Veio esta semana a público que Bruno Paixão é suspeito de ter recebido milhares de euros do Benfica através de um “saco azul” ligado a uma empresa de informática de José Bernardes. Em entrevista ao Expresso, o ex-árbitro defendeu-se, assegurando que “nunca foi corrompido” e que ainda não foi contactado pela Polícia Judiciária (PJ) no âmbito deste processo: “Tenho vontade de levantar o meu histórico bancário, entregá-lo e ser ouvido, para limpar a minha imagem”.

Em relação a José Bernardes, Bruno Paixão contou que conheceu o empresário em 2013, que lhe ligou para lhe apresentar a “Best For Business”, uma empresa informática. “Fiz um contrato de trabalho de nove meses, como consultor de qualidade”, revelou, acrescentando que “recebia 875 euros por mês mais subsídio de refeição”: “Ia para lá trabalhar todos os dias”.

Após isso, o ex-árbitro voltou a ser contactado por José Bernardes, desta feita para realizar uma auditoria a uma empresa de manutenção de equipamento bancário, a Dynetic, que terá servido como “saco azul” do Benfica. Referiu que recebeu oito mil euros pelos serviços que prestou, nunca tendo recebido 40 mil euros — e nunca realizou um contrato de um dia, algo de que é suspeito.

“Tenho a consciência tranquila”, garantiu, descrevendo que ficou “assustado” e “incrédulo” após a notícia da CNN, que dava conta de que estaria envolvido num processo de corrupção desportiva. “Nunca pensei que isso me pudesse acontecer.” 

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Árbitro Bruno Paixão terá recebido milhares de euros do “saco azul” do Benfica, SAD encarnada arrisca descida de divisão

Rejeitou também ter-se cruzado ou ter contactado com dirigentes do Benfica como Miguel Moreira ou Domingos Soares de Oliveira. E sublinhou que nunca falou com José Bernardes sobre as águias “ou futebol”: “Nem em piadas”.

Em relação à sua vida financeira, Bruno Paixão revelou estar em “falência técnica”. “Vivo no quarto do meu irmão quando ele era adolescente. Fala-se muito nos jogadores de futebol que ganham muito dinheiro mas que depois ficam sem ele. Mas o mesmo acontece com os árbitros, que também passam dificuldades financeiras”.

Sobre Luís Filipe Vieira, o ex-árbitro recordou um episódio em que deixou o presidente do Benfica de “mão estendida” quando este o veio cumprimentar, uma vez que, após um jogo, lhe chamou “ladrão” e “gatuno”: “Disse-lhe que não cumprimentava pessoas que me ofendiam.”

Bruno Paixão recusou também que tenha alguma vez beneficiado o Benfica, mencionando inclusive um penálti contra os encarnados num jogo contra o Paços de Ferreira. Ainda assim, admite que “ao longo da carreira” cometeu “erros”, mas ressalva “que nunca foram de propósito”.

Conselho da Disciplina da FPF abre inquérito a Benfica e a Bruno Paixão por “eventuais ilícitos disciplinares”

Esta quinta-feira, o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol abriu um inquérito para investigar o ex-árbitro por “eventuais ilícitos disciplinares”.