Sol, uma tarde agradável e duas das melhores equipas do país. Em Inglaterra, tal como em Portugal, o dia da final da Taça não precisa de muitos ingredientes para ser um dia especial. E este sábado, em Wembley, as contas da Premier League ficavam conservadas em éter para que Chelsea e Liverpool decidissem quem é que levantava a 150.ª edição da segunda maior competição do futebol inglês.

E Thomas Tuchel, do lado dos blues, não se importava nada de assumir o papel de vilão. “O Klopp é o mestre de ser o underdog. Consegue convencer-nos de que é o underdog contra o Villarreal ou o Benfica, faz isso a toda a hora. É parte do encanto, é daí que vem tanta simpatia. Mas não tenho de ter inveja de nada. O Klopp é um tipo fantástico, divertido, um dos melhores treinadores do mundo: quando treinava o Borussia Dortmund, as pessoas adoravam o Borussia Dortmund na Alemanha; agora, adoram o Liverpool em Inglaterra. Tem muito crédito e é isso que enfrentas quando jogas contra uma equipa dele. Mas essa também é a parte divertida, por isso, se tivermos de ser os vilões amanhã, não há problemas. Queremos esse papel. Não queremos ter a simpatia do país, queremos o troféu”, disse o treinador alemão, que tem uma conhecida relação de proximidade com o técnico do Liverpool.

Do outro lado, Jürgen Klopp sublinhava a importância da atmosfera de Wembley — e comparava a experiência de jogar no estádio londrino à de participar na final da Liga dos Campeões. “Disse isso depois da última final da Taça da Liga, não foi muito diferente da final da Liga dos Campeões há três anos. Uma atmosfera enorme, mesmo. E espero a mesma coisa amanhã. É extraordinário, Wembley é um grande estádio. Claro que era melhor se pudesse ser um pouco mais perto de Liverpool, para ser honesto, porque implica sempre uma viagem, mas esse é o único lado negativo. As pessoas dizem sempre que não sou o maior fã das Taças mas não é verdade, só nunca tinha acontecido. Mal posso esperar por sentir aquela atmosfera outra vez”, explicou o treinador dos reds.

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Ora, este sábado, Chelsea e Liverpool disputavam uma reedição da última final da Taça da Liga: no final de fevereiro, também em Wembley, a equipa de Klopp derrotou a de Tuchel numa maratona de 21 grandes penalidades. Cerca de dois meses e meio depois, o Liverpool tinha a oportunidade de conquistar o segundo troféu da temporada e prolongar o sonho de ganhar as quatro competições em que está inserido, já que ainda está na corrida pela Premier League e vai disputar a Liga dos Campeões com o Real Madrid; do outro lado, o Chelsea tinha a oportunidade de dar uma página bonita a uma época em que o objetivo de revalidar o título europeu não foi alcançado e o clube foi engolido pelo fim da era Roman Abramovich.

Mason Mount, Pulisic e Lukaku formavam o ataque de um lado, Mané, Salah e Luis Díaz eram os titulares do outro e Diogo Jota começava no banco num Liverpool que não contava com Fabinho, que se lesionou na última jornada da Premier League contra o Aston Villa. Numa primeira parte que terminou sem golos mas onde o marcador poderia ter sido inaugurado em diversas ocasiões, os reds começaram claramente por cima e a causar muitos estragos através da ala esquerda do ataque, onde a velocidade imposta por Díaz sempre a bola era colocada em profundidade dava muito trabalho a Chalobah.

O colombiano teve mesmo a melhor oportunidade do Liverpool, ao aparecer na cara de Mendy para rematar cruzado mas ver o guarda-redes evitar o golo (9′), e Pulisic respondeu do outro lado com um pontapé rasteiro que passou ao lado na sequência da melhor jogada do Chelsea até ao intervalo (23′). Até ao final da primeira parte, os alarmes soaram no banco de suplentes de Jürgen Klopp: Salah saiu com problemas musculares e foi substituído por Diogo Jota a duas semanas da final da Liga dos Campeões.

O início da segunda parte foi diametralmente oposto ao da primeira. O Chelsea entrou a alta velocidade e encostou o Liverpool às cordas nos primeiros minutos, com Pulisic a obrigar Alisson a uma defesa atenta (47′) e Marcos Alonso a acertar na trave de livre direto (48′). Os reds conseguiram começar a reagir ao fim de cinco minutos, período em que Luis Díaz até voltou a ficar perto do golo (52′), mas os blues estavam claramente numa fase ascendente e iam obrigando a defesa adversária a atuar em bloco baixo.

Thomas Tuchel fez a primeira alteração já depois da hora de jogo, ao trocar Kovacic por Kanté, e Klopp respondeu perto do quarto de hora final com a entrada de James Milner para o lugar de Keita. A partida entrou numa fase mais incaracterística neste período, com muitas paragens e faltas mais duras, e a final encaminhou-se sem grandes surpresas para o prolongamento — não sem que Díaz (83′) e Milner acertassem no poste antes do apito final. Van Dijk já não regressou para a meia-hora extra, adivinhando-se mais um problema físico no plantel do Liverpool, e o nulo manteve-se ao longo das duas partes do prolongamento, levando tudo para as grandes penalidades tal como tinha acontecido na final da Taça da Liga.

Nos penáltis, Azpilicueta acertou no poste, Mané permitiu a defesa de Mendy, Alisson parou o remate de Mason Mount e acabou por ser o improvável Tsimikas a carimbar a vitória da equipa de Jürgen Klopp: o Liverpool voltou a vencer o Chelsea nas grandes penalidades em Wembley e conquistou a Taça de Inglaterra, que junta à Taça da Liga (0-0, 5-6). Com um herói pouco previsível e um autêntico déjà vu com dois meses e meio, os reds prolongaram o sonho de ainda vencer quatro troféus até ao fim da época.