Milhares de pessoas desceram este sábado, 18 de junho, o Príncipe Real até à Ribeira das Naus, em Lisboa, levando as cores do arco-íris da 23ª marcha do Orgulho LGBTI+, contra a discriminação.

Segundo disse à Lusa a comissão organizadora da marcha, que regressou hoje a Lisboa após o interregno devido à pandemia, pelo menos 25 mil pessoas desceram desde o Jardim do Príncipe Real, em direção ao Largo de Camões, onde continuaram pela Rua do Alecrim, culminando na Ribeira das Naus.

Pelas 17h já milhares de pessoas se tinham concentrado no ponto de encontro, dando início à marcha cerca de meia hora depois.

Participantes portugueses, mas também de várias outras nacionalidades, envergaram centenas de bandeiras arco-íris e cartazes, onde se podia ler “transfobia tem cura: educação”, “trabalho não rima com armário”, “contra a mutilação genital das crianças e bebés intersexo” ou “a desinformação só aumenta a discriminação”, entre tantos outros.

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Em declarações à Lusa, Alexa Santos, porta-voz da comissão organizadora da marcha, afirmou que “a marcha é importante porque o que se quer é que todas as pessoas sejam livres de serem quem são, que tenham uma vida plena e feliz”.

“Quando dizemos todas as pessoas, queremos mesmo dizer todas as pessoas. Toda a gente: homens, mulheres, cis, trans, heterossexuais, não heterossexuais, toda a gente beneficia de uma sociedade que é efetivamente mais diversa, que é efetivamente mais igualitária e que existe para todas as pessoas poderem ter uma cidadania plena”, disse.

Para Alexa Santos, “as marchas são o lugar por excelência para fazermos reivindicação, para ocuparmos a rua, para que todas aquelas coisas que acontecem que nos violentam possam ser ditas, nomeadas e depois que a reivindicação de proteção, de apoio, seja feita”.

Durante cerca de uma hora e meia foram milhares os que gritaram palavras de ordem como “A nossa luta é todos os dias, contra o racismo, o machismo e a transfobia”, mas também “Habitação é um direito, sem ele nada feito. Saúde é um direito, sem ele nada feito”, “Fascistas chegou a vossa hora. Os emigrantes ficam e vocês vão embora” ou “Abaixo o patriarcado”.

Eram cerca das 18h40 quando o início da marcha chegou ao palco instalado na Ribeira das Naus, onde decorre a festa da diversidade, mas às 19h00 ainda centenas caminhavam pela Rua do Alecrim.

À Lusa, João Labrincha, porta-voz do GAT – Grupo de Ativistas em Tratamentos, um dos 24 coletivos e associações que participaram na organização, salientou que, “num momento em que estivemos todos fechados em casa, este é o momento de voltarmos a mostrar a nossa visibilidade e resistirmos a todas as agruras que aconteceram”.

“A população LGBTI+ foi uma das mais sacrificadas pela crise económica”, disse, acrescentando que “hoje estamos aqui a reivindicar a rua de novo, a mostrarmos a nossa diversidade, as nossas cores e a celebrarmos a diferença do ser humano e a lutarmos para não voltar ao passado”.

“Somos muitas minorias que fazem muita gente, importamos e devemos ser ouvidos”, defendeu.

Uma opinião partilhada por Mafalda Gomes, de 26 anos, participante da marcha, para quem “hoje é um dia em que nos unimos todos a lutar”, considerando que a existência da comunidade “ainda não está totalmente consolidada e respeitada”.

“Já vi mais a marcha como um lugar de celebração. Quando comecei a vir, aos 15 anos, era aquele sítio onde nos sentíamos válidos, havia pessoas iguais a nós, estávamos todos mais felizes por nos sentirmos incluídos, porque nunca tínhamos sentido essa inclusão naquela idade. Com o passar do tempo, a marcha foi tornando-se um lugar mais político”, conta à Lusa.

Para Mafalda Gomes, existe ainda caminho a percorrer: “as nossas exigências hoje não vão ser iguais às exigências de ontem. Não quer dizer que por se terem alterado e por termos chegado e cumprido e algumas coisas, não quer dizer que tudo o que conquistámos está sempre a um dedo de nos ser tirado de volta”.

Tomás Nunes, de 23 anos, disse acreditar que esta é uma forma de “continuar a lutar por aqueles que se calhar não têm tantos direitos”.

“Eu, enquanto pessoa trans, se calhar tenho mais direitos hoje do que tinha há uns anos. Considero-me privilegiado e quero usar o meu espaço no sociedade para estas pessoas que não têm este privilégio, lutar por elas, estar presente”, disse.