À medida que os minutos e os remates iam acontecendo, os registos em torno de Gonçalo Ramos tinham tendência para aumentar. 1-0 = segundo golo marcado na Europa. 2-0 = terceiro jogo em que conseguia marcar dois golos na mesma partida pelo Benfica. 4-1 = primeiro hat-trick da carreira como sénior na Luz. Em dois lances na primeira parte em que chegou por poucos centímetros atrasado ao desvio na área e em mais dois lances no segundo tempo em que viu Olafsson negar o remate certeiro, o avançado podia ter acabado ainda melhor um jogo que vai ficar sempre para a sua história – e tanto assim é que, no final do encontro, e já depois de muitos cumprimentos aos companheiros, foi buscar para si a bola do jogo.

Três Ramos de paz para um Neres de guerra (a crónica do Benfica-Midtjylland)

Desde 1979, quando Nené marcou três golos frente ao V. Setúbal, que um jogador do Benfica não conseguia fazer um hat-trick no primeiro encontro da temporada, com a particularidade de ser o terceiro português mais novo de sempre a alcançar isso num encontro europeu depois de João Félix e Eusébio. E para quem colocava dúvidas sobre a capacidade de fazer a diferença pelo ar, até por ter feito grande parte dos jogos nas águias na última época fora da posição ‘9’, marcou pela primeira vez dois golos de cabeça, algo que acontecia com alguma frequência no trajeto de formação mas que se foi eclipsando nos seniores.

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“Foi uma bela maneira de começar a época e mostrar o nosso futebol aos adeptos. Só em sonhos podia ser melhor do que isto, mas agora é tempo para focar no próximo jogo. Cumprimos o primeiro objetivo, de levar uma vantagem para a segunda mão”, destacou no final da partida o número 88 na zona de entrevistas rápidas da BTV, antes de comentar também o regresso aos encontros oficiais. “É fantástico voltar à Luz, é bom ver que voltamos em grande força”, acrescentou ainda o jovem avançado de 21 anos.

Curiosamente, a grande exibição de Gonçalo Ramos surge numa fase em que a sua continuidade na Luz não é um dado adquirido. A venda de Darwin Núñez, por 75 milhões de euros fixos com possibilidade de ter mais 25 milhões de variáveis, equilibrou as contas entre entradas e saídas mas a SAD pondera ainda outra saída para fazer face ao segundo ano consecutivo com as contas no vermelho e é no jovem avançado que se centram grande parte dessas possibilidades, depois de uma primeira abordagem em junho recusada nos 30 milhões de euros por haver essa vontade de chegar a um valor próximo dos 40 milhões… que é praticamente o montante que o Benfica vai receber entrando na fase de grupos da Champions (38).

“Tal como os outros jogadores, o Gonçalo fez um jogo muito bom. Marcou três golos mas senti que poderia ter marcado mais dois ou três… É um avançado centro e gosta de jogar nesta posição. Tem vários bons jogadores à sua volta, como o David Neres ou o João Mário, entre outros, que o colocam em boas situações para marcar. É muito bom em frente à baliza a utilizar o seu poder e a qualidade de finalização. Foi muito importante hoje”, comentou Roger Schmidt no final da partida à BTV, antes de admitir mais tarde na conferência de imprensa que gostava de manter o avançado no plantel em 2022/23.

“Era a nossa tarefa levar a confiança para o campo depois de uma pré-época muito boa. Sabíamos antes do apito inicial do árbitro que a pré-época era passado e teríamos de aparecer num jogo que não era fácil. O Midtjylland não é um oponente fácil de defrontar. Criámos muitas ocasiões para marcar. Merecemos ganhar e jogámos um futebol muito bom. Estou feliz. Foi apenas o primeiro passo, já o sabíamos antes. Queríamos alcançar o melhor resultado possível e usar o nosso fator casa. Agora temos de estar preparados para o jogo de sexta-feira [Arouca] para depois nos focarmos na próxima mão da pré-eliminatória. Não está fechada. Temos de demonstrar o mesmo espírito na Dinamarca para nos qualificarmos”, acrescentou.