Em declarações à margem do ensaio de imprensa no Teatro Nacional São João (TNSJ), que vai ter o espetáculo em cena até 07 de maio, o encenador de 78 anos admitiu que, embora “não seja um sonho” a sua direção, a sua apresentação ocorre “num momento fantástico”.

Questionado sobre novos projetos, Ricardo País começou por assegurar que “não há mais nada” em vista, para depois concordar que está “sempre a dizer” que vai descansar, como afirmou, mas que acaba por se deixar tentar.

Ainda assim, admitiu, caso termine a sua carreira no teatro português após a apresentação da peça em quatro atos do nobel da literatura Eugene O’Neill, “estaria a fechar com chave de ouro”.

Sobre a peça com a duração de três horas que reúne em palco Emília Silvestre, Joana Africano, João Reis, Pedro Almendra e Simão do Vale Africano, e o que esta tem do encenador, Ricardo Pais respondeu que todos se reveem “um bocado” no texto.

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Todos nós tivemos na família quem teve problemas de álcool ou de droga e [há ainda] as disfunções de família que perpassam muitas, muitas famílias e isso não quer dizer que sejam uma justificação para fazer a peça”, respondeu.

Ricardo Pais revelou depois que a oportunidade de encenar “Longa jornada para a noite” nasceu numa reunião com o ator Albano Jerónimo e o encenador Nuno Cardoso, sobre outro projeto, tendo este último, atual diretor artístico no Teatro Nacional São João, lançado o desafo para que assumisse a direção do espetáculo, numa coprodução Ensemble — Sociedade de Atores e TNSJ.

“E eu pensei que isto já se arrasta há tanto tempo e que eu já tinha feito na escola, em Inglaterra, a cena dos dois irmãos no quarto ato, em 1971 ou 1972, e aceitei. Fui logo falar com a Emília [Silvestre]”, relatou.

O ator João Reis destacou o “significado simbólico depois de se ter estreado no [teatro] São João, com Ricardo Pais em 1996, para um reencontro 27 anos depois”.

Sobre o desempenho em palco afirmou tratar-se de “um texto difícil, duro, intenso (…) e que há de deixar marcas no público da mesma forma que deixa em nós”.

Sobre o facto de a peça durar quase três horas, argumentou que “os textos longos são um falso mito”.

Para a atriz Emília Silvestre, o texto “exige verdade” no desempenho dos atores, alertando depois para o que entende ser o essencial da peça: “Aqui não há fogo-de-artifício, balões ou efeitos especiais, são as palavras, são as relações humanas e isso fica sempre na memória das pessoas”.