Abril ainda não vai a meio, todos pensam na última semana do mês. O saldo do Arsenal nos confrontos com o Manchester City, inclusivamente desde que Mikel Arteta assumiu o comando dos londrinos, não é de longe o mais famoso mas a vantagem de cinco pontos que a equipa mantinha na Premier League permitia encarar o encontro que muitos consideram ser o decisivo para a definição do título de outra forma, com muito menos pressão e até a piscar o olho a uma finta ao histórico negativo. No entanto, e até esse jogo grande no Etihad Stadium, os gunners tinham três verdadeiros testes à capacidade de quebrar as quase duas décadas sem a conquista do Campeonato a começar por um clássico em Anfield frente ao imprevisível Liverpool.

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Com a entrada na próxima fase de grupos da Liga dos Campeões a ser quase uma miragem, o conjunto de Jürgen Klopp procurava ainda uma vaga nas competições europeias da próxima época. No entanto, ninguém poderia adivinhar ao certo que versão iria surgir frente ao Arsenal. Aquela que foi capaz de “atropelar” o Manchester United? Aquela foi que “atropelada” pelo Manchester City? Aquela competitiva que não teve o condão de “atropelar” mas também não se deixou “atropelar” frente ao Chelsea? Uma das três, por certo. E muito do que poderiam fazer os reds dependeria da capacidade dos líderes do Campeonato em apagar os pontos fortes do adversário para depois potenciarem aqueles que têm sido os seus pontos mais fortes.

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“Não podes treinar os jogadores no Jardim Zoológico para depois irem para a selva, no domingo [dia do jogo com o Liverpool]. É impossível. Tens de te expor, tens de preparar os jogadores, tens de dizer-lhes aquilo que vão enfrentar e tens de reconhecer isso mesmo. Como está a equipa? A equipa está cheia de entusiasmo e otimismo. Sabemos que temos um grande desafio pela frente mas ir a Anfield é uma oportunidade para fazer algo que não fizemos em muitos anos”, comentara Mikel Arteta, sabendo que desde 2012 que o Arsenal não ganhava fora ao Liverpool para a Premier League e que nos últimos seis jogos tinha sido sempre derrotado a sofrer sempre três ou mais golos entre goleadas como o 4-0 de 2021/22.

Não sendo decisivo, era muito importante. Para o Liverpool, que sem mais nenhuma competição tentava ainda limpar a face de uma época para esquecer. Para o Arsenal, que sabia que em caso de deslize poderia ficar com cinco ou seis pontos de avanço do Manchester City (que goleara o Southampton na véspera) tendo um encontro a mais – ou seja, ficando à mercê do conjunto de Pep Guardiola. Mesmo abdicando agora que tocar nos treinos o You’ll Never Walk Alone que se ouve em Anfield após a má experiência da última época, a questão de jogar num dos recintos mais míticos do futebol inglês e mundial acabou por pesar, com uma entrada de sonho a marcar dois golos e uma saída de pesadelo que podia ser maior ainda do que o empate. Uma coisa é certa: a partir daqui, também o Manchester City só depende de si. E isso, apesar dos seis pontos de diferença com menos um encontro e o City-Arsenal daqui a três jornadas, pode mudar tudo.

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O encontro começou com uma primeira ameaça de Gakpo, numa diagonal da esquerda para o meio com um remate que saiu depois muito por cima (5′), e com um primeiro golo do Arsenal a mostrar como a defesa do Liverpool se transformou esta temporada numa autêntica lei de Murphy onde tudo o que pode correr mal, corre ainda pior: Ben White abriu em Saka, o passe do internacional inglês foi cortado por Van Dijk para os pés de Gabriel Martinelli e o brasileiro deu um simples toque a desviar de Alisson para o 1-0 (7′). Os gunners abafavam por completo os reds com uma pressão alta que deixava expostos todos os problemas da equipa de Klopp, Gabriel Jesus ainda ameaçou o segundo mas nem um grande passe de Fabinho para o remate cruzado de Robertson que saiu a rasar o poste como acordou a formação da casa (20′), que sofreu mesmo o segundo por Gabriel Jesus após cruzamento de Martinelli com os centrais de novo aos papéis (28′). No entanto, antes do intervalo, o inevitável Salah reduziu com um desvio na pequena área e reabriu o jogo (42′).

Diogo Jota e Henderson ainda ameaçaram o empate nos descontos sem sucesso e o ambiente estava cada vez mais frenético em Anfield, naquele que seria um teste ainda mais duro à resistência do Arsenal. E o Liverpool não quis perder esse fôlego, com uma entrada a todo o gás e a pressionar alto como os gunners tinham feito no arranque da partida e uma grande penalidade falhada por Salah após falta sobre Diogo Jota (53′) antes de uma grande defesa de Ramsdale a evitar o empate do egípcio (56′). O ritmo depois acabou por abrandar mas nem por isso os visitados continuaram a dar tudo para chegarem à igualdade, com Darwin Núñez a surgir também isolado na cara de Ramsdale para nova intervenção do guarda-redes (81′) e Firmino a fazer mesmo o 2-2 a três minutos do final, de cabeça após cruzamento da direita de Alexander-Arnold antes de Ramsdale fazer mais duas intervenções espectaculares nos descontos que evitaram males ainda maiores.