Nova entrada com passo de gigante na indústria dos veículos eléctricos: a colossal Foxconn, que é tão só o maior fabricante do mundo dos chamados “3C” (computadores, comunicações e consumíveis electrónicos), fornecendo empresas líderes globais nestas áreas, como é o caso da Apple, decidiu criar a sua própria divisão de veículos eléctricos, a Foxtron, e de uma assentada revelou um SUV, uma berlina e um autocarro eléctricos. Com uma particularidade: recorrem todos à mesma plataforma, apesar de terem comprimentos radicalmente distintos.

A arquitectura em questão é a chamada MIH, uma plataforma modular que a Foxtron diz ter uma versatilidade nunca antes alcançada e que foi originalmente concebida com o intuito de oferecer um leque quase infinito de possibilidades. Isto porque a ideia da companhia é fornecer esta base a outros construtores de automóveis. Não deixa de ser curioso que a empresa que fabrica os iPhones esteja disposta a fazer da sua MIH uma espécie de Android Auto, mas aqui com ênfase no suporte (adaptável a todos).

Isto não significa, contudo, que a Foxconn não tencione produzir. Pelo contrário, foi justamente com a intenção de colocar na estrada as versões definitivas dos protótipos que revelou esta semana, que a gigante comprou no início deste mês uma grande parte da fábrica da Lordstown Motores no Ohio e também já está a erguer uma outra fábrica no Wisconsin. De caminho, adquiriu uma fábrica de chips em Taiwan.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Sabe-se ainda, conforme avançou a Reuters, que a prioridade vai para a Europa, embora não tenha sido fornecida qualquer pista acerca do construtor automóvel que vai cooperar com o colosso chinês. Mas tudo indica que será uma marca alemã, pois quando questionado se trabalharia com construtores germânicos, o presidente Liu Young-way não desmentiu. Acrescentou apenas que se trataria de uma cooperação “indirecta” e que o modelo de negócio a adoptar seria BOL (acrónimo inglês para construir, operar e localizar). Depois da Europa, o cronograma de investimento aponta para a Índia e América Latina (México, possivelmente), até porque as aspirações da companhia asiática são à escala global. A meta é fornecer, entre 2025 e 2027, componentes ou serviços para 10% dos veículos eléctricos em todo o mundo. Fechados estão já acordos com a Fisker e os tailandeses do sector energético PTT PCL. E como o próprio Liu Young-way frisou, Taiwan tem “naturalmente” uma posição vantajosa na indústria dos carros eléctricos porque é forte em software e nos tão desejados semicondutores.

Para tal, estão na calha os já mencionados três protótipos, sendo que não é evidente que não venham a ver a respectiva designação alterada. Isto porque se chamam Model C (SUV), Model E (berlina) e Model T (autocarro) e a própria Tesla já se viu obrigada a prescindir do “SEXY” para definir a sua gama, tendo de substituir o “E” pelo 3, pois a Ford tem as letras registadas como sua propriedade…

Com 4,640 m de comprimento e 2,860 m de distância entre eixos, o crossover visará concorrer, atendendo às medidas, com modelos como o Ford Mustang Mach-E ou o Tesla Model Y. Não foram divulgadas quaisquer informações relativas às baterias, mas os chineses estarão a contar com acumuladores que permitam ao Model C reclamar uma autonomia, em NEDC, de 700 km com uma carga completa. Em WLTP, o valor cairá para de menos 600 km, mas fica a promessa de ir de 0 a 100 km/h em 3,8 segundos, cortesia de dois motores eléctricos que entregam às quatro rodas uma potência combinada de 406 cv e 697 Nm. Estima-se que as vendas arranquem em 2023, por um valor que não excederá 229.800 yuans, o equivalente a cerca de 31.000€.

O Model E, que conta com a assinatura do reputado atelier de design Pininfarina, é uma bela incógnita, em termos mecânicos, mas salta à vista que vai destinar-se aos apreciadores do luxo eléctrico, com muito espaço e tecnologia a bordo. A distância entre eixos é de 3,1 m, para um comprimento total de 5,1 m, mantendo o esquema de montar um motor eléctrico por eixo, para uma potência conjunta de até 750 cv. Neste caso, a autonomia prometida é de 750 km (NEDC) e o sprint de 0 a 100 km/h deverá cumprir-se em escassos 2,8 segundos. Possivelmente a visar o ET7, este modelo vai começar por ser fabricado a Oriente, mas será um produto a comercializar globalmente.

Por fim, o autocarro eléctrico vai ser animado por uma bateria de ferro-fosfato (mais barata) e um motor com 350 cv, perseguindo um alcance entre visitas ao posto de carregamento de 400 km. Valor mais uma vez em NEDC, pelo que em condições reais de utilização fará pouco mais de 300 km. A intenção é avançar para a produção já no próximo ano.

De recordar que a Foxconn estabeleceu em Maio, uma joint-venture com a Stellantis, para formar a Mobile Drive, empresa que pretende revolucionar o habitáculo com novas soluções de conectividade e cockpits high-tech.