A Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) está a fazer um levantamento de disponibilidades e capacidade instalada junto das suas estruturas locais para aumentar a capacidade de acolhimento aos refugiados afegãos.

“A CVP desde 2015 que é uma entidade de acolhimento no âmbito dos programas de recolocação e reinstalação de refugiados, portanto, temos tido uma capacidade que tem vindo ser disponibilizada às autoridades portuguesas nesse sentido e, face a estes desenvolvimentos do contexto político e da crise no Afeganistão, quisemos reforçar também esta nossa capacidade e por isso lançámos este apelo à nossa rede”, disse à Lusa Joana Rodrigues, coordenadora das respostas para refugiados da CVP.

O acolhimento pode não ser feito nas instalações locais da Cruz Vermelha, explicou a responsável, adiantando que o procedimento mais utilizado atualmente é o recurso ao mercado de arrendamento local para encontrar alojamentos disponíveis.

Mas parcerias com entidades locais e autarquias são outras alternativas exploradas pelas delegações da CVP.

O apelo à rede de 140 delegações locais foi lançado esta quinta-feira pela CVP, avançou o jornal Expresso, dando notícia de uma missiva assinada pelo presidente da instituição, Francisco George.

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“O apelo interno foi lançado esta quinta-feira, à medida que as disponibilidades vão surgindo vamos comunicando ao ACM e à secretaria de Estado para as Migrações”, disse Joana Rodrigues à Lusa, referindo que esta é uma iniciativa própria da instituição, que não resulta de qualquer pedido expresso nesse sentido por parte do Governo.

O processo está “numa fase solidária”, de recolha e organização de disponibilidades para reunir condições para a transferência dessas pessoas.

Atualmente, a CVP tem em processo de acolhimento e integração cerca de 100 refugiados, dispersos por 10 estruturas locais, sendo que os últimos acolhimentos realizados pela CVP têm tido uma maioria de cidadãos afegãos, e um número significativo de menores não acompanhados, disse Joana Rodrigues.

Na quarta-feira, o ministro da Administração Interna disse que Portugal espera receber refugiados do Afeganistão “tão breve quanto possível”, confirmando que o país deverá acolher cerca de 50 pessoas que cooperaram com os serviços da União Europeia.

O número final de refugiados afegãos que Portugal irá receber ainda não é certo, e também não há uma data definida para a sua chegada, explicou Eduardo Cabrita em declarações à agência Lusa, no final da reunião ministerial do Mecanismo Integrado da União Europeia de Resposta Política a Situações de Crise (IPCR), que decorreu durante a tarde por videoconferência.

“A prioridade, neste momento, é apoiar a saída do Afeganistão de pessoas que trabalharam com as representações, neste caso, da União Europeia (UE)”, adiantou Eduardo Cabrita, reiterando que Portugal irá apoiar esse esforço e que numa primeira fase, o país deverá acolher cerca de 50 pessoas.

Sobre a possibilidade de Portugal receber refugiados afegãos que não estejam nessa situação, Eduardo Cabrita reconheceu a posição particularmente frágil das mulheres e de outras pessoas envolvidas na promoção dos direitos humanos no Afeganistão, mas sublinhou que não poderá haver “fluxos migratórios desordenados”.

Os talibãs conquistaram Cabul no domingo, culminando uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO.

As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista (1996-2001), que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.

A tomada da capital pôs fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e dos seus aliados na NATO, incluindo Portugal.

Face à brutalidade e interpretação radical do Islão que marcou o anterior regime, os talibãs têm assegurado aos afegãos que a “vida, propriedade e honra” vão ser respeitadas e que as mulheres poderão estudar e trabalhar.

Na terça-feira, os chefes da diplomacia da UE decidiram avançar com a retirada de civis e diplomatas do Afeganistão, nomeadamente cidadãos europeus, devido à “situação perigosa” que o país enfrenta.