A Microsoft poderá ter de prestar contas à Comissão Europeia em duas áreas, ambas devido a receios ligados a práticas na área da concorrência. A empresa é visada numa queixa na área da cloud e ainda viu Bruxelas abrir uma investigação mais alargada à compra da Activision Blizzard.

Bruxelas recebeu esta quarta-feira uma queixa da CISPE, associação que representa vendedores da indústria da cloud e que inclui a Amazon Web Services, a divisão de cloud da gigante Amazon. A CISPE acusa a tecnológica norte-americana de estar a danificar o ecossistema europeu, onde, através do negócio Azure, a companhia é uma das principais fornecedoras de serviços de computação cloud.

A CISPE alega que os novos termos de serviço da Microsoft, que entraram em vigor a 1 de outubro “de forma unilateral”, estão a criar “danos irreparáveis no ecossistema europeu de computação cloud”. Mas a associação defende que esta não é a única prática comercial da Microsoft a pesar no ecossistema.

“Ao tirar partido do domínio que tem no software de produtividade, a Microsoft limita a escolha e inflaciona os custos à medida que os clientes europeus transitam para a cloud, distorcendo assim a economia digital da Europa”, diz em comunicado Francisco Mingorance, secretário-geral da CISPE.  “O Departamento de Concorrência [da Comissão Europeia] deve agir de forma rápida para abrir uma investigação formal com declarações sobre as objeções contra os abusos das licenças de software da Microsoft para defender o robusto ecossistema cloud de que a Europa precisa e merece.”

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A associação diz que, com esta queixa, quer apoiar os seus membros OVHcloud e Aruba, que “já apresentaram queixas separadamente contra a Microsoft”. “Com a sua própria queixa, a CISPE encara de forma séria questões por resolver e representa o sistema europeu mais alargado de infraestrutura cloud”. Na mesma nota, a associação diz que “procura remédios que possam beneficiar clientes e vendedores”.

Esta não é a única queixa já feita contra a Microsoft sobre o negócio cloud, no qual a empresa tem a segunda maior quota de mercado (21%), atrás da Amazon Web Services (AWS), com 34% (dados Statista). Fornecedores de serviços cloud na Alemanha, Itália, Dinamarca ou França também já apresentaram queixas semelhantes junto da Comissão nos últimos anos, lembra a Reuters.

Investigação de larga escala à compra da empresa de jogos Activision Blizzard

Em janeiro, quando a Microsoft anunciou que ia comprar a Activision Blizzard por quase 69 mil milhões de dólares, surgiram as primeiras dúvidas sobre se a compra da responsável do “Call of Duty” poderia passar no crivo da concorrência. A CMA, a autoridade britânica responsável pela concorrência, abriu uma investigação mais aprofundada, que está atualmente em curso.

Microsoft compra Activision Blizzard, a gigante de videojogos dona de “Call of Duty” e “World of Warcraft”

Mas agora já não é a única. A Comissão Europeia fez uma análise preliminar ao negócio e vai agora avançar com uma investigação mais profunda. “A investigação preliminar da Comissão mostra que a transação pode reduzir significativamente a concorrência nos mercados de distribuição de jogos para consola e PC, incluindo serviços de subscrição multijogos e/ou de serviços cloud de streaming de jogos ou para sistemas operativos para PC”, justifica a Comissão Europeia através de comunicado.

“A investigação preliminar sugere que a Microsoft pode ter a capacidade, assim como o potencial incentivo económico, para iniciar estratégias para limitar os distribuidores de videojogos para consola que sejam rivais da Microsoft.”

Regulador britânico avança com investigação profunda à compra da Activision pela Microsoft

A Microsoft diz que está disponível para trabalhar com Bruxelas para responder às dúvidas sobre questões concorrenciais.

O regulador diz que irá tomar uma decisão até 23 de março. A CMA, a autoridade inglesa, estabeleceu 1 de março de 2023 como o prazo para divulgação das conclusões e decisão final sobre esta aquisição.