A tensão na política norte-americana continua a escalar. Numa semana marcada pela notícia de que o Supremo Tribunal de Justiça, maioritariamente conservador, se prepara para acabar com o direito consagrado ao aborto nos 50 estados, Joe Biden não poupou nas críticas aos republicanos e classificou mesmo a fatia do partido que continua ao lado de Donald Trump como “a organização política mais extremista da História norte-americana, da História recente”.

O Presidente dos Estados Unidos estava a falar numa conferência de imprensa sobre questões económicas em que fazia anúncios sobre o défice quando foi questionado pela notícia avançada pelo POLITICO. E foi duro na resposta. Além de considerar o “MAGA” — o movimento Make America Great Again, de Donald Trump — “extremista”, deixou no ar perguntas sobre o precedente que a proposta do Supremo (que ainda é um rascunho) poderá abrir.

“O que é que acontece se tivermos estados a mudar a lei e dizer que as crianças LGBT não podem estar nas mesmas salas de aulas que as outras? Isto é legítimo, dada a forma como esta decisão está escrita? Quais são as próximas coisas que vão ser atacadas?”.

“Abominável”. Supremo dos EUA pondera revogar lei do aborto que tem 50 anos. O que está em causa?

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As perguntas de Biden chegam na sequência da revelação do rascunho de projeto do tribunal, agora com maioria de juízes conservadores — metade deles nomeados durante o mandato de Donald Trump –, e que deve ficar pronto entre junho e julho.

O texto propõe a revogação da decisão do caso conhecido como “Roe v. Wade”, que em 1973 estabeleceu jurisprudência para que cada mulher possa decidir sobre o aborto até às 23 semanas de gestação, não podendo nenhum estado dos EUA legislar individualmente sobre esse direito. Isto na sequência de uma lei adotada pelo estado do Mississipi, que proíbe a maior parte dos casos de aborto após as 15 semanas de gravidez.

Ora Biden já tinha, esta semana, deixado alertas sobre o movimento de Trump, que diz continuar a dominar o partido republicano — “Este partido já não é o Partido Republicano dos nossos pais. Agora é o partido MAGA”.

Na mesma conferência de imprensa, Biden considerou igualmente “extremistas” as propostas do partido para a economia. “Não quero ouvir os republicanos falarem de défices e da sua agenda MAGA ultra. Quero ouvi-los sobre justiça. Sobre decência, sobre pessoas comuns”.

Comentando o plano de “11 pontos para salvar a América”, assim batizado pelo senador republicano Rick Scott, que propunha em parte o aumento de impostos para baixos rendimentos (rapidamente rejeitado por outros colegas de partido), Biden colocou a sua filosofia para a economia em “grande contraste com o que partido republicano está a oferecer — e se não tivessem posto isto por escrito, vocês achariam que eu estava a inventar”. O plano, defendeu Biden, “é extremista, como são a maior parte das coisas vindas do MAGA”.

Na mesma intervenção, e cercado por maus indicadores económicos como o aumento da inflação, Biden quis expor os resultados económicos da sua governação, garantindo que o défice registará uma descida recorde este ano. Também nesse ponto recordou Trump e o facto de não ter conseguido reduzir o défice “em nenhum trimestre”: “E caiu em ambos os anos desde que sou Presidente. Ponto. Isto são os factos”.

Embora o projeto do Supremo seja, para já, apenas um rascunho, o seu conteúdo — onde se defende que a decisão inicial do caso “Roe v. Wade” é errada e deve ser revertida — já está a incendiar seriamente os ânimos. E assim deverá continuar, até no contexto da preparação para as eleições intercalares, previstas para novembro deste ano.