Depois da eleição histórica de Magdalena Andersson em 2018, que se tornou na primeira mulher a chegar ao cargo de primeira-ministra, as eleições legislativas deste ano ditaram uma mudança de rumo na Suécia. O país escandinavo deverá ser agora liderado por uma coligação de direita, composta pelo Partido dos Democratas Suecos, Partido Moderado, Democratas Cristãos e Liberais — os resultados não são oficiais, mas Andersson já anunciou a sua demissão por ter perdido as eleições. Ulf Kristersson, o líder desta “geringonça” sueca, terá ainda de conseguir formar governo.
Suécia. Primeira-ministra demite-se depois de perder eleições
O Partido dos Democratas Suecos (SD) é liderado Jimmie Akesson que, no espaço de 17 anos, conseguiu fazer do partido um dos mais temíveis da política sueca, transformando-o de um partido “que diz não a tudo para um partido que começa a ver onde pode ser mais influente”.
Akesson tem 43 anos e é deputado desde 2010. “Quer passar a imagem de uma pessoa comum, que cozinha salsichas, viaja para as Ilhas Canárias num voo charter e fala de forma comum”, disse Jonas Hinnfors, professor de Ciências Políticas na Universidade de Gotemburgo, à AFP.
O líder do SD nasceu em Solvesborg, uma localidade situada no sul da Suécia que possui cerca de 9.000 habitantes. A cidade é vizinha de Malmo, uma das cidades suecas que tem uma grande população imigrante, e foi aí que Jimmie começou a construir o caminho do partido até ao poder. Chegou à liderança do SD em 2005, quando o partido tinha apenas 1% dos votos e procedeu à reformulação no seio do mesmo: alterou o símbolo e as medidas por si defendidas, que agora se incidem, essencialmente, no afastamento de grupos racistas e na política de “tolerância zero” contra o racismo.
Com o aumento da imigração na Suécia a partir de 2015 — que fazem deste o país europeu que possui maior ratio de imigrantes por total da população —, devido aos 150.000 requerentes de asilo, o SD começou a conquistar os votos dos eleitores conservadores e sociais-democratas (o partido que venceu as duas eleições anteriores a esta), mais concretamente da classe trabalhadora. De acordo com os analistas, o partido fez de tudo para suavizar a sua imagem, à semelhança do que se sucede com outros nacionalistas.
De frisar que o SD foi fundado em 1988, em Estocolmo, por extremistas de direita e neonazis e só em 2010 chegou ao parlamento sueco. Desde então, os membros mais extremistas foram afastados do partido e esse afastamento foi também preconizado pelos restantes partidos e a imprensa sueca, diz o Washington Post.
Ainda assim, o conceito de “partido comum” que se afastou dos radicalismo tem estado na ordem do dia na Suécia. Os analistas defendem que o partido, de facto, afastou-se das suas raízes neonazis e das suas posições extremistas defendidas anteriormente, mas as suas ideologias ainda não incluem políticas inclusivas — querem acabar com a imigração de fora da Europa e enviar os muçulmanos para os seus países de origem.
À cerca de um mês, Tobias Andersson, porta-voz do SD, publicou um tweet que contemplava a imagem de um comboio com as cores azul e amarela, as mesmas do partido, e que tinha as frases: “Bem-vindo ao comboio da repatriação. Tem um bilhete só de ida. Próxima paragem, Cabul”.
"Välkommen till återvandringståget. Du innehar en enkelbiljett.
Nästa stopp, Kabul!" pic.twitter.com/kaTn0KOinY
— Tobias Andersson (@SDTobbe) August 16, 2022
Andrej Kokkonen, professor de política na Universidade de Gotemburgo, diz que o partido “não permite a religião islã na Suécia”. “Não podes ser sueco e muçulmano ao mesmo tempo”, diz o professor que se foca a estudar os partidos anti-imigrantes. Já Ann-Cathrine Jungar, professora da Universidade de Sodertorn que estuda partidos populistas da direita radical, diz que o “público-alvo” dos democratas suecos tende a viver em pequenas cidades, áreas rurais e a maioria são homens. Possuem menos instrução que os eleitores médios e são empreendedores de pequena escala.
Apesar dos votos estarem concentrados neste tipo de eleitores, o SD também atraiu votos da classe trabalhadora tradicional e está a ganhar o apoio dos mais jovens. Porquê? Porque “estes eleitores têm menos confiança na imprensa. Acreditam que há informações tendenciosas sobre a questão central da imigração”, disse Jungar.
Para além disso, o partido fomentou a sua ligação aos Estados Unidos, cultivando a ligação com apoiantes de Donald Trump e da direita alternativa. “Anteriormente os moderados tinham contactos com os republicanos, mas agora é o SD que assumiu esses contactos e os moderados conectaram-se com os democratas”.
Por agora, o SD quer ser “uma força construtiva e com iniciativa” e vai trabalhar para “fazer com que a Suécia fique novamente bem”, partilhou o líder no Instagram.
Partido Moderado: do afastamento à coligação
O Partido Moderado é o maior partido sueco do centro-direita e é liderado por Ulf Kristersson — o “cabeça de cartaz” da coligação de direita que venceu estas eleições legislativas. Inicialmente, este partido começou por se afastar politicamente do SD, mas acabou por se juntar a esta “união” para derrubar os sociais-democratas.
Se queres um governo que não seja baseado nos sociais-democratas, precisas de cooperar com o SD”, disse Anders Borg, ex-ministro das Finanças dos Moderados. “Não vejo outra estratégia eleitoral viável para lá de encontrar uma maneira de cooperar com eles”, frisando que o SD “afastou-se de uma posição marginal para ser um partido político mais comum”.
Depois da vitória, Ulf prometeu “restaurar a ordem na Suécia”. “Vou começar agora a trabalhar para formar um novo Governo eficaz”, partilhou no Instagram.