Nenhuma queixa de assédio feita no ano passado à Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL) chegou a tribunal, revelou esta quinta-feira a instituição, que está a elaborar um código de conduta para a prevenção e combate ao assédio.

Há um ano, o Conselho Pedagógico da FDUL abriu uma linha de denúncias e, em apenas 11 dias, recebeu 50 queixas de assédio e discriminação que acusavam 10% dos professores da faculdade.

Ativista argentina Moira Millán já tinha denunciado episódio de assédio de Boaventura de Sousa Santos

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Entre os acusados, havia um docente que era alvo de nove queixas e outros dois a quem eram atribuídos cinco crimes a cada.

Questionada sobre as diligências levadas a cabo na sequência das denúncias, a instituição explicou que todas as denúncias eram anónimas, tendo o Conselho Pedagógico elaborado um relatório que “foi enviado pela Faculdade ao Ministério Público que procedeu ao seu arquivamento”, explicou à Lusa o gabinete de imprensa da Faculdade de Direito.

Na altura, a Faculdade de Direito decidiu também criar um Gabinete de Apoio à Vítima (GAV), para ajudar a lidar com situações de assédio e discriminação, de forma confidencial, oferecendo aconselhamento jurídico e psicológico.

O GAV recebeu, ainda durante o ano passado, 10 denúncias e “a todas foi dado o adequado seguimento, tanto que daí resultaram três processos de inquérito aos quais foram atribuídos instrutores externos à FDUL, que concluíram pelo seu arquivamento, por prescrição”.

A Lusa questionou a instituição sobre a data das alegadas ocorrências e qual o tipo de situação relatada nas denúncias, mas instituição disse que “a Faculdade não pode revelar o conteúdo das queixas objeto de análise”.

Investigador do CES Coimbra diz que denúncias de assédio são “insinuações fantasiosas”

Em dezembro do ano passado, a Faculdade explicou o que aconteceu às restantes queixas: duas eram de natureza pedagógica e cinco relativas a “factos absolutamente prescritos, relacionados com o funcionamento dos serviços ou juridicamente não relevantes”.

Desde então, não surgiram novas queixas, mas a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa decidiu manter o serviço em funcionamento por lhe “atribuir relevância ao projeto como resposta a quem se encontre num estado de fragilidade perante situações de assédio”.

O gabinete de imprensa anunciou ainda que a instituição está a elaborar um código de conduta, que conta com a participação de representantes de todos os órgãos da Faculdade.

Em dezembro do ano passado, a Federação Académica de Lisboa realizou um inquérito que revelou que cerca de dois em cada dez estudantes universitários já tinham sido vítimas ou testemunhas de casos de assédio.

Assédio na Faculdade de Direito. Professor terá pressionado colega para não falar sobre denúncias

A maioria dos inquiridos (85%) disse na altura não ter conhecimento de qualquer gabinete ou linha de denúncia, defendendo a importância da sua existência.

Esta semana vieram a público acusações de assédio e violência sexual no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra feitas por três investigadoras.

Os acusados são o sociólogo Boaventura Sousa Santos, diretor emérito do CES, e o antropólogo Bruno Sena Martins, investigador da instituição, que entretanto já negaram todas as acusações.

O Professor-Estrela, o Aprendiz, a Vigilante. Como três investigadoras relatam os assédios que terão Boaventura Sousa Santos como peça-chave