O Conselho de Segurança da ONU vai discutir esta quinta-feira as tensões entre Israel e Palestina, depois das críticas da comunidade internacional à visita de um ministro israelita à Esplanada das Mesquitas em Jerusalém Oriental, foi divulgado esta quarta-feira.

As Nações Unidas confirmaram em comunicado que os 15 Estados-membros do Conselho de Segurança vão reunir-se esta quinta-feira às 15h00 (20h00 em Lisboa), para discutir “a situação no Médio Oriente, em particular as tensões em Jerusalém e nos arredores”.

O Conselho de Segurança já adotou várias resoluções sobre o conflito israelo-palestiniano e a ONU reafirmou na terça-feira “a importância de manter o status quo nos locais sagrados”.

O terceiro local mais sagrado do Islão e o local mais sagrado do judaísmo, conhecido como “Monte do Templo”, a Esplanada das Mesquitas está localizada na Cidade Velha de Jerusalém, no setor palestiniano ocupado e anexado por Israel.

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Em virtude do status quo histórico, os não-muçulmanos podem visitar o local em momentos específicos, mas não podem rezar ali. Nos últimos anos, contudo, um número crescente de judeus, sobretudo nacionalistas, têm-no feito, o que tem sido denunciado pelos palestinianos como uma “provocação”.

De acordo com o estatuto vigente desde 1967 – quando Israel ocupou a parte oriental de Jerusalém, onde fica a Esplanada – o local é reservado exclusivamente para o culto de muçulmanos, enquanto os judeus só podem entrar como visitantes, já que as leis judaicas proíbem os seus fiéis de rezar no lugar mais sagrado da sua religião, algo reservado apenas para alguns rabinos.

Ministro israelita visita Esplanada das Mesquitas. Hamas considera prelúdio para uma escalada na região”

O novo ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben Gvir, líder do partido ultranacionalista Otzma Yehudit (Poder Judeu), visitou na terça-feira a Esplanadas das Mesquitas.

A visita de Ben Gvir, que percorreu o complexo e nunca parou para rezar, foi condenada tanto por fações palestinianas na Cisjordânia ocupada e na Faixa de Gaza, como por vários países árabes e muçulmanos, bem como pela Liga Árabe e pela Organização de Cooperação Islâmica (OIC).

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, defendeu a polémica visita, dizendo que não representa uma mudança no estatuto do local, sagrado para judeus e muçulmanos.

A visita à Esplanada das Mesquitas em setembro de 2000 pelo então líder do Likud (o mesmo partido de Netanyahu, direita), Ariel Sharon, foi o detonador da Segunda Intifada, quando a entrada massiva de judeus no complexo — e cargas policiais visando palestinianos – desencadeou uma vaga de violência em maio de 2021, conduzindo a uma escalada militar e confrontos entre árabes e judeus em várias cidades de Israel.

Ministro palestiniano alerta para “guerra religiosa” após visita de ministro israelita a Esplanada das Mesquitas

O governo palestiniano alertou para o risco de “uma guerra religiosa” após a visita de Ben Gvir à Esplanada das Mesquitas, considerando-a uma “contínua agressão” àquele local designado pelos judeus como Monte do Templo.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) palestiniano chamou ao ministro israelita, Itamar Ben Gvir, “supremacista e fascista” e instou a comunidade internacional a “agir urgentemente para impedir a iminente explosão da situação na Palestina e as graves ameaças que os crimes e violações israelitas representam para a paz e a segurança internacionais”.

Segundo o MNE palestiniano, o ministro da Segurança Pública de Israel, líder do partido de extrema-direita Otzma Yehudit (Poder Judeu), “tem realizado repetidos atos de incitação contra o povo palestiniano e o seu lugar sagrado” e “tem repetidamente instigado à violência e ao terrorismo com a sua retórica incendiária, as suas ameaças de ódio e os seus atos provocatórios”.

O ministério palestiniano denunciou ainda que a visita de Ben Gvir contou com a “proteção das forças ocupantes israelitas”, naquilo que descreveu como “uma nova tentativa beligerante de reafirmar a soberania israelita sobre os lugares sagrados, o que representa uma grave violação do Direito Internacional”.

“O Estado da Palestina considera Israel, potência ocupante, e os seus políticos e funcionários, totalmente responsáveis pelas explosivas repercussões das suas contínuas medidas ilegais e provocatórias, que terão consequências a longo prazo para a paz e a segurança regional e internacional”, sublinhou.

Reiterou que a Esplanada das Mesquitas “é um lugar de oração muçulmano, protegido e preservado pelo status quo histórico e internacionalmente acordado, sob a autoridade exclusiva do Património e a custódia da Jordânia”.

Os permanentes ataques de Israel à Esplanada das Mesquitas têm claramente como objetivo a sua divisão espacial e temporal, para permitir que os judeus ali rezem e impor o controlo de Israel sobre o lugar sagrado”, prosseguiu o MNE palestiniano.

“Recordamos que Israel, potência ocupante, não tem legitimidade ou soberania sobre Jerusalém, incluindo Jerusalém oriental, a sua Cidade Velha, as suas muralhas e os seus lugares sagrados”, acrescentou.

Por isso, apelou para que “todos os países e organizações atuem urgentemente, tanto de forma coletiva como individual, para conter e exigir o fim imediato de todas as agressões de Israel, potência ocupante, ao povo palestiniano e seus lugares sagrados, especialmente em Jerusalém”.

“As condenações e o não-reconhecimento devem ser apoiados por medidas sérias e tangíveis de responsabilização, que são imperativas para pôr fim a estas perigosas provocações e estas políticas e ações ilegais”, defendeu o MNE palestiniano.

No mesmo sentido, divulgou um segundo comunicado no qual aplaudiu o “claro consenso internacional“, devido à torrente de críticas a Ben Gvir pela sua visita, emitida por países árabes e muçulmanos e outros Estados ocidentais, entre os quais os Estados Unidos, França e a Alemanha.

“O ministério considera que tais reações refletem um claro consenso internacional não só na rejeição e na condenação das práticas do Estado ocupante em Jerusalém, mas também quanto à abordagem do que é parte integral do território palestiniano ocupado desde 1967, de acordo com as resoluções internacionais”, indicou.

Vincou mesmo tratar-se de “uma mensagem global com características e conteúdo claros para o Governo extremista do [primeiro-ministro israelita, Benjamin] Netanyahu, que inclui uma advertência contra a aplicação de medidas ou ações que prejudiquem a situação em Jerusalém e na totalidade dos Territórios Palestinianos Ocupados”.

Ben Gvir defendeu nas últimas horas a sua visita à Esplanada das Mesquitas e condenou “o racismo” existente, pelo facto de o statu quo proibir de ali rezar os judeus que entram no Monte do Templo.