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Vladimir Putin usa duplos? A questão não é nova e, esta terça-feira, teve mais um capítulo. Oficialmente, não há registos oficiais de que tal já tenha acontecido — poderá nunca haver. No entanto, novas revelações feitas por Andrei Plesovsky, um artesão russo baseado em Moscovo, parecem confirmar que os serviços secretos russos trabalham várias vezes em operações que visam “caracterizar” as principais figuras do regime do Kremlin, incluindo o próprio Presidente. “Fiz máscaras para funcionários do FSO [Serviço de Proteção Federal] que protegem as principais figuras do Estado, bem como para os duplos das primeiras figuras do Estado”, revelou ao jornal espanhol El Mundo.

A conversa com o artesão foi tida a propósito de um suposto trabalho para o Estado russo; Plesovsky não sabia que estava a falar com jornalistas ocidentais. Os repórteres do El Mundo fizeram-se passar por agentes do FSB (o Serviço Federal de Segurança russo, sucessor do KGB) e, sob pretexto de elaborar um dossiê acerca do artista antes de uma reunião presencial na sede das secretas russas, fizeram várias perguntas reveladoras da forma como o Kremlin opera para proteger (e, nalguns casos, esconder) os seus líderes.

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Entre outras coisas, Plesovsky, que afirma ter começado a trabalhar para o Kremlin em 2012, confirmou que o regime emprega figurantes para fazerem de público durante as aparições de líderes políticos, que máscaras ultrarrealistas são usadas por agentes dos serviços de segurança para se deslocarem em vários territórios disfarçados de civis e, em alguns casos, até para caracterizar duplos de várias figuras-chave do regime.

Tanto quanto sei, funcionários do FSO viajaram em várias ocasiões com as minhas máscaras e ninguém no estrangeiro jamais notou que tinham assumido identidades diferentes”, garante.

Quando questionado pelos supostos agentes secretos russos acerca dos seus trabalhos para Putin, o artesão não revela detalhes. “Vocês sabem que esses dados são secretos. Firmei vários acordos de confidencialidade com o FSO”. Ainda assim, Plesovsky confirma ter recebido, ao longo de mais de dez anos, pouco mais de 19 milhões de rublos (equivalente a cerca de 188 mil euros) para uma série de trabalhos para o Estado. E dá uma referência: “Contactem Aleksey Rubezhny, ele falar-vos-á do meu trabalho”.

Rubezhny é o subdiretor do FSO  e um dos principais responsáveis pela segurança do Presidente russo e das principais figuras do Kremlin —  tanto assim é que já por várias vezes foi visto atrás de Putin em aparições públicas, a garantir a segurança do Chefe de Estado. Ainda que sem oferecer detalhes, Plesovsky garantiu que a cúpula do Presidente tem ficado “satisfeita” com os seus produtos.

Se o artesão fala com cautela acerca dos trabalhos para Vladimir Putin, no que toca ao líder do grupo Wagner já não tem tanto cuidado. “Suponho que posso mencionar agora ao telefone Yevgeny Prigozhin, já que os meus produtos foram encontrados na sua casa e esta chegou aos meios de comunicação”.

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A referência de Plesovsky confirma a autoria dos vários disfarces usados pelo líder mercenário, cujas imagens correram mundo no último mês, aquando de uma rusga das autoridades à sua mansão, parte das ações movidas pelo Kremlin contra Prigozhin na sequência da sua tentativa falhada de rebelião armada.

“Ele tem muitos inimigos, de modo que tivemos de mudar a sua aparência para que se movimente de forma incógnita nos vários países onde a Wagner opera”, sustenta o artista para explicar as várias imagens em que Prigozhin surge nos mais variados disfarces — de coronel líbio a funcionário ministerial sírio ou diplomata de Abu Dhabi.

Prigozhin, de resto, seria até há pouco tempo um dos clientes habituais de Plesovsky, para disfarces e não só. Há relatos de pelo menos duas situações em que o líder dos Wagner terá utilizado um duplo, na Lituânia, facto que, segundo o El Mundo, consta mesmo de um relatório do governo daquele país sobre os principais riscos à segurança interna.

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Mas, se há quem ache que os disfarces conhecidos de Prigozhin não resistem ao escrutínio, Plesovsky garante que tem outros trabalhos bem mais complexos, com as fotografias que o comprovam. “Posso produzir cerca de dez máscaras por mês no meu atelier. (…) Se só derem uma olhadela rápida, não notariam nada de suspeito mesmo que estivessem a 20 ou 30 centímetros. Se virem de mais perto, então, a uns 15 centímetros de distância, poderiam suspeitar de alguma coisa”, revelou o artesão ao El Mundo.

No fundo, diz, é tudo uma questão de detalhes. “Se tiver de ajustar [a máscara] ao retrato de alguém, demoro mais tempo; se esta incluir barba e cabelo, o prazo também alarga (…) Quanto ao preço, depende também dos detalhes: o cabelo mais curto ou a qualidade dos dentes fazem diferença”. Plesovsky trabalha com materiais que vão desde o pelo humano e animal a tecido e a silicone, para produzir um efeito realista.

Além dos disfarces e das máscaras, diz também já ter fornecido “almofadas” para os dedos que permitem a operativos russos deixar impressões digitais falsas numa série de situações. “São particularmente úteis em missões clandestinas” afirma, antes de uma “reunião presencial” que nunca veio a acontecer — numa entrevista que, decerto, não terá agradado aos verdadeiros agentes secretos russos.

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