Pelo menos um terço das peças atribuídas a William Shakespeare foram escritas em colaboração com outros autores, revela um estudo feito por um investigador da Universidade De Monfort, em Leicester, Inglaterra.

Gabriel Egan, em colaboração com especialistas em informática da Universidade da Pennsylvania, analisou as “pegadas linguísticas” das obras de Shakespeare e outros escritores seus contemporâneos, como Thomas Middleton e Christopher Marlowe, concluindo que o autor de Hamlet trabalhou em 43 peças, 14 das quais com a ajuda de um ou mais escritores.

Qual destes foi o verdadeiro William Shakespeare?

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O investigador descobriu que muitos atos de peças atribuídas a Shakespeare apresentam semelhanças com o estilo de outros autores, nomeadamente, a segunda parte do primeiro ato de Henrique VI, que terá sido escrita por Marlowe, há muito apontado como coautor desta e outras peças do “bardo”. Também Titus Andronicus terá sido escrita com colaboração, disse Egan, que apresentou as suas conclusões numa conferência realizada na Universidade De Montfort.

“Também descobrimos Shakespeare em peças que foram publicadas anonimamente”, afirmou ainda, de acordo com o jornal The Telegraph. “O cânone está a crescer de um lado e a diminuir no outro. Cerca de um terço de todas as peças que têm Shakespeare são peças colaborarias e isso é muito.”

Afinal, Christopher Marlowe também foi Shakespeare

“Ele foi um escritor muito mais sociável do que pensávamos. Ele não estava sozinho, mas trabalhava com outros escritores”, acrescentou o investigador. “Devia trabalhar no teatro, lendo o trabalho dos outros, e em muitos casos, sentava-se com eles e dizia, ‘Vamos fazer uma peça’. Isso não é um modelo de sociabilização com o qual cresci e que aprendi quando era estudante. É algo que estamos a descobrir.”

Nos últimos anos têm surgido vários estudos que defendem que Shakespeare colaborava habitual e ativamente com outros autores. Em 2016, uma equipa de 23 investigadores de diferentes países, que trabalharam em conjunto na nova edição da obra completa de Shakespeare da Oxford, chegou à conclusão de que Marlowe foi coautor das três partes que compõem Henrique VI.

A confirmação foi feita com recurso à mesma análise computacional utilizada por Egan.