O Presidente francês, Emmanuel Macron, declarou esta quarta-feira que ser aliado dos Estados Unidos não significa necessariamente ser “vassalo”, assumindo totalmente as declarações polémicas que emitiu sobre Taiwan.

Ser aliado não significa ser vassalo. Não é por sermos aliados (…) que deixamos de ter o direito de pensar por nós mesmos“, defendeu, numa conferência de imprensa em Amesterdão, após uma reunião com o primeiro-ministro neerlandês, Mark Rutte.

“E que vamos atrás das pessoas que são mais radicais num país que é nosso aliado”, acrescentou, numa aparente referência a responsáveis do Partido Republicano norte-americano, muito ofensivos em relação à China.

França “é a favor do ‘statu quo’ em Taiwan, apoia a política de uma só China e a procura de uma solução pacífica para a situação”, acrescentou, depois de Pequim ter realizado três dias de manobras militares em torno da ilha que incluíram um “cerco total” com 11 navios de guerra, mais de 70 caças e fogo real.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Emmanuel Macron desencadeou uma onda de incompreensão nos Estados Unidos e na Europa ao apelar à União Europeia para não ser “seguidista” de Washington ou Pequim quanto à questão de Taiwan.

Tais comentários foram logo interpretados como um distanciamento em relação a Washington, quando os Estados Unidos estão, em contraste, muito envolvidos no apoio à Ucrânia desde o início da ofensiva russa, há mais de um ano.

Por exemplo, o ex-presidente norte-americano Donald Trump, embora salientando que Macron “é um amigo”, disse que este está a adotar uma posição subserviente em relação à China, que descreveu utilizando uma expressão insultuosa.

A posição de França e dos europeus em relação a Taiwan é a mesma: somos a favor do ‘statu quo'”, declarou, no entanto, o Presidente francês em Amesterdão. “É permanente esta política, não se alterou”, acrescentou.

Lamentou, em seguida, que Trump “esteja a participar nesta escalada [da crispação entre França e Estados Unidos] que alguns pretendem que ocorra, dizendo: “Quando ele era Presidente, eu não comentava as suas declarações, e não vou fazê-lo agora que ele já não é Presidente”.

Saudou, em contrapartida, a vontade expressa pelo Presidente norte-americano, o Democrata Joe Biden, “de evitar qualquer escalada apesar das tensões atuais”.

Uma fonte diplomática francesa disse esta quarta-feira que Paris não se desinteressou das tensões em torno de Taiwan, recordando que uma fragata francesa se encontrava no estreito de Taiwan quando a China realizou as suas mais recentes manobras militares para pressionar a ilha, que terminaram na segunda-feira.

A China considera Taiwan uma província que ainda não conseguiu reunificar com o resto do seu território desde o fim da guerra civil chinesa, em 1949.

A ilha, atualmente com 23 milhões de habitantes, vive autonomamente desde então, mas Pequim reivindica a soberania e ameaça tomá-la pela força se esta declarar a independência.

A Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, esteve nos Estados Unidos na semana passada, onde se reuniu com o presidente da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy — um encontro que Pequim considerou uma provocação e em retaliação ao qual organizou as manobras militares.

Taiwan tem estado no centro das divergências entre a China e os Estados Unidos, o principal aliado e fornecedor de armas da ilha.

A China está descontente com a aproximação nos últimos anos entre as autoridades de Taiwan e os Estados Unidos, apesar da ausência de relações formais entre Taipé e Washington.