O Arsenal perdera na véspera com o Everton, o Manchester City tinha uma oportunidade de ouro para poder reduzir distâncias para a liderança. No entanto, manteve-se a maldição do novo estádio do Tottenham. E se no Etihad ainda houve uma reviravolta na segunda parte que anulou uma desvantagem de dois golos para a vitória por 4-2, em Londres o golo de Harry Kane aos 15′ não teve resposta. A equipa de Pep Guardiola sofria a quarta derrota na Premier antes de mais uma semana em que o clube voltou a ser falado por razões extras desportivas. No entanto, e após o encontro, não houve qualquer palavra para a “bomba” que se seguiria.

“Uma série de quebras das regras de fair play financeiro”: Manchester City arrisca multas, perda de pontos ou mesmo descida da Premier

De acordo com o The Athletic, Khaldoon Al Mubarak, presidente dos citizens, desceu ao balneário depois do desaire com os londrinos e esteve 45 minutos à conversa com a equipa, juntando-se um pouco depois Ferran Soriano, diretor executivo do campeão inglês. À partida, poderia ser uma oportunidade para abordar aquilo que a Premier League iria revelar umas horas depois. Não foi. E durante esse período só se falou de futebol, com o dirigente a fazer ver que o clube dava todas as condições para que os jogadores pudessem travar essa irregularidade que tem marcado a época e poderá custar a revalidação do título no final da época. Em tudo o resto, nada foi assunto. Pelo menos até à manhã de segunda-feira, quando caiu a tal “bomba”.

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Só poucas pessoas souberam em termos internos aquilo que passadas umas horas era conhecido em termos mundiais. Pep Guardiola foi uma delas. No entanto, a grande maioria de funcionários, incluindo jogadores, soube pela imprensa e pelas redes sociais. Por volta das 14h, quando já tinha saído também o comunicado oficial do clube a reagir ao sucedido, alguns executivos do Manchester City, incluindo Ferran Soriano, foram falar com o plantel para reiterar que não existia qualquer irregularidade e que iriam lutar por tudo para que o nome dos citizens ficasse limpo da investigação. Os restantes funcionários receberam durante a tarde um email por parte do clube a remeter para o comunicado que tinha sido colocado no site oficial.

Duas épocas fora da Europa e 30 milhões de multa: o que fez o City para uma sanção tão pesada da UEFA?

Tudo acabou por ser relativizado na mensagem para “dentro”. Por um lado, a argumentação despreocupada que foi utilizada junto do plantel tinha sido a mesma de 2020, quando o clube foi sancionado pela UEFA com dois anos de exclusão das provas europeias e uma multa de 30 milhões de euros antes de ver o Tribunal Arbitral do Desporto aceitar o recurso apresentado pelo Manchester City. Por outro, a morosidade que este tipo de situações costuma envolver, com algumas fontes internas a agarrarem na frase de Pep Guardiola, quando disse que se lhe tivessem mentido sairia no dia seguinte, para dizer que quando houver uma decisão sobre todo o processo é muito provável que o técnico espanhol já não esteja no Etihad Stadium.

TAD anula decisão e Manchester City poderá participar nas provas europeias

De recordar que a investigação começou um mês depois da publicação no Der Spiegel de documentos que alegadamente mostravam a forma como os acordos de patrocínio do Manchester City eram inflacionados para que pudesse entrar dinheiro que pertencia na mesma a companhias de Abu Dhabi com o objetivo de manter o equilíbrio nas contas. No entanto, e entre as mais de 100 infrações apontadas pela Premier League, essa é apenas mais uma (com vários pontos na mesma) entre o que se passou entre os anos de 2009, por altura da compra do clube por parte da família real de Abu Dhabi, e 2018 num total de nove épocas.

O caso do antigo técnico italiano Roberto Mancini, que se sagrou campeão inglês pelo clube nesse período, é um exemplo paradigmático das tais irregularidades: além de ter um salário “oficial” pago e registado nas contas do Manchester City, o transalpino tinha um outro contrato fictício como consultor da Al Jazeera que mais não era do que um complemento do ordenado sem que entrasse nas contas do exercício. Depois, há anos em que a Premier acusa o atual campeão inglês de não cumprir na realidade as regras do fair play financeiro e outros em que entende haver informações falsas a nível de lucro e sustentabilidade. A isso junta-se ainda a falta de ajuda e até bloqueio à investigação nos últimos quatro anos, algo que será agora avaliado por uma comissão independente com possibilidade de multa, perda de pontos ou mesmo descida.