O presidente da Associação Solidariedade Imigrante responsabilizou os poderes central e local pela falta de uma política de habitação digna, apontando que situações de sobrelotação em habitações estão sinalizadas há muito tempo, mas “ninguém fez nada”.

Duas pessoas morreram e 14 ficaram feridas no sábado após um incêndio ter deflagrado num rés-do-chão de um prédio na Mouraria, em Lisboa, onde viviam 22 pessoas, todas elas imigrantes. O prédio ficou inabitável e 20 pessoas ficaram sem casa.

Em declarações à agência Lusa, Timóteo Macedo apontou que “todo o mundo anda distraído” porque situações como a que aconteceu no fim de semana “já são antigas”.

“São situações que já foram sinalizadas há muito tempo, pela opinião pública, pela comunicação social, até pelos poderes locais, juntas de freguesia, Câmara Municipal de Lisboa, só que ninguém fez nada”, criticou.

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“Só quando há sangue é que as pessoas reagem. Lamentável. Esta situação é lamentável. As pessoas vivem em situações precárias. É impossível as pessoas poderem ter habitação para viverem condignamente”, acrescentou.

Todos os desalojados do incêndio na Mouraria são estrangeiros. Morreram duas pessoas e há 14 feridos

Salientou que os imigrantes que vivem em Portugal estão a ajudar o país, contribuindo de uma forma “extraordinária” para a sustentabilidade da Segurança Social.

“A questão da habitação fica para depois, não há políticas públicas decentes para resolver estes problemas. É preciso arrepiar caminho e exigir do Governo e do poder local que efetivamente faça alguma coisa. Deixem de dormir. Chega. É preciso reagir, é preciso a construção de políticas de habitação que sejam dignas e humanas”, exigiu.

Sublinhou que se trata de uma questão de direitos humanos e que todas as pessoas deveriam ter acesso a uma habitação digna, apontando que é uma reivindicação “antiga, muito antiga”.

Timóteo Macedo alertou que “as pessoas precisam de teto para viver” e que, por isso, se trata de uma emergência cidadã.

“Urge resgatar este Governo que está a dormir, os poderes locais estão a dormir. Só quando acontecem casos destes é que falam, não pode ser”, criticou, defendendo a necessidade de “políticas públicas direcionadas para o direito à habitação” e recusando “políticas de caridade”.

Recusou, por outro lado, que Portugal tenha boas políticas de imigração, dando como exemplo o que aconteceu na Mouraria e o que “acontece com outros milhares de imigrantes que vivem em situações iguais”.

“Estão espalhados pelo casco velho da cidade de Lisboa. Todo o mundo sabe, mas ninguém faz nada”, apontou, salientando que “são cada vez mais os incêndios” nos bairros mais antigos e centrais da cidade, responsabilizando em parte a autarquia pela falta de fiscalização.

Para Timóteo Macedo, cabe ao poder central definir as políticas de habitação que quer, seja para o país ou para a cidade de Lisboa, defendendo que as pessoas precisam de respostas habitacionais dignas e não verem-se “empurradas” para situações que não são mais do que meras alternativas a viverem na rua.