Um surto com mais de 30 casos foi detetado na fábrica de conservas Ramirez, em Matosinhos, onde estão empregadas cerca de 200 pessoas, avançou esta segunda-feira o Sindicato dos Trabalhadores. da Agricultura e das Indústrias de Alimentação, Bebidas e Tabacos de Portugal (SINTAB).

A administração da fábrica contestou, no entanto, estes dados, referindo que apenas tem conhecimento de 11 casos positivos. Realçou também que o surto de Covid-19 teve origem num jantar entre alguns funcionários da fábrica, do qual a administração “desconhecia”.

À Rádio Observador, José Eduardo Andrade, dirigente do SINTAB, disse, por seu turno, que a empresa nada fez para conter o surto. “Tivemos conhecimento de alguns casos no dia 2 de dezembro”, indicou, salientando que no dia seguinte houve um jantar de Natal da empresa. Na segunda-feira passada, dia 4, já havia doze casos confirmados.  

“A situação foi-se avolumando até ultrapassar os 30 casos positivos”, afirmou José Eduardo Andrade, que destacou que os dirigentes não tomaram “medidas de constrangimento de infeção”. Aliás, de acordo o dirigente sindical, houve trabalhadores que testaram positivos, ficando em isolamento, mas cujos membros do agregado familiar foram na mesma trabalhar para a fábrica. “É um absurdo, não houve esforço nenhum em conter o surto.”

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Mais de 30 trabalhadores infetados em fábrica. “Empresa não tomou medidas de contenção”

Depois de vários funcionários que estiveram em contacto com casos positivos irem trabalhar, houve ainda outro jantar de Natal, este sábado, dia 9 de dezembro. Só depois é que a “empresa decidiu fazer uma testagem em massa”, frisou José Eduardo Andrade, que também revelou que as autoridades de saúde já estão a par do surto.

O dirigente sindical deixou ainda críticas à Direção-Geral da Saúde, “que não fez bem o seu trabalho de rastreamento” e que não colocou contactos de alto risco em isolamento profiliático.

Em comunicado enviado às redações, o SINTAB destaca que já há mais de 30 casos positivos e apenas esta segunda-feira, “com a anulação dos testes rápidos que a empresa ia fazer, e com o agendamento, para esta terça-feira, de uma iniciativa de testagem universal com testes PCR, é que se identifica uma intervenção coordenada das autoridades de saúde”.

José Eduardo Andrade explicou ainda que em empresas como as conservas e as massas alimentícias deixaram para “segundo plano a proteção da saúde dos trabalhadores” com o aumento de encomendas registado no confinamento, devido à subida do “consumo direto”. Como as empresas não têm “mãos a medir” e não têm trabalhadores suficientes, tentam de todas as maneiras “não parar a produção”.

Administrador da Conservas Ramirez em Matosinhos confirma surto com 11 casos

O administrador da fábrica de Conservas Ramirez, em Matosinhos, afirmou, por sua vez, que estão confirmados 11 casos de Covid-19 na conserveira e que o surto teve origem num jantar “entre alguns funcionários e pessoas externas”.

Em declarações à agência Lusa, a propósito da denúncia feita pelo Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e das Indústrias de Alimentação, Bebidas e Tabacos de Portugal (SINTAB), Manuel Ramirez afirmou que o surto de Covid-19 teve origem num jantar entre alguns funcionários da fábrica, do qual a administração “desconhecia”.

“Terá havido um jantar entre colegas e externos da empresa de uma determinada área que a administração desconhecia”, disse.

Segundo o administrador, o surto foi detetado depois de um funcionário da conserveira ter apresentado sintomas, “situação que foi logo comunicada ao delegado de saúde” e que resultou na testagem dos 220 funcionários no dia 7 de dezembro.

“Foram detetados 11 casos de Covid-19 e todas as pessoas estavam vacinadas”, afirmou, acrescentando que os funcionários se “encontram bem”.

Manuel Ramirez disse ainda que a 9 de dezembro, os funcionários voltaram a realizar testes antigénio, não tendo sido detetado “nenhum caso”.

“Amanhã [terça-feira] vamos fazer novamente testes PCR por uma questão de precaução”, disse, acrescentado que a fábrica tem cumprido e implementado todas as normas de segurança e higiene.

“Nunca baixámos a guarda”, observou, desmentindo a denúncia feita pelo sindicato.