Os números do primeiro encontro não enganavam apesar do 2-1 final no Santiago Bernabéu: o total de 36 remates do Real Madrid frente ao Shakhtar mostravam bem o domínio total dos espanhóis frente à equipa ucraniana. Agora, uma semana depois, a realidade foi diametralmente oposta. Sim, o campeão europeu voltou a terminar com mais remates (17-11) e mais bola (56%-44%), mas só mesmo no quinto e último minuto de descontos conseguiu arrancar um empate pela cabeça de Rüdiger, que foi para a frente fazer de avançado e conseguiu desviar um cruzamento de Kroos antes de chocar com o guardião Trubin e ficar a sangrar da testa. O golo de Zubkov aos 46′ não chegou e os blancos estão nos oitavos da Champions.

“Estou como é óbvio triste, é uma pena termos sofrido um golo no último segundo mas fizemos um jogo fantástico. Um jogo fantástico, fantástico, contra a melhor equipa do mundo. Como já tinha dito antes e volto a dizer depois, tenho orgulho nesta equipa. Muito orgulho. O meu coração está cheio. Não é uma vitória, é um ponto para a nossa Ucrânia”, comentou na zona mista Darijo Srna, ex-internacional croata que jogou 15 anos até 2018 pelo conjunto de Donetsk antes de assumir funções diretivas. “Podíamos ter feito mais um ou dois golos mas podemos comparar o Real connosco e isso é um motivo de orgulho para nós”, acrescentou ainda o antigo lateral/ala direto que enfrentara como jogador os espanhóis.

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O Shakhtar quer ser um símbolo para a paz mas não passa ao lado da guerra antes da Champions: “O pequeno-almoço de hoje parecia um funeral”

Houve vários motivos de interesse à volta do encontro, a começar logo pela coreografia preparada com as bandeiras da Ucrânia e da Polónia em cartolinas num estádio cheio em Varsóvia para o Shakhtar fazer uma homenagem ao país e ao povo que tem estado a seu lado desde o início da guerra. Depois, uma tarja grande com a imagem de Benzema com a Bola de Ouro no espaço para os adeptos visitantes. Por fim, o próprio onze inicial do Shakhtar, com dez ucranianos, oito jogadores da formação e sete com 23 ou menos anos. Ainda assim, foi a história do pequeno Ilia Kostushevych, de sete anos, que centrou atenções.

“O Ilia também está um bocadinho triste porque não ganhámos o jogo mas vai estar connosco no próximo jogo em que vamos decidir tudo neste grupo. Ainda temos também o Celtic e estamos dentro, estamos ainda dentro”, comentara Srna, com a criança a seu lado como aconteceu desde o início da guerra. Ilia perdeu os pais em Mariupol, o Shakhtar acolheu-o, Srna foi cuidando dele até encontrar uma família adotiva e ainda hoje a criança está perto da equipa nestas ocasiões, como tem sido normal.

As surpresas não ficariam por aí. Depois de ter falado através de uma vídeochamada com o seu ídolo Luka Modric (que é amigo e ex-companheiro de Srna na seleção) em julho, Ilia teve possibilidade de conhecer ao vivo o médio, que lhe ofereceu uma camisola autografada, tirou algumas fotografias e ficou um pouco à conversa com a criança. Além do menino que viu os pais morrerem em Mariupol, o Shakhtar tem um programa que ajuda mais crianças que ficaram órfãs durante a guerra, encontrando com os seus serviços as melhores famílias adotivas e pagando todos os custos de alimentação e estudos.