O escudo de Isabel Díaz Ayuso vai ser a justiça espanhola. Na guerra aberta entre a presidente do Governo de Madrid e Pablo Casado, presidente do PP, o partido de ambos, Ayuso leva vantagem, enquanto o Partido Popular fica fragilizado de dia para dia. Esta segunda-feira de manhã, Ayuso deixou clara a sua estratégica: a campanha de que se diz vítima vai sair cara a quem a preparou e não teme a justiça. Pelo contrário, anunciou que irá entregar todos os documentos que tem à Procuradoria Provincial que exerce as funções do Ministério Público dentro da província. “Vamos enviar toda a lista de documentos que temos sobre este contrato contra o qual todos os tipos de armadilhas foram lançadas”, afirmou aos jornalistas, no final de uma inauguração.

“A primeira coisa que quero mostrar ao povo de Madrid é que o seu Governo não deixará de cumprir as suas responsabilidades”, disse Ayuso, agradecendo os múltiplos gestos de carinho recebidos nos últimos dias, os mesmos que pedem a cabeça de Pablo Casado. “Como denunciei na semana passada, estou a sofrer um cruel ataque político, onde sou acusada de corrupção e más práticas.” A altura escolhida para surgirem as acusações de que o seu irmão foi beneficiado num contrato de compra de máscaras no início da pandemia de Covid-19 também não é inocente lê-se nas entrelinhas do seu discurso.

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“Lamento e é com pena que no momento em que estamos a ir tão bem em Madrid, tenhamos de suportar essa situação. Quero que o povo de Madrid confie na recuperação que já está a ser sentida em toda a região”, acrescentou. “Esta situação não é nova, já tentaram prejudicar a minha imagem sem sucesso, aliás, assumi-la sem descuidar as minhas obrigações exige um grande esforço.”

Sobre o contrato em causa, lembrou que este acordo garantiu a chegada de máscaras à comunidade autonómica num momento em que toda a Europa, e o mundo, lutavam por conseguir comprar material de proteção individual para conter o coronavírus. “Desde que sou presidente da Comunidade de Madrid, não dediquei um único minuto da minha vida para beneficiar alguém próximo de mim. Não dou o exemplo todos os dias para depois deitar tudo por terra.”

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Casado acusou o irmão de Ayuso de receber perto de 300 mil euros como comissão por ter facilitado o negócio com o governo liderado pela sua irmã Isabel, mas a presidente de Madrid já esclareceu, na passada semana, que o valor recebido é bastante menor e que foi pago como honorários a Tomas Díaz Ayuso pelo seu papel na negociação com fornecedores asiáticos.

“Não há guerra Ayuso-Casado, porque nunca tentei substituí-lo, o meu lugar é Madrid”

Sobre o futuro, Ayuso afirma que nunca quis substituir Casado na liderança do partido, pondo o ónus do início da batalha no líder do PP. Para ela, os interesses de Madrid estão acima dos do partido. “A situação atual do PP é insustentável. O meu lugar é em Madrid e tenho um compromisso com o povo madrileno, cidadãos que nunca votaram no PP votaram em mim e confiaram-me, não posso abandonar esse compromisso. A Comunidade de Madrid transcende o PP, está acima de qualquer partido, por isso não há guerra Ayuso-Casado, porque nunca tentei substituí-lo, o meu lugar é Madrid e sempre o disse.”

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Sobre demissões no partido, Isabel Díaz Ayuso diz que isso é matéria para ser vista nos próximos dias, enquanto que à Justiça caberá analisar o contrato. “O que não pode sair de graça é terem-me roubado a presunção de inocência ao fim de 17 anos a militar na casa. O que aconteceu é muito grave, não posso olhar para o lado e fingir que tudo continua igual.”

Apesar disso, não deixou passar a oportunidade de enviar recados para dentro do partido. “A cada dia que passa estamos a piorar, é necessária uma reviravolta absoluta para o bem da Espanha. O PP vai ter de decidir qual é o próximo cenário, decidir o que quer fazer, porque a situação é insustentável. A cada dia que passa estamos pior, é preciso uma reviravolta absoluta para o bem da Espanha.”