Uma investigação interna feita numa escola francesa, do ensino superior, revelou que 99 pessoas foram vítimas de violação e agressões sexuais no ano letivo anterior. “Nove em cada dez alunos” inquiridos dizem que o agressor foi outro aluno. O caso já foi entregue à Justiça francesa.

A CentraleSupélec, uma escola de engenharia da Universidade Paris-Saclay, fez uma investigação interna sobre violência sexual e de género ocorrida no ano letivo de 2020-2021. Os resultados, divulgados esta quinta-feira pelo Le Monde, demonstraram que 51 mulheres e 23 homens foram vítimas de assédio sexual durante o ano, 46 ​​mulheres e 25 homens de agressão sexual e 20 mulheres e 8 homens de violação.

Foram inquiridos cerca de 2.400 alunos do primeiro e segundo anos, dos quais responderam 659. A grande maioria destes crimes foi cometida por outros estudantes, o que se traduz em “nove em cada dez” casos, que ocorrem em contexto das associações de estudantes ou na residência universitária.

O diretor da escola, Romain Soubeyran, disse ao Le Monde estar “estupefacto”. “Não recebi nenhum relato de violência sexual ou de género durante o ano. Pensámos que as coisas estavam controladas através da nossa célula contra violência e assédio, e também pelas ações de associações de estudantes envolvidas nessas questões.”

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Esta sexta-feira, o diretor também concedeu uma entrevista à estação de televisão BFMTV, onde fez referência ao álcool como “fator agravante” e às “festas privadas” que acontecem nas residências universitárias, nas quais a escola não pode intervir.

Estas festas não se podem proibir. Não se pode regular nem o consumo de álcool nem a organização de festas privadas”, disse Romain Soubeyran à estação francesa. “Poderíamos proibir as grandes festas [na escola], mas isso seria contraproducente, porque promoveria ainda mais festas privadas.”

Quanto ao álcool em festas organizadas por associações de alunos da escola, garante que “é muito bem controlado”.

“Não esperava números tão altos”

A Çapèse foi a associação que realizou a investigação, a pedido da direção da escola. Ibtissam Hamich, presidente, também admite que “não esperava números tão altos”, mas considera que são resultados “necessários” para tomar consciência da gravidade do problema, citado pelo jornal Le Figaro. A associação recomendou “fortemente” a outras escolas que façam investigações semelhantes.

“No final do ano passado, muitos alunos me disseram que não queriam falar com as pessoas dentro da escola”, disse o presidente da associação.

A realização do inquérito faz parte de uma política lançada pela direção em 2019, que “tomou um conjunto de medidas de combate à violência sexual e de género”. A escola recrutou dois assessores para a igualdade de género e criou uma unidade constituída por dois psicólogos.

Os resultados desta investigação foram enviados à Procuradoria de Evry. Está aberta uma investigação preliminar por assédio sexual, agressão sexual e violação. A Justiça irá identificar as vítimas que responderam ao questionário anonimamente.

O Le Figaro também diz que a Ministra do Ensino Superior e da Investigação, Frédérique Vidal, também deve anunciar nos próximos dias o lançamento de um plano de ação nacional contra a violência sexual e de género.