Donald Trump e o juiz do Supremo Tribunal de Justiça Clarence Thomas foram dois dos republicanos que receberam cartas com um pó branco não letal e ameaças. Políticos do Estado americano do Kansas foram os primeiros a receber o conteúdo suspeito, estando o FBI a liderar a investigação. Vários políticos do estado do Tennessee e do Montana acabaram também por receber a correspondência com esta substância que faz lembrar o medo de 2001, quando cartas com pó branco contendo a perigosa bactéria anthrax circularam nos EUA.

“Recebi um telefonema do nosso xerife, Brian Bellendir, que disse para ter cuidado com o meu correio. Descreveu-me um pacote suspeito e alertou para o facto de poder conter uma substância branca”, revelou Tory Marie Blew, da Casa dos Representantes de Kansas, na sua página do Facebook.

Um outro congressista do estado localizado no midwest dos EUA sublinha ao El Español que recebeu a carta em sua casa com duas folhas de papel no interior. “Quando desdobrei uma delas, encontrei uma substância branca no interior”, disse Ken Rahjes.

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O que parecia ser uma carta normal acabou por ser uma carta enviada com pó branco. É muito triste quando o nosso neto não consegue ir ao correio”, explicou o republicano Lewis Bloom também nas redes sociais.

O envio de cartas anónimas com substâncias não identificadas nos EUA tornou-se notícia em todo o mundo em 2001, após o ataque terrorista às Torres Gémeas. Cinco pessoas morreram vítimas de inalação do pó, que nesse caso continha a bactéria anthrax.

“Os testes preliminares efetuados indicam que a substância é presumivelmente negativa quanto a substâncias biológicas de perigo comum”, refere uma publicação do Kansas Bureau of Investigation, que analisou a substância em laboratórios. O FBI reafirmou que os testes laboratoriais, que continuam a decorrer, não indicam qualquer risco para a segurança pública.

No Tennessee, o sexto andar do edifício Cordell Hull, que alberga escritórios da Câmara dos Representantes, teve de ser inicialmente colocado em lockdown na quinta-feira após alguns políticos terem recebido a correspondência com uma substância não identificada, segundo o Tennessee Star. As autoridades tiveram de usar fatos hazmat para proceder a uma devida inspeção do local, de acordo com o canal televisivo WFMZ-TV.

Jennifer Easton, porta-voz republicana do Tennessee, refere que as cartas “continham ameaças óbvias feitas por um ativista liberal que visava republicanos”.

Dois senadores republicanos do Montana também foram vítimas. O governador do Estado referiu ter recebido “informações perturbadoras de cartas anónimas e ameaçadoras contendo um pó branco”.  “O Estado irá disponibilizar todos os recursos necessários para apoiar os agentes da autoridade nas suas investigações”, disse Greg Gianforte no Twitter.

O website da Legislatura do Kansas divulga vários detalhes pessoais sobre os políticos, nomeadamente a morada residencial e o número de telemóvel, sendo fácil para os suspeitos enviarem o material.

Rahjes acredita que os republicanos foram vítimas destas cartas por anularem vetos da governadora do Kansas, Laura Kelly, sobre projetos-lei para transgéneros. A legislatura, controlada por uma maioria de republicanos, aprovou o impedimento deste tipo de atletas participarem em provas desportivas do sexo feminino. Uma outra lei, que exige a utilização de casas de banho e outros locais públicos com base no sexo à nascença, foi também aprovada.

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“O discurso público desapareceu. Não queremos ter conversas difíceis, mas sim tudo a preto e branco. Agora, as pessoas dizem: ‘Se não concordas, vou usar a violência ou a intimidação para conseguir o que quero'”, explicou o político.

As autoridades ainda não conseguiram precisar a identidade do responsável, mas o remetente já se apelidou de “odiador secreto”. “Há uma mensagem na carta, não é muito clara, mas pretende ser ameaçadora”, sublinha a republicana Molly Baumgardner ao canal KMBC, revelando o conteúdo da mesma onde é possível ler: “É importante que te engasgues na tua ambição”.

“Toda a gente tem de se preocupar e levar estas e outras ameaças a sério”, sublinha.

A lista de destinatários não inclui apenas republicanos, segundo adiantou fonte policial à ABC News. Em abril, o procurador responsável pela investigação que levou à acusação de Donald Trump, recebeu pelo menos duas cartas contendo pó branco. A substância da carta dirigida a Alvin Bragg também não era perigosa.

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