Foi uma afronta a Vladimir Putin. O Presidente ucraniano desafiou, esta quinta-feira, o homólogo russo para um encontro entre os dois e justificou, indicando que “não há outra forma para parar a guerra”. Mas aproveitou para mandar uma farpa — se os dois líderes se encontraram, Volodymyr Zelensky quer sentar-se “lado a lado” com o chefe de Estado russo e não “a 30 metros”, numa alusão à mesa que separou Putin de Emmanuel Macron e Olaf Scholz. “Sou uma pessoa normal. Fala comigo. Eu não mordo. Tens medo de quê? Não sou uma ameaça para ninguém, não sou um terrorista”, ironizou.

Num discurso ao país que contou com perguntas dos jornalistas, Volodymyr Zelensky deixou vários alertas para a comunidade internacional. Em primeiro, sinalizou que, se a Ucrânia cair, os próximos países que serão alvo de uma invasão russa serão os Países Bálticos, como a Estónia, Letónia e Lituânia — apesar de pertencerem à NATO, o que levaria à entrada da aliança militar e a uma guerra mundial. Depois será a “Geórgia, a Moldávia, a Polónia”: a Rússia vai “até ao muro de Berlim”. O Presidente ucraniano deixou, por isso, um repto: “O mundo tem de mostrar à sua força”, de forma a conseguir travar Vladimir Putin.

Apontando o dedo à política expansionista russa, o Presidente ucraniano acusou o Kremlin de não respeitar a “equidade e a igualdade” dos países da comunidade internacional, ignorando princípios como a soberania e a integridade territorial. Volodymyr Zelensky aproveitou para agradecer aos seus aliados por ajudarem a Ucrânia face à invasão, dando assim uma resposta clara a Putin, ainda que tenha salientado que “agiram de forma tardia”, algo que “já custou vidas de milhares de ucranianos”.

Volodymyr Zelensky voltou a insistir na fly-zone, isto é, no encerramento do espaço aéreo ucraniano, destacando que isso iria evitar “bombardeamentos a infraestruturas não militares”, como igrejas ou memoriais do Holocausto, aludindo ao Babyn Yar, monumento destruído pelas forças russas. O Presidente ucraniano pediu aos líderes ocidentais para avançarem com a medida, e, mesmo que não o consigam agora, apelou a que lhe atribuíssem uma estimativa sobre quando é poderá ser aplicada.

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Em troca do não encerramento do espaço aéreo, Volodymyr Zelensky pediu mais “aviões” aos aliados. “Precisamos de aviões”, reforçou, explicando que a Rússia possui mais meios aéreos que são capazes de causar destruição e a Ucrânia não consegue retaliar eficazmente. O Presidente ucraniano também reconheceu que “não há armas suficientes” para lutar com o exército russo. “Eles são muito mais”, assumiu, apesar de apontar que a motivação dos ucranianos é maior, uma vez que estão a “defender a sua terra”.

O chefe de Estado ucraniano agradeceu o apoio do Ocidente e as sanções aplicadas, mas também sinalizou que “falta coragem ao mundo”. “O mundo é mais forte do que o exército russo”, afirmou, e pediu à comunidade internacional para ajudarem a Ucrânia “a lutar”. Abordou também que a população russa vive numa “bolha informática” criada pelo exército, não tendo acesso à verdade dos factos.

Referindo que fala várias vezes com “muitos líderes muitas vezes ao dia”, Volodymyr Zelensky apelou ao mundo que para que o apoio demonstrado nos últimos dias “não se enfraqueça”. “Isso dá-nos mais confiança de que estamos no rumo certo. Estou muito contente que o mundo se tenha unido, mas tenho pena que este tenha sido o preço”, concluiu.