No dia em que reuniu a família de centro-direita europeia em Lisboa, Luís Montenegro desafiou Bruxelas a fiscalizar o Governo português e perceber se António Costa está ou não a aplicar as reformas estruturais exigidas pela Europa como contrapartida à aplicação dos fundos europeus.

“Uma ausência que as instituições europeias não têm denunciado, diz alguma coisa sobre como as instituições europeias estão a lidar com a situação atual. Há muito tempo que não ouço a Comissão Europeia estar muito preocupada com isso”, denunciou Montenegro.

Numa conferência que contou com as principais figuras do centro-direita europeu — Manfred Weber, presidente do grupo do Partido Popular Europeu (PPE), Alberto Feijóo, do Partido Popular espanhol, ou Nuno Melo, líder do CDS, por exemplo — Montenegro não deixou de criticar o facto de a União Europeia se comportar, muitas vezes, como uma força pouco “transparente”.

“A Europa não precisa de arranjos entre primeiro-ministros ou chefes de governos”, sublinhou Montenegro, já depois de ter pressionado a sua própria família europeia: “Não devemos ser o partido que colabora com os representantes de alguns governos”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Tendo sempre o atual Governo como pano de fundo, Montenegro não deixou de trazer a atual polémica entre António Costa e Carlos Costa para o centro da assembleia do PPE, em Lisboa, sugerindo que a Europa deve saber se o atual primeiro-ministro interferiu ou não no processo que culminou na venda do Banif ao Santander.

De acordo com o livro O Governador, da autoria do jornalista do Observador Luís Rosa, o governo de António Costa (com Mário Centeno como ministro das Finanças e Vítor Constâncio como ‘vice’ do Banco Central Europeu) terá cozinhado nos bastidores a venda do banco, diminuindo o valor da instituição.

Para Montenegro, importa saber se houve ou não “intromissão” do Governo português e se o Banif foi ou não “oferecido” aos espanhóis do Santander com a luz verde da Europa.

Noutra frente, o líder do PSD pressionou o PPE a exigir junto das instituições europeias que se bata contra o acordo assinado entre Portugal, Espanha e França para a construção de um gasoduto no Mediterrâneo entre Barcelona e Marselha — em detrimento do gasoduto nos Pirenéus, como estava acordado desde 2014.

Os governos socialistas de Portugal e Espanha juntaram-se com o presidente francês Macron para uma operação de pura cosmética política. A Europa não precisa nem de mais fotografias, de mais cimeiras, de mais música para os nossos ouvidos, não precisamos de mais palavras, precisamos de ação e que a Comissão Europeia cumpra o que está escrito desde 2014, incluindo as fontes de financiamento do projeto”, disse o líder social-democrata.

Melo: “Está em curso uma violação do Estado de Direito”

Também Nuno Melo, já depois de ter recordado que foram Mariano Rajoy, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas que salvaram Espanha e Portugal da “bancarrota”, acusou Emmanuel Macron e os socialistas portugueses e espanhóis de estarem a tentar “transformar um fracasso numa vitória”. “A Península Europeia vai permanecer uma ilha no que respeita à eletricidade. Isto tem de ser dito para que a propaganda não prevaleça sobre a verdade”, atirou Melo.

Já depois disso, o líder do CDS denunciou as mudanças na lei respeitantes ao funcionamento da Interpol e da Europol, que, de acordo com novo diploma do Governo, vão passar estar sob a dependência do secretário-geral do Sistema de Segurança Interna (SSI), que por sua vez está na dependência direta do primeiro-ministro.

Aliás, Marcelo Rebelo de Sousa pediu esta quinta-feira a fiscalização do diploma junto do Tribunal Constitucional por acreditar que pode estar em causa a “autonomia” da Interpol e da Europol. Nuno Melo, por sua vez, não tem dúvidas: “Está em curso uma violação do Estado de Direito”.

Marcelo envia diploma que retira gabinetes de Europol e Interpol da PJ para o Constitucional