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Advogado de profissão, Andrei Nikiforov foi convocado para o exército russo quatro dias depois do Presidente Vladimir Putin ter anunciado a mobilização parcial numa tentativa de reforçar as tropas presentes na Ucrânia. Nikiforov, natural de São Petersburgo, viria a morrer menos de duas semanas depois em território ucraniano.

Foi a irmã que recebeu a convocatória, revelou ao The Moscow Times Alexander Zelensky, presidente da Neva Bar Association, grupo do qual Andrei Nikiforov fazia parte. “Ele avisou-me da notícia, pegou nos seus pertences no dia seguinte e partiu para o centro de treinos”, afirmou. “Era uma boa pessoa, honesta e corajosa”.

Segundo o advogado Pavel Chikov, citado pelo jornal russo, Nikiforov foi morto perto da cidade ucraniana de Lysychansk no dia sete de outubro. Mas este não é o único caso. Os média locais relatam que três homens da região de Krasnoyarsk (Sibéria) morreram no dia 8 de outubro, dez dias depois de serem convocados. Também na região de Chelyabinsk, as autoridades locais confirmaram na terça-feira a morte de cinco homens do distrito de Korkino.

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O mais recente relatório do Instituto para o Estudo da Guerra aponta que os “relatórios sobre as primeiras mortes entre as tropas russas mobilizadas, mal preparadas, na Ucrânia provocaram novas criticas ao comando militar russo“. O think tank, sediado nos Estados Unidos, refere ainda que os relatos “levaram vários bloggers pró-guerra a afirmar que o número de mortos e feridos entre os militares mobilizados é provavelmente maior do que o divulgado, devido à falta de treino prometido, equipamento, coesão da equipa e comandantes, bem como casos repetidos de mobilização indevida”.

Antes da morte dos soldados ser divulgada, o protocolo diz que é necessário que os corpos sejam trazidos para a Rússia e que vários documentos sejam preenchidos, disse ao Moscow Times Valentina Grebenik, da União dos Comités de Mães de Soldados da Rússia. Só depois as famílias são notificadas. Um analista russo ouvido pelo jornal russo considera que a reação das pessoas às mortes vai depender da rapidez com que os cadáveres são trazidos para o país. “Tendo em conta que os menos propensos a falar, os mais complacentes e os analfabetos foram os primeiros a ser enviados para a linha  frente, não não devem ser esperadas reações rápidas dos seus círculos sociais”, afirmou. No entanto prevê que o cenário possa vir a mudar: “É possível que os próximos compreendam o que lhes está a acontecer muito mais rapidamente”.

No início de outubro, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, dizia que os novos soldados enviados pela Rússia, “sem treino ou experiência de combate”, estavam a morrer na guerra. “Entre os ocupantes que morreram já podemos ver aqueles que foram levados há apenas uma ou duas semanas”, afirmou, acusando a Rússia de enviar qualquer tipo de pessoas para substituir os militares mortos em combates. “E quando estes novos morrerem, serão enviadas mais pessoas”.

Novos soldados enviados pela Rússia estão a morrer na guerra, diz Zelensky

Mobilização “estará completa” nas próximas duas semanas, afirma Putin

Esta sexta-feira, o Presidente russo disse que, em apenas três semanas, 222 mil dos 300 mil militares na reserva no país foram mobilizados, um número que ainda não foi confirmado por fontes independentes. Durante uma conferência de imprensa no Cazaquistão, Putin disse ainda que a fase de mobilização parcial de militares deve manter-se ao longo das próximas duas semanas e, depois disso, “estará completa”.

A mobilização, anunciada a 21 de setembro, foi marcada pela fuga de cidadãos russos para países vizinhos como o Cazaquistão, a Geórgia e a Finlândia, procurando deixar o país antes de serem convocados.

Imagens de satélite mostram filas de carros a atravessar da Rússia para a Geórgia

Também se multiplicaram relatos de que a mobilização tem recaído em particular nas regiões mais pobres da Rússia e sobre as minorias étnicas. “Não há nada de parcial sobre a mobilização em Buryatia”, disse à Reuters Alexandra Garmazhapova, presidente da Free Buryatia Foundation, uma organização que presta assistência legal aos cidadãos mobilizados. “Estão a levar todos”, afirmou.

A fundação já recolheu centenas de pedidos de ajuda de residentes de Buryatia (região da Sibéria) cujos familiares receberam convocatórias. Muitos deles com idades acima dos 4o anos e com condições médicas que deveriam desqualificá-los do serviço militar. Garmazhapova estima que só no primeiro dia da mobilização foram convocados entre quatro e cinco mil residentes, em muitos casos os papéis foram distribuídos durante a noite.

Denuncia ainda que do total de mobilizados, um terço pertencia a minorias étnicas, o que considera ser uma escolha política das autoridades locais para agradar ao Kremlin.

Estão a tentar não tocar em São Petersburgo e Moscovo, porque em Moscovo pode haver protestos contra o Kremlin”, sublinhou.

Apesar disso, os protestos chegaram a várias cidades russas no dia do anúncio da mobilização e, segundo a organização de defesa dos direitos civis OVD-Info, mais de mil pessoas foram detidas nesse dia.

Depois de anúncio de Putin sobre mobilização adicional, mais de 1300 manifestantes foram detidos na Rússia