Em 2022, a Lamborghini decidiu que era chegada a ocasião de descontinuar a produção do Aventador, o seu coupé mais potente e exuberante (e caro), de forma a preparar a introdução a prazo do Revuelto, o seu sucessor ainda mais potente e veloz, cortesia de uma mecânica híbrida plug-in. Mas as contas saíram-lhe furadas, uma vez que um problema num navio de transporte, o “Felicity Ace”, obrigou os italianos a voltar atrás e fabricar mais 15 unidades.

O “Felicity Ace” foi o navio Ro-Ro (de roll-on/roll-off, para facilitar a carga/descarga de veículos) que ardeu ao largo da ilha do Faial com 4000 veículos a bordo, em Fevereiro de 2022, devido a um incêndio originado na bateria de um dos automóveis eléctricos que transportava. Além dos danos provocados pelo fogo na embarcação e nos veículos a bordo, o navio acabaria por afundar, apesar dos esforços da marinha portuguesa, levando consigo os automóveis, todos eles do Grupo Volkswagen, num total avaliado em 366 milhões de euros.

Navio Felicity Ace continua a arder e à deriva ao largo da ilha do Faial

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Entre as 4000 vítimas de quatro rodas, 85 envergavam emblema Lamborghini, sendo que a maioria era Urus. Este SUV continua em produção, pelo que o construtor italiano teve apenas que informar os clientes que o seu carro seguiria no barco seguinte. Mas 15 eram Aventador Ultimae, modelo entretanto descontinuado. Ora, isto forçou a Lamborghini a recuperar a linha de produção que já tinha começado a ser adaptada ao Revuelto para produzir mais dezena e meia de Aventador, algo que a marca não contava fazer, mas que era forçoso para honrar as encomendas dos clientes.

O interior de um dos porões do “Felicity Ace”, onde se podem ver alguns dos veículos a bordo, que largaram de Emden, na Alemanha, rumo a Davisville, Rhode Island, nos EUA

Além dos 85 Lamborghini, a bordo seguiam também 189 Bentley. O construtor britânico entregou 50% dos modelos que foram fazer companhia aos peixinhos logo na primeira metade de 2022, sendo que os restantes seguiram o mesmo rumo antes do final do ano. A Porsche perdeu 1100 unidades, alguns dos quais eléctricos, o mesmo acontecendo com a Audi (cerca de 1800 unidades), com a maior fatia de veículos a pertencer à Volkswagen.

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