Depois do anúncio deste fim de semana sobre o congelamento e posterior fim da taxa que financia a BBC, Boris Johnson está a ser acusado de retaliar contra a estação pública — que tem sido criticada pelos conservadores pela cobertura à polémica das festas em Downing Street — para salvar o seu mandato como primeiro-ministro.

No Reino Unido, está a subir a pressão para que Boris se demita, depois de conhecida a realização de festas em Downing Street quando a população estava obrigada a cumprir regras restritivas. O The Guardian escreve que essa pressão já surge dos próprios conservadores. São precisas 54 cartas de deputados conservadores para desencadear uma moção de censura, que pode ter como resultado a demissão de Boris Johnson da liderança do partido. O jornal acrescenta que até 35 cartas já terão sido entregues, embora o número não seja oficial.

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Mas as notícias, que surgiram no domingo, de que o governo britânico vai congelar a taxa usada para financiar a BBC, estação pública, nos próximos dois anos, e eliminá-la completamente em 2027, para iniciar um novo modelo, vieram agitar ainda mais as águas. Atualmente, a taxa é cobrada aos telespectadores e a ideia é criar um novo modelo que iria aproximar a BBC dos serviços de streaming, como a Netflix.

Só que o anúncio está a ser visto como uma tentativa do governo de Boris de recuperar a popularidade entre os britânicos, após o escândalo das festas durante o confinamento, embora a decisão possa levar ao encerramento de alguns serviços e até a despedimentos. O porta-voz do partido Trabalhista da Escócia, Ian Murray, descreveu a medida como “uma última tentativa de [Boris Johnson] salvar o seu fracassado mandato como primeiro-ministro”.

Alguns deputados conservadores têm criticado a cobertura da BBC quanto aos últimos escândalos a envolver o mandato de Boris, mas fontes citadas pelo The Guardian recusam que essa tenha sido a razão para a avançar agora com o congelamento da taxa de financiamento, que já estava a ser pensada antes. A oposição não acredita. Ainda assim, uma fonte do governo disse ao The Guardian que o anúncio relativo à BBC não era esperado este fim de semana.

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No domingo, a ministra britânica da Cultura, Nadine Dorries, que tutela a BBC, defendeu que “é altura de debater novas formas de financiar, apoiar e vender os grandes conteúdos britânicos”. A taxa custa atualmente 159 libras (cerca 190 euros, à taxa de câmbio atual). Com o seu desaparecimento nos próximos anos, a BBC terá de poupar mais de dois mil milhões de libras (quase 2,4 mil milhões de euros).