A Real Academia Sueca das Ciências decidiu atribuir o prémio Nobel da Química 2022 a Carolyn R. Bertozzi, Morten Meldal e K. Barry Sharpless, pelo desenvolvimento de novas metodologias para a criação de moléculas. O anúncio foi feito esta quarta-feira, às 10h45.

Prémio Nobel da Química atribuído a 3 cientistas por investigações relacionadas com a criação de moléculas.

Carolyn R. Bertozzi, da Universidade Stanford (Estados Unidos), é oitava mulher cientista a receber o prémio Nobel da Química. O prémio monetário de mais de 90o mil euros será partilhado em partes iguais com Morten Meldal, da Universidade de Copenhaga (Dinamarca), e K. Barry Sharpless, do Instituto Scripps (Estados Unidos).

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Barry Sharpless, de 81 anos, é a quinta pessoa a ganhar dois prémios Nobel e a segunda que consegue dois Nobel da Química. O Nobel de 2001 destacou o trabalho feito no âmbito de reações químicas que usam catalisadores (que facilitam a reação), uma tecnologia útil na produção de medicamentos.

Os três laureados foram distinguidos pelo seu trabalho em química de “clique” (click chemistry) e química bio-ortogonal, importante para a criação de moléculas mais complexas, úteis para o desenvolvimento de medicamentos, polímeros, novos materiais, entre outras coisas.

A química de “clique” é, como o nome deixa antever, um processo de encaixe entre dois blocos para que se forme uma molécula mais complexa. Mas, apesar de aparentemente simples, era preciso encontrar os blocos que encaixassem na perfeição e que não se ligassem a nenhuma outra estrutura. K. Barry Sharpless e Morten Meldal conseguiram fazê-lo de forma independente, cada um no seu laboratório.

A simplificação que apareceu com a química de ‘clique’ teria de ser premiada com um Nobel mais cedo ou mais tarde”, disse ao Observador Ana Petronilho, investigadora do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (Oeiras).

Carolyn R. Bertozzi, por sua vez, aproveitou a química de “clique” para ligar blocos de sinalização a biomoléculas, por exemplo, dentro das células. Com estes sinalizadores luminosos, é possível ver (com um microscópio) onde estão e como se movem. A dificuldade, neste caso, foi encontrar moléculas que pudessem fazer o “clique”, mas cuja reação de ligação entre elas não fosse tóxica para a célula — ou seja, que não matasse ou danificasse a célula onde as moléculas se encontram.

A esta nova metodologia, Bertozzi chamou química bio-ortogonal: reações químicas que não interferem com a normal bioquímica da vida. Entre as aplicações estão o uso para diagnóstico de doenças ou para entregar medicamentos a alvos específicos.

A Real Academia Sueca das Ciências atribuiu o prémio Nobel da Química de 2021 aos cientistas Benjamin List e David WC MacMillan pelo desenvolvimento de uma ferramenta que permite criar novas moléculas (organocatálise assimétrica), um procedimento útil para conceber novos fármacos de modo sustentável.

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O prémio Nobel tem um valor total de 10 milhões de coroas suecas (cerca de 920 mil euros) e pode ser atribuído a uma, duas ou três pessoas, sendo o valor do prémio distribuído entre elas.

Curiosidades sobre o Nobel da Química

  • 114 prémios Nobel da Química foram anunciados entre 1901 e 2022
  • 189 indivíduos laureados ao longo de 121 anos
  • 63 prémios foram atribuídos a um único laureado, 25 prémios foram partilhados entre dois investigadores e outros 26 prémios foram partilhados entre três
  • Apenas 8 mulheres foram galardoadas com este prémio: Marie Curie (1911), Irène Joliot-Curie (1935), Dorothy Crowfoot Hodgkin (1964), Ada Yonath (2009); mais recentemente, Frances H. Arnold (2018), Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna (2020), e, agora, Carolyn R. Bertozzi (2022)

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  • Frederick Sanger foi o primeiro a receber o prémio Nobel da Química duas vezes, em 1958 e 1980. Barry Sharpless o segundo (em 2001 e 2022). No total cinco pessoas receberam dois prémios Nobel, incluindo Marie Curie que recebeu o Nobel da Química (1911) e da Física (1903) e Linus Pauling que recebeu o Nobel da Química (1954) e da Paz (1962)
  • Frédéric Joliot foi o mais jovem laureado da Química. Tinha 35 anos quando recebeu o Nobel em 1935 juntamente com a mulher, Irène Joliot-Curie, filha de Marie Curie
  • John B. Goodenough foi o laureado mais velho quando, em 2019, aos 97 anos, recebeu o Nobel da Química

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