De novo, a questão dos bilhetes. E depois de dois episódios no Pavilhão da Luz, agora um no Pavilhão João Rocha. “O Benfica repudia o comportamento do Sporting que, contrariando os regulamentos da FIBA, recusou enviar os bilhetes a que o Benfica tem direito para o jogo de basquetebol desta noite [de quarta-feira] entre os dois clubes. O Benfica efetuou diversos pedidos sobre o levantamento dos bilhetes ou a venda dos mesmos nas nossas instalações, não tendo recebido qualquer resposta por parte do clube de Alvalade, a não ser os convites que existem por permuta entre os dois clubes. O Benfica recorrerá às instâncias devidas face a esta atitude incompreensível por parte do Sporting e reserva-se o direito de atuar em conformidade em encontros futuros”, anunciaram os encarnados poucas horas antes do jogo.

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Em pouco mais de dois anos (27 meses e uma semana, de forma mais exata), Sporting e Benfica jogavam o 11.º dérbi oficial no basquetebol, a que se juntou mais uma partida de pré-época no Torneio Internacional de Lisboa. No entanto, este não era um encontro qualquer e, pouco mais de duas semanas depois, o novo jogo na FIBA Europe Cup trazia decisões: em caso de vitória ou derrota por menos de oito pontos, os leões conseguiam uma inédita passagem aos quartos da competição; em caso de triunfo por mais de oito pontos, os encarnados davam um primeiro passo para a qualificação tendo ainda de esperar que o rival perdesse a última partida da fase de grupos com os já apurados romenos do Oradea, que venceram umas horas antes em casa os polacos do Trefl Sopot por 80-65, chegando a um quarto e decisivo sucesso.

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Em paralelo, e objetivos à parte, havia também uma questão de orgulho ferido por parte dos encarnados que, depois de vencerem os leões no jogo de regresso do conjunto verde e branco à modalidade nos seniores masculinos, tinham saído derrotados nos nove encontros oficiais seguintes entre Liga (fase regular e meias do playoff), FIBA Europe CUP e mais recentemente a final da Taça Hugo dos Santos por 66-64. “Temos de lidar melhor com a carga emocional e ser consistentes ao longo do jogo. Ter atenção aos detalhes, defender bem. Temos de ser uma equipa muito coesa defensivamente, proteger muito bem as penetrações e a área restritiva. O Sporting é uma equipa muito agressiva, defende bem mas sabemos que em grande parte dos jogos com eles temos jogado melhor”, comentara o técnico Norberto Alves aos meios do clube.

“É um dérbi e só isso diz tudo. Este tem o ingrediente europeu, que é especial e muito importante, porque ganhar significa seguir em frente na competição. É o que todos queremos. Se conseguirmos ser sólidos na nossa defesa e nos adaptarmos àquilo que são os detalhes da estratégia defensiva do Benfica, que já temos estudado, julgo que vamos ultrapassar as dificuldades que o jogo vai trazer. Depois é estarmos atentos aos pequenos detalhes que vão decidir o jogo. São duas equipas que vão ser muito intensas ao longo dos 40 minutos e os detalhes vão decidir quem ganha. Esperamos que caia para o nosso lado”, dissera António Paulo, adjunto de Luís Magalhães na equipa técnica do Sporting, também aos meios dos leões.

À décima não foi de vez. E, ao contrário do que se passou em muitos dos dérbis anteriores, a história ficou escrita no terceiro período que terminou com os leões a fazerem um parcial de 26-9 em dez minutos. De forma inequívoca, e o Sporting ganhou e pela maior margem. E, com isso, fez história na prova.

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Sem Dennis Clifford, uma baixa de vulto como Micah Downs dos leões, o Benfica não conseguiu repetir o filme dos três últimos encontros onde começou sempre na frente e andou atrás do Sporting mesmo com margens curtas a não ser a de seis pontos que levou Norberto Alves a pedir um desconto de tempo (16-10). Os encarnados tinham mais ressaltos (12-9) e assistências (7-2), nivelavam a partidas nas percentagens de lançamento mas somavam mais turnovers e, sobretudo, não tinham forma de parar Travante Williams, que levava 80% de triplos e 14 pontos no final de um primeiro período que chegou com 21-19.

Depois, o encontro equilibrou ainda mais. E os visitantes chegaram mesmo a estar na frente com pequenas distâncias de um e dois pontos, numa fase em que Travis Munnings (15 pontos ao intervalo) abriu o livro e deu uma ajuda ao inevitável Frank Gaines (11), mas também Travante, que entretanto chegara cedo às duas faltas, contou com a ajuda de um Shakhir Smith de mão certeira no tiro exterior para voltar para a frente do resultado e atingir o intervalo com uma vantagem de cinco pontos e uma bola verdadeiramente fantástica de NBA com um triplo ainda bem longe da linha a poucos segundos do final que fez o 43-38.

A partida seguia para o descanso com tudo em aberto mas o terceiro parcial acabaria por ser fatídico para o Benfica no resto do encontro: a defesa encarnada foi completamente ultrapassada pelos argumentos dos leões, os lançamentos deixaram de entrar, o critério deixou de existir e o Sporting rumou a um impensável parcial de 26-9, percentagens de lançamento de 48% contra 33% e apenas cinco turnovers. Por mais que Norberto Alves fosse experimentando soluções diferentes na defesa (a tentativa de defesa à zona não ajudou nada) e no ataque (os tiros exteriores até sem oposição deixaram de cair), a formação verde e branca dominava, jogava bonito para gáudio dos adeptos e o esforço de Aaron Broussard, a tentar agarrar ainda na equipa para uma recuperação “impossível”, chegou apenas para reduzir para 89-72.