No rescaldo do ataque das forças armadas russas à central nuclear de Zaporíjia, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) esteve esta sexta-feira reunido. O embaixador russo, Vasily Nebenzya, confirmou que a central foi tomada por forças russas para “impedir que nacionalistas ucranianos e terroristas” consigam ter acesso a ela.

Vassily Nebenzya assegurou que a central nuclear está a funcionar normalmente e indicou que os níveis de radiação estão normais. O embaixador russo na ONU acusou um grupo de “sabotadores” ucranianos de atacar a patrulha russa perto do local, reconhecendo que existiu depois uma reação da Rússia — mas de limitado alcance. Esta resposta causou um incêndio a um edifico contíguo à central nuclear, que nunca atingiu os reatores nucleares.

Rússia atribui ataque a central nuclear a sabotadores ucranianos

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Reiterando que a Rússia não teria qualquer “interesse” em levar a cabo um desastre nuclear, Vassily Nebenzya lembrou o que se passou em Chernobyl, o que afetou as “pessoas da Bielorrússia, Rússia e Ucrânia”. Acusou, por isso, o regime ucraniano e o Ocidente de “histeria artificial”, estando a propagar “um nível sem precedentes de mentiras” e de “desinformação” sobre o alegado ataque.

Já o embaixador ucraniano nas Nações Unidas, Sergiy Kyslytsya, expôs que os soldados russos terão matado “vários empregados responsáveis para manter a segurança nuclear” nos locais tomados pela Rússia. Ou seja, quer em Chernobyl, quer em Zaporíjia já foram mortos funcionários.

Russia já controla Zaporíjia, onde “não houve libertação de material radioativo”

Afirmando que “não foram registadas mudanças nos níveis de radiação em Zaporíjia”, vincou, contudo, que já foi “negado acesso aos inspetores ucranianos ao lugar” e “a monitorização automática da radiação em Zaporíjia não está a funcionar”. O embaixador ucraniano nas Nações Unidas alertou ainda para o perigo que existe, caso o “sistema de energia dedicado ao arrefecimento dos reatores nucleares falhe”.

“Se em qualquer momento este processo de arrefecimento for interrompido isso pode causar danos radioativos e ter consequências irreparáveis para o ambiente em todo o continente”, avisou o embaixador.

Por sua vez, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (IEA, sigla em inglês), Rafael Mariano Grossi, explicou que existiu, de facto, um incêndio causado por um míssil lançado pelas tropas russas (algo que nunca foi mencionado pelo embaixador russo), mas que acabou por não afetar os reatores nucleares de Zaporíjia.

Sublinhando que a IEA está em contacto direto com as forças ucranianas e russas, o responsável, convidado para dar um ponto sobre a situação no Conselho de Segurança, garantiu que os “sistema de segurança” não foram comprometidos. Agora, continua a operação de monitorização e de avaliação de danos.

Rafael Mariano Grossi disponibilizou-se para enviar uma equipa para Chernobyl para avaliar os riscos e a “segurança” da central nuclear. A Ucrânia já aceitou a proposta, ao passo que a Rússia ainda “está a avaliá-la”. O responsável assegurou que a equipa não terá objetivos “políticos ou diplomáticos”, sendo a sua missão “assegurar os elementos mais básicos de segurança”.