O cónego João Aguiar Campos morreu esta quinta-feira aos 73 anos, vítima de doença prolongada. A notícia, que chega pouco mais de um mês após ter celebrado os seus 50 anos de ordenação sacerdotal, foi avançada pela Rádio Renascença.

Foi a 25 de março que celebrou os seus 50 anos de ordenação sacerdotal. Para assinalar as bodas de ouro deu uma entrevista à Agência Ecclesia, onde desejou ser recordado como uma pessoa que fez “alguma coisa de bem para alguém”. “Se me quiserem fazer algum elogio — ainda não o mereço — seria dizer-me: o padre João, sendo um padre secular, tornou-se num místico do cada dia. Um espantado místico de cada dia”, declarou.

O cónego, que gostava de ser tratado simplesmente por padre João Aguiar, foi, em janeiro do ano passado, condecorado por Marcelo Rebelo de Sousa com o grau de comendador da Ordem de Mérito, numa cerimónia no Palácio de Belém. À época, mostrou-se surpreso, mas disse sentir-se honrado: “Assumo esta honra com muita distinção, porque qualquer cidadão se sente honrado quando o chefe de Estado chama a atenção para os seus eventuais méritos”.

João Aguiar Campos nasceu a 23 de dezembro de 1949 em São João do Campo, no distrito de Braga, no seio de uma família grande (seis irmãos). “Cresci em São João do Campo e mesmo quando não vivi em São João do Campo, São João do Campo viveu sempre comigo”, afirmou quando celebrou os 50 anos de ordenação sacerdotal. “É a minha gente. Eu sei o nome dos caminhos, eu quase sabia o nome das galinhas ou do nome do boi ou da vaca a atravessar as ruas. Sei as casas que estão habitadas e as que hoje estão vazias encho-as com a memória de quem lá esteve”, acrescentou.

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Recebeu a ordenação sacerdotal em 1973 e era cónego do cabido de arquidioceses de Braga desde 2004. Não só da ligação à Igreja foi feita a sua vida, embora tenha considerado, em maio de 2021 em entrevista à Rádio Renascença, que a sua vocação era “efetivamente falar aos homens das coisas de Deus”.

Frequentou, em Navarra, Espanha, o curso de Ciências da Informação entre 1974 e 1976, ano em que começou a trabalhar como jornalista no Diário do Minho. Seria diretor desse jornal entre 1997 e 2005. Passou ainda pela Rádio Renascença, como jornalista, chefe de redação, diretor e presidente do Conselho de Gerência (entre 2005 e 2016). Foi ainda diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja, entre 2011 e 2016. Nesse ano recebeu o prémio de jornalismo D. Manuel Falcão — em conjunto com o cónego António Rego.

Foi também em 2016 que, por razões de saúde, começou a levar uma vida mais calma e regressou a Braga. Nos últimos sete anos publicou oito livros: Circunstâncias, Rio Abaixo, Descalço também se caminha, Morri ontem, Fragmentos, InTemporal, Flores de Feno e Cochichos. João Aguiar Campos considerava que a escrita o ajudava a “vencer a solidão”, mas também que era uma forma de partilhar o que pensava e o que sentia.