Os desacatos provocados pelos adeptos do Hadjuk Split em Guimarães já estão a ser investigados pelo Ministério Público, mas a desarticulação entre as forças de segurança está a ser colocada em evidência por várias entidades, especialmente depois de ter sido tornado público que há agentes da PSP que foram deslocados de Lisboa até Guimarães para intervir junto dos adeptos do clube de futebol croata. O presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, Paulo Santos, diz que os meios em Guimarães eram “manifestamente insuficientes” e o vice-presidente do Observatório de Segurança Interna fala numa “incapacidade da tutela de obrigar as forças de segurança a cooperarem entre si”.

“Só se encontrava um carro de patrulha com dois elementos e uma equipa de intervenção rápida com cerca de três a quatro elementos o que é manifestamente pouco”, nota o presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, que confirma à Rádio Observador a informação avançada pelo jornal Inevitável de que várias dezenas de agentes da PSP foram deslocados de Lisboa para Guimarães, resultando em turnos de trabalho superiores a 30 horas.

O presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia aponta também o dedo à Direção Nacional da PSP: “A polícia tem de ser mais transparente”. “As intervenções por parte da Direção Nacional são desajustadas face ao que acontece”, afirmou Paulo Santos que diz que o “constante branqueamento das situações tornam mais confortável a comunicação política do ministro e do Governo porque há um constante branqueamento daquilo que é a realidade e o tratamento dado pela PSP para o exterior”.

“Começo a ficar com dúvidas se devemos responsabilizar a tutela ou aquilo que são as posições da Direção Nacional num constante branqueamento das situações, o que nos parece preocupante”, notou o responsável sindical.

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Já o vice-presidente do Observatório de Segurança Interna, Hugo Costeira, põe em evidência que “há uma incapacidade da tutela de obrigar as forças de segurança a cooperarem em termos operacionais entre si”.

Em entrevista à Rádio Observador Hugo Costeira diz que, além da “notória falta de meios”, há também “ao nível local uma incapacidade de organização e de interpretar as informações enviadas pelos serviços que fazem o acompanhamento destas claques.”

Desacatos em Guimarães. “O maior problema é o facto de as forças de segurança serem incapazes de cooperar entre si”

“As forças de segurança são incapazes de cooperar entre si. Não faz sentido que ambas as forças tenham duas unidades altamente especializadas e preparadas e que a PSP não recorra à GNR”, diz Hugo Costeira frisando que “há uma incapacidade da tutela de obrigar as forças de segurança a cooperarem em termos operacionais entre si.”

“Não faz sentido obrigar os elementos da unidade especial de polícia da PSP a percorrerem centenas de quilómetros e a trabalharem praticamente dois dias seguidos quando a 20 quilómetros de Guimarães e a cinco minutos em marcha de urgência temos um destacamento de intervenção da GNR com pelotões de intervenção”, destaca o responsável pelo Observatório de Segurança Interna que fala ainda num “problema cultural”: “chama-se problema das quintas”.

“Teria sido muito mais útil para a segurança de qualquer vimaranense que tivesse sido acionada a GNR em vez da PSP ficar à espera que tudo se compusesse como se não percebêssemos a desgraça que a operação da PSP de Braga foi em Guimarães”, afirmou.

“Não houve condições legais para deter adeptos” diz PSP

Ainda na quarta-feira, no programa Semáforo Político da Rádio Observador, o Intendente e porta-voz da PSP Nuno Carocha reconheceu que “não havia condições legais para deter” os adeptos da equipa croata e que os adeptos estavam sob a “monitorização” das forças de segurança portuguesas “e croatas”.

“O que se passou em Guimarães, não se tratando de uma rixa, não é natural. Os adeptos procuraram evitar os nossos polícias e os polícias croatas que estão em Portugal a acompanhar o nosso policiamento”, afirmou Nuno Carocha dizendo depois que “os cidadãos fizeram várias chamadas para o 112” para dar conhecimento do que estava a acontecer na cidade.

Reconhecendo que “os adeptos conseguiram evadir-se à monitorização” das polícias, Nuno Carocha acrescenta que “mais 100 adeptos foram identificados”, mas notou que não havia “condições legais” para os deter.

Violência em Guimarães: “Não houve condições legais para deter aqueles adeptos”