A pandemia tem sido acompanhada por uma queda significativa nas taxas de natalidade bruta em países alto rendimento, com declínios particularmente acentuados no sul da Europa: Itália (-9,1%), Espanha (-8,4%) e Portugal (-6,6%). Esta é a principal conclusão de um estudo conduzido pela Universidade Bocconi de Itália e publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, utilizando modelos numéricos e analisando dados de 22 países.

As pandemias são um motor fundamental das mudanças nas populações humanas, afetando tanto a mortalidade como as taxas de natalidade. A maior pandemia do século passado, a chamada gripe espanhola (1918-1919), fez com que as taxas de natalidade nos Estados Unidos baixassem de 23 por 1.000 habitantes em 1918 para 20 por 1.000 em 1919 (-13%). Efeitos comparáveis foram observados em países como Reino Unido, Índia, Japão e Noruega.

Os dados preliminares sugerem agora que a pandemia de covid-19 diminuiu a taxa de natalidade nos países de alto rendimento. Para avaliar melhor o efeito desta doença, os autores do estudo recolheram dados mensais de janeiro de 2016 a março de 2021 de um total de 22 países de elevado rendimento.

Após vários cálculos comparativos, os cientistas utilizaram modelos para contabilizar a sazonalidade e as tendências a longo prazo. Ao aplicar e aperfeiçoar os modelos, os dados mostram que a pandemia foi acompanhada por um declínio significativo nas taxas de natalidade bruta para além do previsto pelas tendências do passado em sete dos 22 países considerados.

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Assim, as taxas de natalidade bruta caíram 8,5% na Hungria, 9,1% em Itália, 8,4% em Espanha e 6,6% em Portugal. Além disso, Bélgica, Áustria e Singapura também mostraram um declínio significativo nas taxas de natalidade bruta, de acordo com esta análise.

Contudo, os autores sublinham que os dados disponíveis apenas fornecem informações sobre a primeira vaga e, portanto, “apenas dão uma ideia do declínio global durante a pandemia”. Os dados fornecem informações sobre várias fases da primeira vaga e indicam que em alguns países, como França e Espanha, foi observada uma recuperação nas taxas de natalidade em março de 2021, quando comparadas com as de junho de 2020.

Para estes países, o mês de junho de 2020 marcou o ponto em que a primeira vaga da pandemia diminuiu, podendo assim refletir uma inversão. De acordo com os autores, os resultados revelam o impacto da pandemia na dinâmica populacional e podem ter implicações políticas nos cuidados infantis, na habitação e no mercado de trabalho.