António Guterres, secretário-geral da ONU, recebeu o Prémio Europeu Carlos V, em Espanha, e alertou para necessidade de ser feito um trabalho “incansável” pela paz. Apelou à igualdade, ao fim do racismo e da xenofobia e lembrou que é preciso “defender a humanidade” e “rejeitar o discurso de ódio que explora as diferenças e mina a coesão territorial”.

“A guerra não é coisa do passado, as divisões persistem e crescem, que estamos a queimar a única casa comum, há famílias obrigadas a fugir de guerras ou de eventos climáticos extremos, numa escala não vista há décadas”, disse durante o discurso de agradecimento do prémio, em Espanha, onde pediu licença a Felipe VI “para falar em portunhol”.

Dedicou grande parte do discurso à guerra na Ucrânia e fez questão de recordar que os valores da criação da ONU e União Europeia nunca estiveram tão ameaçados como atualmente. Por essa razão, sublinhou, é preciso reforçar constantemente a paz, que disse ser “a estrela polar que nos norteia”.

“Hoje a paz é ilusória e está enfraquecida”, avisou o secretário-geral da ONU, enquanto lembrou que a invasão da Ucrânia está a causar um “sofrimento e degradação do país e do povo” e reiterando que “a paz nunca deve ser subestimada” — “Temos de trabalhar por ela de forma incansável.”

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António Guterres afirmou que “o discurso de ódio, a polarização, o racismo e a xenofobia espalham-se à velocidade de um clique” e que, perante o crescimento destes movimentos, é necessário “defender a humanidade e rejeitar o discurso de ódio que explora as diferenças e mina a coesão territorial”.

Também a pandemia foi apontada como responsável por ter exposto “fraturas chocantes” e, num olhar para a atualidade, Guterres referiu-se às diferenças entre ricos e pobres e à crise do custo de vida que “está a empurrar milhões para a pobreza”. Pediu um “mundo mais justo, mais inclusivo e digno que não deixe ninguém para trás” e deixou um aviso: “Europa é fronteira, não ilha.”

Marcelo: Guterres é o “melhor de todos nós”

Na entrega do prémio Carlos V, Marcelo Rebelo de Sousa fez um discurso quase totalmente em português e com rasgados elogios ao “grande compatriota” com quem recorda vivências desde “finais da adolescência” e que descreve como o “melhor de todos nós”.

“Não tínhamos sequer 20 anos… Ele é o melhor de todos nós, na força do caráter, no vigor da personalidade, capacidade de sonhar, liderar, mobilizar. Era o melhor na agudeza da inteligência, na excelência da carreira académica, no brilho da oratória, na ilimitada extensão do conhecimento, na perceção dos factos, das situações, das pessoas. O melhor na humanidade”, destacou o Presidente da República.

Recordando um António Guterres “imparável na defesa dos seus ideais, na defesa de horizontes universais, na luta pela Europa”, Marcelo realçou que já na altura era “único e singular” e “nele já estava em plenitude o europeísta, o alto comissário para os refugiados, o secretário-geral das Nações Unidas” — e sempre foi um “defensor do multilateralismo e da paz”.