Enviado especial do Observador em Doha, no Qatar

– Alô Thiago, bom ver-te aqui de novo… Olha, ajuda a gente: depois da derrota para os Camarões, vamos ganhar a Copa? E já vai haver Neymar?

Thiago Silva, meio envergonhado a olhar para o lado para saber como era da resposta que ele sabia mas não queria dar sob pena de estragar alguma surpresa, nem chegou a responder perante o avanço de Tite.

– Sim!

– Pronto, sobre esta está respondida, acrescentou Thiago Silva.

Foi assim que começou a conferência de imprensa do Brasil, numa sala cheia onde quem entrasse cinco a sete minutos antes tinha de ir para a última fila e a pedir licença ao companheiro do lado para tirar a mochila que ali estava. No entanto, era sobretudo isso que todos os jornalistas, na maioria brasileiros, estavam à espera. Ficou resolvido, bola para a frente. E a bola teria um pouco de tudo incluindo algo que não estava propriamente ligado à bola mas que deu muito que falar relacionado com as saídas dos jogadores na folga, numa conferência onde os jornalistas brasileiros não fugiram a nenhuma questão que estava por responder.

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“Não podemos ter a certeza da passagem, podemos ter a certeza de que fizemos bem o nosso planeamento. A partir do momento em que saímos de casa temos um risco, claro, mas estamos bem fisicamente para o jogo com a Coreia. Não vamos pensar que vai ser fácil, não vamos pensar no resultado do particular que fizemos com eles, a Coreia passou um grupo muito complicado”, começou por dizer, recordando a goleada alcançada num particular este ano. “Em 2010 perdi um jogo e fui para casa, em 2014 perdi um jogo e fui para casa, em 2018 perdi um jogo e fui para casa, em 2022 perdi um jogo e estou nos oitavos. Dificilmente vamos ter mais uma oportunidade e vamos lutar de todas as maneiras pelo sucesso”, acrescentou depois o central, que iria abordar três grandes temas de seguida: lesões, dia de folga e… os nomes da Coreia do Sul.

“Antes do treino foi um momento doloroso ver os meninos [Alex Telles e Gabriel Jesus] naquela situação por não poderem estar mais connosco em campo. Foi bom ver o Danilo bem, o Ney em campo, o Alex Sandro a evoluir. Poupanças? Foi tudo muito bem pensado pela comissão técnica. É certo que se tivesse saído mais um golo estaríamos aqui apanhando um montão mas acreditamos no nosso planeamento. Tudo deu certo menos a lesão dos meninos”, disse. “Fui um dos que pediu a folga, os jogadores saíram para jantar com os seus familiares, não vejo problema nenhum. Até fortalece, a força também vem daí. Se querem atrapalhar o nosso caminho, sinto muito”, atirou depois sobre as notícias que falavam dessa pausa dos jogadores.

“Nomes além do Son? Em termos de nomes fica difícil, desculpa… Mas jogam a um nível alto, o primeiro centro campista tem uma qualidade incrível de passe. Defensivamente são muito bons e sabem sair no contra-ataque, o segundo golo no último jogo foi assim. Todo o cuidado é pouco”, salientou antes de receber de forma disfarçada uma folha de um dos adjuntos de Tite que estava também a responder a questões, César Sampaio, onde tinham os nomes. “O que estava a dizer era o Song, o 6. E o Lee também é muito técnico”, referiu entre gargalhadas depois da “cábula” que tinha sido passada pelo número 2 da equipa técnica.

A seguir, falou Tite. E tinha muito para dizer, entre o cuidado que é mais do que notório em relação à forma como fala com os jornalistas na tentativa de não hostilizar nada nem ninguém nesta fase decisiva.

“Sobre o Neymar, sabia que ia ser uma grande perguntar. Eu não passo informação falsa, nunca fiz isso na carreira e vocês sabem disso. Ele treina hoje à tarde, se estiver bem vai para o jogo. Melhor no início ou no fim? Prefiro pagar o preço de ser melhor desde início”, explicou, antes de falar sobre a lesão de Gabriel Jesus e as notícias de que já teria vindo tocado do Arsenal. “Muito obrigado pela sua pergunta Isabella [jor. Isso não pode ecoar, é do mal, é do ruim. Nós nunca pagámos o preço de vitória pela saúde de atleta. Esse mentiroso, esses haters, que plantam mentiras… Nós temos responsabilidade e ética”, vincou.

“Tenso ou confiante? Estou em paz, em paz… Mesmo depois da derrota com os Camarões… Quem ficou fora mais descansado, quem jogou bem fica mais confiança, quem não jogou pode melhorar”, comentou ainda antes de começar a contar histórias sobre Pelé e o dia em que conheceu o Rei. “Obrigado pela pergunta, devida ter começado a coletiva logo na entrada com isso. O Pelé foi a única pessoa em que tremi pessoalmente ao cumprimentar, de coração e emoção. Em 2018, no sorteio, alguém disse para ir dar um abraço ao Pelé e a minha mão suou, a pulsação aumentou. É a representação humana de um cara que… Saúde Pelé, é esse o carinho que posso dar”, comentou, sendo que na última pergunta da conferência o conhecido jornalista Galvão Bueno, que fez três Mundiais com o Rei, confidenciou que tem vindo a trocar mensagens com ele e que apesar do nervosismo o que lhe faz bem é ver os jogos do Brasil.

E para o final estava ainda guardada mais uma reflexão típica de Tite, a propósito das críticas pela derrota sofrida frente aos Camarões. “Palavra de honra que não posso, cada momento tem o seu contexto… Temos de construir, eu vejo as coisas que outra forma… Isto não é técnico contra a imprensa. É na grandeza das ideias que se avança, as opiniões também fazem parte. Há sempre ideias diferentes, claro”, terminou.