O dia 27 de janeiro foi instituído pelas Nações Unidas (ONU) como a data para recordar as vítimas do Holocausto. Mas, este ano, o dia foi antecedido de protestos na Alemanha contra a Covid-19 que usaram símbolos que reportavam ao Holocausto e foram classificados pela polícia como “antissemitismo secundário”.

Este é só um dos exemplos dos protestos contra as medidas de contenção da pandemia de Covid-19, num mundo que anda a velocidades muito diferentes, com a Dinamarca a aliviar as restrições, apesar da disseminação da sublinhagem da variante Ómicron, e Hong Kong a impor medidas que podem manter o território fechado até 2024.

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Alemanha e a invocação do nazismo

Os manifestantes contra as medidas de contenção da pandemia saíram à rua, na Alemanha, muitos deles apresentando-se com as estrelas amarelas usadas pelos judeus e outros símbolos referentes ao período nazi. Ações que a polícia de Berlim classifica de “distúrbio da ordem pública” e de “antissemitismo secundário”.

O uso da Estrela de David, desde que nas cores azul e branca, é admitido como um símbolo religioso, mas as estrelas amarelas, como aquelas que identificavam os judeus discriminados e perseguidos na Alemanha nazi — e ainda por cima com inscrições do tipo “não vacinado” — estão proibidas em Berlim desde outubro, de acordo com as orientações de um tribunal alemão.

Os manifestantes identificados pelas autoridades como estando a promover o incitamento ao ódio, incluindo as que se referem à obrigatoriedade das vacinas como um “genocídio” ou as neguem abertamente a existência do holocausto, serão detidas.

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Mas as comparações da pandemia com o Holocausto não são uma novidade. Neste Dia da Memória do Holocausto, o governo israelita apresentou um relatório onde alerta para o facto de os protestos contra as medidas de contenção da pandemia de Covid-19 — que fazem comparações com a perseguição nazi aos judeus — estarem a alimentar protestos antissemitas, noticia a Reuters. Isto reflete-se não só na Europa como, também, nos Estados Unidos. Não só o relatório faz referência a ataques a judeus em ambos os lados do Atlântico durante o ano 2021 como, além disso, vários políticos americanos e britânicos pediram publicamente desculpas por terem comparado a toma das vacinas ou os confinamentos impostos à população com políticas adotadas durante o nazismo.

Na Nova Zelândia aumentam as ameaças a políticos

Na semana passada, a primeira-ministra da Nova Zelândia foi perseguida por manifestantes anti-vacinas. Segundo o jornal The Guardian, a carrinha onde seguia Jacinda Arden foi detetada por manifestantes que seguiam de carro e decidiram persegui-la. Dos ocupantes do veículo ouviram-se gritos como “tem vergonha” e “nós não consentimos”. Um dos envolvidos nessa ação chamou “Nazi” à primeira-ministra neo-zelandesa.

Imagens do episódio chegaram às redes sociais nos últimos dias e, segundo o jornal, registou-se um ligeiro aumento das ameaças a políticos e figuras públicas que estão envolvidas na resposta à pandemia no país. A polícia registou cerca de cinco ameaças por mês a políticos, no final do ano passado, contudo houve meses em que foram atingidas as 16. O assédio dos manifestantes anti-vancinas a membros do Parlamento levou a um reforço da segurança no final de 2021. O país é, na sua maioria, recetivo à vacinação contra a Covid-19 e a vacinação de adultos está perto dos 95%.

Quando questionada sobre o incidente, a primeira-ministra disse esta terça-feira que foi “apenas mais um dia” e que “em momento algum ficou preocupada” com a sua segurança.

No passado dia 23 de janeiro, a primeira-ministra da Nova Zelândia anunciou que ia cancelar o seu próprio casamento, devido às restrições impostas pelo seu Governo para impedir a disseminação da pandemia de Covid-19.

Empresários em protesto na Coreia do Sul 

Também esta terça-feira, dia 25 de janeiro, 200 empresários e donos de negócios sul-coreanos juntaram-se para rapar o cabelo, como forma de protesto contra as medidas de restrição da pandemia. Em causa está o prolongamento de regras que datam de dezembro de 2021 e que impõem, por exemplo, o fecho de bares e restaurantes às 21h e limitam os ajuntamentos a seis pessoas. Os manifestantes, que usaram coletes vermelhos e faixas na testa, sentaram-se lado a lado num palco onde lhes foi rapado o cabelo em frente a uma série de jornalistas. Pedem ao governo que levante as restrições e os compense pelos prejuízos financeiros.

Canadá 

Em novembro de 2021, o governo do Canadá anunciou que os motoristas de camiões que cruzassem a fronteira dos Estados Unidos teriam de se vacinar para evitar a obrigação de cumprir quarentenas de 14 dias. A medida entrou em vigor a 15 de janeiro, o que levou a um protesto por parte dos camionistas na semana seguinte e, a 23 de janeiro, arrancou uma caravana de camiões em marcha até Ottawa que irá parar a cidade no próximo sábado.

Uma das organizadoras da marcha, Tamara Lich, disse ao Global News que “o protesto é pacífico” e ninguém “vai incitar à violência ou fazer ameaças”.

Contudo, na terça-feira, dia 25, o jornal noticiou que a extrema-direita canadiana vê neste protesto uma oportunidade para tentar um golpe à imagem dos acontecimentos de 6 de janeiro de 2021 no Capitólio, em Washington, nos EUA.

Países Baixos levantam restrições já esta semana

Esta quarta-feira, dia 26, foram levantadas algumas das restrições dos Países Baixos. Bares, restaurantes e cafés estavam fechados desde meados de dezembro e reabriram, com capacidade reduzida, horário até às 22h e necessidade de apresentação de certificado digital. O público também pode regressar aos cinemas, teatros, museus e eventos desportivos.

Apesar do número de casos continuar a aumentar, os números de internamentos e de mortes por Covid-19 estão a descer. Citado pelo The Guardian, o ministro da saúde, Ernst Kuipers, afirmou que prolongar as medidas de restrição representava um risco de “prejudicar a nossa saúde e sociedade”.

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França levantará restrições a 2 de fevereiro

O primeiro-ministro francês, Jean Castex, já anunciou que, em França, as restrições impostas pela pandemia começam a ser levantadas a partir do próximo dia 2 de fevereiro. O atestado de vacinação vai ser a chave para acabar com a limitação de pessoas, por exemplo, em salas de concertos ou eventos desportivos. O teletrabalho vai deixar de ser obrigatório para muitas pessoas e o uso de máscara deixará de ser obrigatório na rua.