Enviado especial do Observador em Doha, no Qatar

Depois da polémica saída de Paulo Sousa do comando da Polónia para rumar ao Flamengo (uma aventura que não durou mais do que cinco meses), Czelaw Michniewicz subiu dos Sub-21 para assumir o comando da equipa com uma grande missão: garantir o apuramento para o Mundial. Ou neste caso, em virtude de todos os castigos à Rússia pela invasão à Ucrânia, ganhar uma autêntica final frente à Suécia. Conseguiu. Todavia, a forma como lá chegou acabou por ser também o princípio para sair – da competição e quiçá do seu melhor jogador. Ainda falta até à organização conjunta entre EUA, México e Canadá em 2026 mas até esse momento muito se falará sobre em que ponto está a Polónia e até onde projeta que consegue chegar nessa fase.

36 anos depois, os Orly alcançaram novamente a segunda fase da competição, algo que igualou o melhor resultado da equipa em Mundiais ao longo das últimas quatro décadas. Muito longe vão os tempos em que a Polónia de Boniek e companhia conseguiam chegar às meias-finais e também por isso houve um sentimento de dever cumprido com a obtenção dessa meta. No entanto, a forma como lá chegou foi “curta”. Foi curta porque a exibição com o México deixou muito a desejar, foi curta porque o jogo com a Arábia Saudita podia ter caído para o outro lado de Szczesny não defendesse um penálti, foi curta porque a Argentina não deixou o mínimo de capacidade de reação. Com mais um golo teria passado o México, ainda que a festa dos polacos no relvado do Estádio 974 apontasse para outro sentido. Com a França, desceram à realidade.

A postura demasiado defensiva da equipa foi muitas vezes critica e voltou a estar bem patente na partida dos oitavos, com Lewandowski perdido na frente de um 4x1x4x1 que deixava os companheiros mais próximos a 20 ou mais metros do avançado tendo três mais valias no banco para fazer parelha com o jogador no ataque. Se aquela oportunidade de Zielisnki e Frankowski no primeiro tempo tem entrado a história do jogo podia ser diferente mas nem por isso a Polónia seria melhor do que aquilo que sempre foi neste Mundial: curta. Apesar de ter marcado dois dos três golos da equipa em quatro jogos, com um penálti falhado frente aos mexicanos e outro com os gauleses que foi depois repetido por irregularidade de Lloris, soube a pouco a Robert Lewandowski. Mas, mesmo tendo 34 anos, este pode não ter sido o último Mundial.

“Tivemos uma boa entrada, oportunidades para marcar um golo que podia mudar o rumo do jogo mas no penúltimo minuto da primeira parte acabámos por sofrer, o que é sempre complicado para uma equipa ter esse revés. No segundo tempo continuámos à procura do golo mas quando se joga contra a França já se sabe como é, são uma grande equipa. Tentámos fazer o nosso melhor, no final ainda marcámos mas antes já tínhamos concedido três. Por um lado podemos sentir-nos orgulhosos porque demos tudo mas por outro perdemos, o que é sempre complicado”, comentou o capitão polaco num posto da zona mista depois da partida com a França onde falou em inglês depois de já ter estado a abordar o jogo em polaco.

“Barcelona? Agora vou ter alguns dias fora. Queria ainda estar no Campeonato do Mundo mas no final acabámos por conseguir o nosso objetivo, que era chegar à segunda fase. Claro que quando se joga contra o campeão do mundo é sempre complicado, sabemos o tipo de jogo que é mas como equipa tentámos tudo mas é um nível muito grande”, prosseguiu, antes da questão que todos queriam ver respondida mas que ficou sem uma resposta concreta: “Último Mundial? Fisicamente não acho que tenho problemas mas temos várias coisas até fora do futebol em que temos de pensar e decidir… Se a alegria ainda está lá toda, se tudo está bem à volta. O jogo defensivo não ajuda a essa alegria. É difícil dar uma resposta agora. Mas fisicamente e desportivamente não tenho receios mas terei de ver ainda tudo o resto. Só com isso posso dizer…”.

Com mais um golo pela Polónia, Lewandowski passou também o número de remates certeiros de Pelé pelo Brasil, subindo a oitavo da lista dos melhores marcadores de sempre de seleções comandada por Cristiano Ronaldo e que tem o iraniano Ali Daei na segunda posição. A única coisa que ficou mesmo por saber foi o tema da conversa com Kylian Mbappé no relvado após o jogo, sendo que o Le Parisien dizia antes do encontro que o francês, mais uma vez decisivo, tinha tentado convencer o avançado a rumar ao PSG e não ao Barcelona quando se cruzaram num evento em maio, à margem do Festival de Cinema de Cannes.

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