Entrou e foi decisivo. Não entrou e decidiu, entrou e foi decisivo. Foi decisivo porque com a entrada no jogo para o lugar de Everton levou Darwin Núñez a descair mais na esquerda onde dá outras coisas à equipa, foi decisivo porque permitiu que Gonçalo Ramos não necessitasse de tanta chegada pela capacidade que tem em prender centrais, foi decisivo porque afundou mais a defesa do Ajax permitindo que Rafa tivesse ainda mais espaços nas transições. Depois, foi feliz e decidiu à boca da baliza, marcando de cabeça o golo do empate do Benfica com os neerlandeses numa recarga a remate de Gonçalo Ramos com defesa incompleta de Pasveer. No entanto, particularmente esta semana, o avançado ucraniano tem poucas razões para sorrir.

Um Ramos que sabe muito mas quer ainda mais é tudo menos bazófia (a crónica de Benfica-Ajax)

“Queria apoiar o meu país. Tenho pensado muito nisto [n.d.r.: tensão geopolítica entre Ucrânia e Rússia que foi adensada com a declaração de independência dos territórios de Donetsk e Lugansk] e tenho medo desta situação. Quero apoiar um bocadinho o meu país. O clube está a apoiar-me, falou comigo e quis fazer de tudo para me ajudar. Agradeci, mas para já está tudo bem”, explicou no final da partida Yaremchuk, que após o golo tirou a camisola para mostrar a t-shirt negra com a Tryzub, símbolo nacional da Ucrânia.

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“Estou feliz. Quer jogue cinco ou dez minutos, vou lutar sempre pela minha equipa, pelos meus colegas e pelos adeptos. Estou aqui para marcar, é o que tenho de fazer”, acrescentou ainda à CNN Portugal o dianteiro contratado esta temporada ao Gent, que chegou ao oitavo golo da época (o segundo na Champions) e quebrou aquele que era o segundo maior jejum desde que chegou à Luz com sete encontros sem marcar. E se o golo, que até foi antecedido por uma oportunidade tirada por Timber já sem guarda-redes na baliza, foi importante pelo contexto político que se vive, não o deixou de ser pelo momento que o internacional está a atravessar, depois de uma lesão complicada com o rebentamento de um elástico que condicionou a visão.

“Foram dias muito complicados e estava bastante preocupado com o meu olho pois foi uma lesão perigosa. Agora tenho de ser reavaliado a cada duas ou três semanas para que tudo esteja controlado e não perder a visão. Devido a este problema agora vou no banco de trás do carro. Felizmente, a visão não se deteriorou mas esteve perto de ser uma lesão perigosa”, contou Yaremchuk numa entrevista para o seu país a Vlada Sedan, apresentadora que é mulher do internacional ucraniano Zinchenko, do Manchester City.

“Acho que ainda não fiz um jogo completo, por isso não há a estabilidade que eu desejava. Assistências? Tudo depende dos colegas, no Gent e na seleção recebia mais bolas para marcar. Jorge Jesus colocava-me na equipa e tive uma boa relação com ele, dava-me muitos conselhos. Com o novo treinador o estilo de jogo mudou e passámos a jogar com dois avançados quando antes jogava como ‘9’, tal como na seleção. Agora exigem mais luta, mais roubos e não posso dizer que sejam os meus pontos fortes. O novo treinador fala inglês como a maioria dos jogadores por isso não há a barreira da língua. Eu também quero falar mais em português por isso estou a estudar”, contou o dianteiro de 26 anos que estava na liga belga.

“Escolhi sair para uma equipa que pudesse ser um trampolim na minha carreira. O Benfica é o clube certo para mim mas preciso de tempo. Mudar foi uma forma de sair da zona de conforto. Senti que a degradação como jogador e como pessoa já começara. Por isso, quis dar um passo em frente para me desenvolver como jogador. Aqui temos de olhar para o primeiro lugar na liga pois não se pode ficar satisfeito com o terceiro. Rui Costa? Está presente em todos os treinos. Tenho uma relação de trabalho com ele, que exige mais de mim tal como eu. O Benfica é a sua vida”, salientou ainda Yaremchuk na mesma entrevista.

Em paralelo, e neste caso numa conversa com o portal da UEFA, o avançado tinha falado da qualidade que encontrou nos encarnados e na pressão que existe pelos resultados. “A qualidade dos jogadores é muito elevada, jogamos na Champions e na Liga portuguesa e por isso está tudo a correr como suposto. Esperava mais da minha parte mas a realidade é o que é. Tenho de saber lidar com isso e trabalhar no máximo. Os jogadores têm muita vontade de ganhar. Foi opção minha vir para aqui. O Benfica é uma grande equipa, com grandes ambições e uma atmosfera fantástica. Foi por isso que fiz esta escolha e sinceramente não estou arrependido. Há pressão por parte dos adeptos, não sei bem como explicar. O Benfica é um grande clube com uma longa história, por isso a exigência é maior. Qualquer empate ou derrota ou um jogo mal conseguido, traz muita pressão”, destacou nessa entrevista onde voltou a admitir que esperava mais.