em 2019 já tinha sido lançada outra campanha semelhante, que mencionava, por exemplo, a existência de multas de 140 euros para quem urinasse em público ou perturbasse a ordem da cidade — e 45% dos turistas britânicos disseram que ganharam consciência desses problemas graças à campanha.

O problema não é de agora, embora a acalmia que resultou das restrições pandémicas possa ter ajudado a dar-lhe maior visibilidade. Em 2019, Amesterdão recebeu 20 milhões de turistas, 18,8 dos quais ficaram a dormir na cidade.

Números como estes já tinham motivado o economista Martjim Badir a lançar uma petição, no verão passado, a pedir medidas mais duras que vão além do marketing e que passariam, por exemplo, por impor um limite de 12 milhões de turistas a dormir na cidade em simultâneo — a petição reuniu 30 mil assinaturas.

Amesterdão admite proibir consumo de canábis por turistas

No ano passado, ainda antes de a covid-19 ter chegado em força à Europa e depois de um inquérito aos jovens turistas ter indicado que mais de metade decide visitar a cidade para experimentar os locais onde se consome canábis, a autarquia ponderou proibir o consumo aos turistas nas famosas coffee shops, que a vendem em pequenas quantidades.

O “Red Light District” de Amesterdão dificilmente continuará o mesmo. O problema não é a prostituição, são os telemóveis e turistas

A presidente da câmara, Femke Halsema, já tinha anunciado outras alterações para o Red Light District, como restrições a visitas em grupo ou até a sua deslocalização para fora do centro da cidade — uma sugestão rejeitada pelas mulheres que trabalham como prostitutas, por considerarem que isso poderia colocar-lhes problemas de segurança.