As imagens divulgadas durante o fim de semana na cidade de Bucha levaram o Ocidente a repudiar o massacre e a ponderar outras maneiras de sancionar a Rússia. A União Europeia (UE) está mesmo a planear novas sanções contra Moscovo, informação já confirmada pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. No entanto, apesar de apelos de países como a Polónia ou França, o alcance de um novo pacote não reúne consenso entre os 27 Estados-membros.
Uma das sanções que mais tem gerado controvérsia no seio da UE — e que pode afetar substancialmente a economia russa — é o fim de importação do carvão, gás e do petróleo vindos da Rússia, devido à dependência de certos países. Os Estados Unidos já o fizeram, alegando que seria um “duro golpe” para o Kremlin.
Shocked by haunting images of atrocities committed by Russian army in Kyiv liberated region #BuchaMassacre
EU is assisting #Ukraine & NGO’s in gathering of necessary evidence for pursuit in international courts.
Further EU sanctions & support are on their way.
Слава Україні!
— Charles Michel (@eucopresident) April 3, 2022
A Polónia tem sido um dos países que mais tem apoiado um pacote de novas sanções à Rússia, apontando diretamente o dedo a Berlim. O vice-primeiro-ministro polaco acusou esta segunda-feira de Alemanha (e também França) de terem uma “forte inclinação” por Moscovo. “Não se pode apoiar constantemente uma grande potência com milhares de milhões em pagamentos de compra de energia. Isto é inadmissível quer de um ponto de vista político, quer de um ponto de vista moral”, afirmou Jarosław Kaczyński.
Contra o embargo ao gás russo
A Alemanha ainda não deu uma resposta cabal às exigências polacas e da comunidade internacional, mas tudo parece indiciar para uma posição contra o embargo ao gás russo. A ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, reconheceu, na sua conta pessoal do Twitter, que as “sanções contra a Rússia devem ser fortalecidas”, apesar de não dar grandes detalhes sobre em que áreas é que devem incidir.
Wir werden die bestehenden #Sanktionen gegen #Russland weiter verschärfen, unsere Unterstützung der ukrainischen Streitkräfte entschieden ausbauen und auch die östliche Flanke der #NATO stärken. 2/2
— Außenministerin Annalena Baerbock (@ABaerbock) April 4, 2022
O ministro da Economia alemão veio esclarecer a posição alemã. Robert Habeck defendeu que um embargo imediato às importações energéticas russas iria causar danos colaterais à economia alemã, afastando este cenário. “Vladimir Putin já perdeu esta guerra”, afirmou, enfatizando também os esforços que Berlim têm realizado no sentido de reduzir a dependência do gás e carvão russo, assegurando que o progresso tem sido “surpreendentemente rápido”. “Esta é um passo correto e que prejudica Putin todos os dias”, garantiu citado pelo Financial Times.
A Áustria, um dos países que mais depende do gás russo, juntou-se à Alemanha e reconheceu que prefere “outras possibilidades” em detrimento do embargo. O ministro dos Negócios Estrangeiros austríaco já garantiu que Viena não apoiará o fim das importações energéticas da Rússia.
⚡️Austria prefers 'other options' to embargo on Russian gas.
Foreign Minister Alexander Schallenberg told local radio ORF that his country won’t support any EU embargo on Russian gas deliveries. Russian imports make up 80% of Austria’s gas supply, according to Bloomberg.
— The Kyiv Independent (@KyivIndependent) April 4, 2022
A favor
Para além da Polónia — que já deixou de importar carvão russo —, do lado dos países que reconhecem ser necessário um embargo ao gás para afetar o Kremlin está França, um dos países que tem empreendido mais esforços diplomáticos para tentar chegar a um cessar-fogo. Emmanuel Macron disse esta segunda-feira, em entrevista à rádio France Inter, que está a favor “de um novo pacote de sanções”, sublinhando que a UE deve atuar “em particular com o carvão e o petróleo”.
Mais do que a favor, os Países Bálticos (Estónia, Letónia e Lituânia) foram os primeiros a reagir unilateralmente. O ministro da Energia lituano, Dainius Kreivys, foi o primeiro a anunciá-lo no sábado: “A Lituânia abandonou completamente o gás russo, em resposta à chantagem energética da Rússia na Europa e à guerra na Ucrânia”. As outras duas repúblicas bálticas fizeram o mesmo no domingo.
Ucrânia. Lituânia deixou de importar gás russo e exorta UE a fazer o mesmo
Embora a aparente simpatia pelo regime de Vladimir Putin, a Hungria também deverá apoiar o embargo ao gás russo. A garantia foi dada pelo primeiro-ministro polaco citado pela Reuters: “A Hungria está ao lado das sanções”. Aguarda-se a confirmação do novo governo de Viktor Orbán.
Por seu turno, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Itália, Luigi di Maio, veio assegurar que o país não vetará quaisquer eventuais sanções a um embargo ao gás russo.
A Eslováquia reconheceu que um embargo ao gás russo teria “consequências devastadoras” para a economia do país. Porém, o primeiro-ministro eslovaco, Eduard Heger, assumiu que seria um “constrangimento” para Vladimir Putin. “Precisamos de lhe dar um sinal”, defendendo o fim das importações energéticas da Rússia.
Na quarta-feira, os embaixadores da UE vão encontrar-se para discutir um novo pacote de sanções à Rússia.